A Tal Da Inocência

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Theo se aproximava com uma cafeteira. 

O Professor aposentava seu pseudônimo quando estava em público. 

- Mais café? - Perguntou o ele. Theo trabalhava como caixa, mas a Lowen's não tinha cargos específicos, todos os funcionários eram um faz-tudo. 

- Sim. 

- Você podia ser mais gentil. - Retrucou o atendente enquanto servia o café ao Professor. Ele não sabia com quem estava falando. Mas Theo não era bobo, ele tinha uma boa memória fotográfica e uma hora iria precisar dela. 

O Professor nada falou. 

- Idiota. - Resmungou Theo. 


Minutos depois a Lowen's ficou menos cheia. O Professor pegou seu computador da bolsa, um velho notebook, e o abriu. Depois de alguns segundos colocou seus fones de ouvido e acionou o play.

Tenho medo de ser eu mesmo. Porque sempre penso que eu não seria aceito, sei que não seria. Existe uma linha no mundo e eu estou do lado certo, mas se abrir minha boca para alguém... Sei que serei excluído.

Disse a voz de Jonas.

Eu tenho medo de ser como meu pai.

A voz de Gina era sofrega.

Meu maior medo é falhar, na vida.

Era a voz de Alice Sloan, ela estava a beira das lagrimas.

Alguns segundos se passaram e por puro contentamento, o Professor pegou seu celular e ativou o áudio que Sagan Casey o enviou depois do acidente com Gustavo. O áudio era o favorito.

Meu maior medo é morrer sem saber que você é, babaca.



Mais tarde, às três e quarenta, Dana Booker estava sentada à mesma.

- Acho bom ser importante. - Disse ela, destacado suas linhas de expressão com um franzir de testa. Estava sem batom e o caso, as teorias e os suspeitos a estavam desgastando, mas ela convencia a si mesma de que esse não era o maior caso que pegara. Cada um se enganava de um jeito.

O lugar mudou drasticamente desde a manhã; o sol efêmero, o silêncio bem-vindo, o cheiro de chá que substituiu o cheiro de café forte da manhã. 

O Professor ficou em silêncio. 

- Tem me contado coisas importantes, mas nenhuma me levou ao exito... Coisinha. Olhe só, não quero que me procure mais. Seus depoimentos foram detalhados e nada breves. Isso não foi um elogio. A diretora está contando comigo, meu supervisor também. Interroguei a maioria dos alunos e eles...

- Estavam mentindo. 

Dana o olhou como se quisesse dizer "Não me diga, gênio".

- Aquele grupo... O de Jonas Flyn.

- Você parece procurar por aquele grupo a todo segundo. 

Um dar de ombros breve. 

- Só acho eles intrigantes. 

- Vi você com eles. - Lança Dana sem ressentimento algum. Ela tinha um comportamento de um tigre; calmo quando estava avaliando, rápida quando atacando. 

O Professor sorriu. Ele não estava exatamente com o grupo, mas estava perto o suficiente. Claro que Dana viu, o Professor fingiu uma surpresa maravilhosa, um floreio encantador que era puramente deboche.

- Já os avaliei, é claro que estão mentindo. 

- E o que vai fazer?

- Nada. 

O sorriso desmanchou-se.

- Nada? - Repetiu friamente.

Dana ficou em silêncio.

- O que você quer? Sinceramente, detetive? 

- Quero saber porque aqueles jovens atraem tantos corpos para si.

O Professor pensou. O primeiro corpo fora de Tyler, o segundo de Gustavo. Os seis suspeitos já deveriam estar sendo presos, mas isso não aconteceu, os pais deles foram chamados e juntos, interrogados. Dana não estava fazendo seu trabalho direito, estava deixando vários pontos passarem despercebidos e isso agradava ao Professor, afinal, os pontos estavam ligados ao Professor. 

Mas a verdade sempre aparecia a não ser que você calassem que a tivesse. O jogo estava divertido demais para ser parado e isso não iria acontecer. 

- Tenho que ir, sou ocupada demais para ficar de papo com alunos.

- Como quiser. - Respondeu. 

Dana saiu.

O Professor levantou-se da mesa e partiu. 

Já no próprio lugar, o Professor olhou para a noite e sozinho, riu.

- Começou a temporada de caça aos mentirosos - Falou sozinho - E eu estou caçando.


The PerfectionistsOnde histórias criam vida. Descubra agora