Sagan caminhava ao lado daquelas pessoas lentamente, seus pés forçados a dar mais e mais um passo, os ombros parecendo chumbo. O celular estava esquentando parte da sua coxa direita, ele foi o único que guardou o celular, os outros ainda estavam com os seus nas mãos aguardando mais uma ligação sinistra desde que saíram da escola, desde que decidiram se afastar da sala de que estava Dana Booker que, eles não sabem, os viram.
Antes dos celulares tocarem tinham concordado em conversar com a detetive, depois com a diretora. Então os celulares dispararam, e o plano foi silenciado, colocado debaixo do tapete. As oito pernas dispararam para longe dos portões e quando Sagan passou pelas grades negras, se arrepiou. Agora, andando em direção às mesas do pátio ao ar livre, o arrepio pela espinha vinha a cada cinco ou dez segundos, arrepiando os pelos do seu braço e das suas pernas também, deixava sua língua coçando e a nuca suada. Jonas sentou-se e colocou sua bolsa em cima da mesa de gesso pintada de vermelho e, pintado em cima da cor luxuosa, um jogo de damas descascando pelo tempo.
- Isso só pode ser uma brincadeira, William ou Isaac, certeza.
Havia quem concordava, mas Sagan não. Gina sentou-se ao lado de Jonas, Alice sentou à direita, então Sagan sentou-se de frente para Jonas. Seus olhares se cruzaram por um misto de segundos. Outro arrepio pela espinha.
- Pode ser. - Concorda Gina. - Mas... Ele... Ou ela, seja lá quem for, disse que sabe guardar segredos e isso quer dizer que ele sabe o que Taylor disse no meu quarto?
- Talvez só esteja tentando nos manipular. - Disse Alice colocando o cabelo dourado atrás da orelha. - É fácil manipular pessoas que estão com medo e acabamos de ver alguém morto.
Sagan manteve-se calado enquanto os outros falavam sobre como uma manipulação era feita, de como era planejadas, falando sobre a possibilidade de o Professor ser um assassino em série ou apenas um aluno com técnicas em informática que queria brincar com as caras deles.
- Talvez seja para um vídeo no YouTube. - Comenta Gina.
Parecia hilário se Sagan estivesse com disposição para brincadeira. Mas Luke ainda não respondeu suas mensagens e nem apareceu nas aulas, ou no seu trabalho. Foi enquanto pensava em seu namorado que Sagan sentiu algo em sua perna, algo quente tocando sua pele, achou ser algum gato de rua querendo carinho e olhou. Mas era a perna de Jonas. O suor frio brotou acima dos lábios de Sagan enquanto ele ficava tenso e alerta como uma raposa, mas quieto e mudo como uma estátua e se permitiu deixar o que quer que esteja acontecendo, acontecer. A perna do garoto de olhos azuis raspou na dele, depois o toque sumiu, depois voltou e cruzou seus calcanhares com meias e tênis e ficou assim por mais algum tempo até Gina chamar a atenção de Sagan, chamando-o de garçom.
- O quê?
- Acho que deveríamos ser francos aqui. - Gina repete tentando manter a paciência. - Por isso, vamos...
Sagan observou as bochechas da jovem ficar vermelhas, quase totalmente seu rosto corou, depois de um suspiro irritado Gina falou em um fôlego só:
- Todos sabem que meus pais estão fugindo, mas eu ainda estou aqui e sim, eu tenho vergonha por eles e sim, estou tentando a cada dia ignorar isso para me manter focada em desenhar, em fazer algo que prove que sou... Realmente útil.
A princípio nenhum deles entendeu o que ela estava fazendo, porque estava falando tão deliberadamente sendo que eles não têm tanta intimidade, mas depois Alice captou e resolveu falar.
- Eu amo meu pai, mas ultimamente ele tem se tornado um peso enorme e fico preocupada constantemente com ele. Sim, ele... É um viciado... Ele foi viciado, está se tratando agora e temos uma vizinha que nos ajuda. Não sei se tenho coragem de falar isso de novo.
Logo em seguida Sagan reuniu a coragem que nem sabia que possuía e disse:
- William e a turminha dele faziam bullying comigo mesmo antes que eu me assumisse, meus pais dizem que não ligam, mas sei que ligam o bastante para me proibir de levar Luke em casa, mas isso não é tão importante. Luke não fala comigo. Não sei se ainda estamos namorando.
Jonas retirou sua perna do lugar que estava e a cruzou. Manteve-se longe de Sagan depois que ele terminou de falar. Alguns instantes de silêncio se passaram e todos olharam para Jonas que se manteve calado e batucando os dedos no calção jeans surrado.
- Você não vai falar nada?
- Não tenho nenhum segredo, sou um livro aberto... Todo mundo sabe disso.
- Todo mundo tem segredos. - Desconversa Alice usando o que Sagan chama de Olhar Avaliador, na direção de Jonas. - Segredos são a base da maioria das coisas.
- Como o quê? - Sagan pergunta interessado.
- Como... Amizades. Profissionalmente, com a família. Mantemos segredos, só isso. Então, Jonny, qual seu segredo?
Gina riu pelo apelido.
Jonas não achou graça.
Sagan ficou se perguntando qual seria o(s) segredo(s) de Jonas. Mas não iriam saber hoje. Dana Booker pareceu surgir a alguns centímetros deles e caminhou na mesma direção, os quatro ficaram tensos pelos minutos anteriores e tentaram manter a calma. Dana Booker era uma mulher alta, de pele negra e cabelos escuros cacheados presos em um coque apertado. Sempre andava com um bloco de notas no bolso esquerdo, no direito estava um celular e um batom vermelho, todos guardados no seu sobretudo bege que destacava seus ombros largos. Era uma mulher imponente que tinha um olhar capaz de derreter aço, alguns diziam.
- Podemos conversar?
A voz dela foi a única coisa que ressoo por perto, os outros alunos que estavam jogados nas outras mesas pareceram sumir.
Dana Booker olhou para cada membro daquela mesa e pensou: Um grupo peculiar.
- Nenhum de vocês passou na minha sala hoje, talvez tenham esquecido. O que podem me dizer daquela noite? Alguém estava por perto? Ouviram algo?
Os quatro celulares apitaram uma, duas vezes. Jonas olhou sua caixa de mensagens e prendeu a respiração. A mensagem que Gina recebeu era de Tabita avisando que estaria na aula de redação por mais tempo, ela apagou a mensagem assim que chegou. A mensagem de Alice era apenas uma piada do seu pai, mas não havia tempo para piadas agora. Sagan não pegou seu celular, pois Dana já tinha sacado o bloco de notas e uma caneta azul, a mulher olhou de novo para os integrantes do grupo e Sagan lembrou-se que, se o olhar de Alice era avaliador, o de Dana era assustador.
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The Perfectionists
Ficción GeneralUm assassinato foi cometido. Alguém com o codinome de Professor, sabe de tudo. Quatro jovens precisam descobrir o que aconteceu naquela noite se quiserem ter suas vidas em liberdade, sendo que não sabem ao certo o preço disso.