Meninos Bonitos Também Têm Medos

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A mãe de Jonas chorara como no dia que descobriu que seu marido havia cometido suicido. 

Talvez ela tenha chorado um pouco mais por perceber que se deixara levar pela esperança de que dessa vez seu coração não seria partido; ela pensou que, se a ilusão fosse um rio, ela seria o barco que segue a corrente não importa o fim, a queda. Ao lado dela, tentando explicar toda a confusão, Alex. Ele também chorava, uma mistura de culpa e raiva, ele não entendia como tudo havia acontecido, diferente de Jonas. 

Alex tentou pegar na mão dela três vezes e nas três tentativas, Alessandra puxou sua mão para mais perto de si. Ela não suportaria pegar na mão dele de novo, se quer conseguia encará-lo; o peito dela doía como se alguém (ele próprio) tivesse enfiado uma faca e estivesse apertando o cabo mais, mais e mais fundo. Mesmo não querendo, as lembranças dos dois juntos, do sexo entre as escondidas, das juras sussurradas e até mesmo da troca de mensagens. As lembranças foram em ondas fortes na cabeça dela, a deixaram zonza. Ela queria passar uma borracha, em algum momento quando olhou com segundas intenções para o treinador do seu filho, queria ter excluído a ideia, queria voltar no tempo e socar sua própria cara.

- Alessa... - Balbuçou Alex. Ele queria encontrar as palavras certas para começar um pedido de desculpas, mas não sabia como dizer que estava traindo ela desde o começo do relacionamento.

- Nem tente. - As palavras saíram rasgando a garganta da mulher. 

Alex encolheu ainda mais os ombros, o peso em suas costas tinha aumentado desde a manhã, primeiro eram os olhares acusatórios, depois as mensagens, depois sua demissão e agora, a mulher que ele jurava amar está terminando tudo. Alex teria que voltar para sua cidadezinha no interior, tria que ficar junto dos seus demais irmãos que abusaram da sua sanidade por longos anos em sua adolescência, teria que suportar a pressão familiar e o fato de ser o caçula, o mais fraco, o que apanhava dos irmãos mais velhos e o fato de já ser de maior não impedia isso. Ele voltaria ao passado, sofreria, mas não queria. 

Antes que Alessandra expulsasse sua frustração, a porta da sua casa fora aberta e dela, entrando e conversando, seu filho e a namorada. Ela sentiu, naquele momento, uma inveja de como era o relacionamento dos jovens, eles pareciam ser intermináveis, sólidos. Ela só não sabia da história toda. Conheceu George na adolescência, para ela fora amor a primeira vista, casou-se com ele, teve seu filho e uma casa boa, fora uma boa parte da sua vida que ainda a fazia sorrir. Jonas parou perto da sala onde os dois estava conversando.

Alessandra não quis deixar evidente que estivera chorando, apesar de ser bem obvio. 

- Oi. - Quem disse fora Tabita. 

- Olá querida, vocês vão... Subir?

- Sim, vamos...

Jonas mal conseguiu encarar seu treinador, tampouco sua mãe. Pegou na mão de Tabita e a levou corredor adentro, em direção ao seu quarto. Ainda na sala, Alex, suspirou e perguntou se poderia abraçá-la. Alessandra olhou para ele e perguntou:

- Se ninguém nunca tivesse descoberto, você ainda estaria com ela, não é?

- Não! - Sim, era a resposta que ele engoliu.

- Você já pode ir. 

- Aless...

- Meu filho está em casa agora. Nem comece. Nem tente. 

Alex não tinha nada planejado quando chegou, pensou que teria um bom plano na manga, algum argumento, mentiras que Alessandra engoliria mas ao ver como a mulher estava perdeu todas as forças que tinha para conseguir mentir. A traição era um decisão, seguir o caminho traria consequências, os homens somente as ignoravam para terem dez minutos de prazer. Logo a realidade voltaria, mas homens criam sua própria realidade opressora. Eles matam e morrem pelas suas ações.

Alex levantou-se do sofá. Ele queria chorar e ficar de joelhos, queria humilhar-se. 

- Vá. - A voz decidida de Alessandra o fez andar até à porta e sair da casa, deixando-a sozinha para chorar, para agarrar os cabelos e gritar com o rosto enfiado em uma almofada. 


No quarto, Jonas e Tabita se encaravam. Ela falou primeiro.

- Não posso continuar fingindo ser sua namorada.

A voz dela fora a única coisa que rodou na cabeça de Jonas por um momento, logo depois veio o medo, então mais medo do que ele achava ser possível sentir; seu estômago compartilhou do medo, se retorceu, doeu, sua boca assumiu um gosto amargo e metálico que fez sua língua ficar dormente. Ele queria pensar em algo mais inteligente, mas falou:

- O que eu faço?

Tabita mordeu o lábio inferior, o que queria dizer era pesado demais e não existia eufemismo para moderar. Ela decidiu falar mesmo assim, por mais que visse a palidez no rosto do garoto, por mais que isso o assustasse.

- Tem que se assumir. 

- Não posso - Ele foi logo dizendo. - Não me aceitariam no time, minha mãe...  

- Não tem como fugir disso. - Tabita o cortou. Ela abaixou o tom de voz ao lembrar que Alessandra estava na sala. - Você já tentou dizer em voz alta, pelo menos uma vez? - Quando Jonas negou, Tabita pediu para ele praticar com ela, agora.

- Não... E se minha mãe escutar?

- Não vai. Abra a boca, deixe as palavras saírem. 

- Eu... Sou... Eu sou... Minha nossa isso é difícil! - Ele se recompôs, tossiu e lambeu os lábios ressecados. - Eu sou bissexual. Pronto, está feliz?

- Muitissimo. 

- Não foi fácil.

- Desde quando é? - Ela suspirou e pegou seu celular. - O desafio vai ser contar a Gina, a sua mãe. 

- Gina tem uma queda por mim, não tem?

- Tem. Mas ela consegue disfarçar bem. 

Jonas não sabia se estava preparado para contar a verdade a todos. Não sabia se teria coragem. Ele planeja contar isso depois do campeonato, quando vencesse, quando todos o adorassem nem mesmo ligariam para um simples fato, certo? 

Às cinco e meia Tabita fora embora. Alessandra estava no banho. Jonas estava lendo A Dança da Morte, Stephen King, quando olhou pela janela e viu Malcom andando até um muro que estava pichado há anos, algumas inscrições de alunos que furavam suas aulas e iam até o final da rua comprar tinta spray, uma dos desenhos era um pênis mal feito.

Malcom digitou algo no celular e em menos de quatro minutos alguém apareceu atrás dele, Jonas não conseguiu ver quem era, mas sabia que Malcom estava beijando alguém. 

Por minutos, Jonas tentou ver quem era, até descobrir que Malcom estava sozinho novamente. Eles se encararam por cinco segundos, os olhares sustentando um ao outro, até que Malcom não fez nada a não ser se virar e ir embora.

The PerfectionistsOnde histórias criam vida. Descubra agora