CAPÍTULO XII

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Dois anos e seis messe antes

Marjorie Pinheiro

_Por que você está andando tão rápido?

_Começo a trabalhar no laboratório hoje.

_Sim, sim, você já me disse isso, mas não precisa ter tanta pressa.

_Claro que preciso, ele pode mudar de ideia se eu chegar atrasada.

_Antes você poderia me dizer o que acha de eu colorir todo o cabelo? Meus pais parecem que não ligaram muito dessa vez.

Meu queixo caiu. Ela queria que ele caísse? Não faz nem um mês que ela pintou o cabelo de verde.

_Pera – comecei a dizer, puxando seu braço para que ela me olhasse nos olhos e fosse sincera. - Isso não é por causa daquele garoto que disse que essa cor da ânsia de vomito, certo?!

_Garoto? Pelo amor da deusa, ver os meus pais irritados é muito melhor do que agradar aquele imbecil.

_Você não acha que eles estão tendo a reação contrária para ver se você desiste?

_Ação contrária?

_É. Tipo psicologia reversa.

_Eu não tinha pensado nisso. Vamos ver se eles reagem da mesma forma ao verem a casa toda pintada.

_Lauret! - Exclamei, surpresa por sua audácia e falta de juízo.

_Qual é?! A escola está superestimada e precisamos de alguma diversão lá em casa.

Ela afirmou tão carismática que quase acreditei que aquilo era necessário. O que ficou entre o quase e a realização do verbo crer foi cinco dias depois ouvir sua mãe gritando há três quarteirões de casa. Que por sinal, é onde o esperamos o ônibus e a centena de pessoas que estavam ali correram para ver se tinha sido algo mais grave.

Eu estava anotando tudo o que Gael falava e perto do umbral da porta um rapaz estava me observando. O Gael acabou de se formar em medicina e disse estar tentando uma especialização mais profunda em inseminação. Sua simpatia e rosto confiante me faziam querer saber o que o motivou a seguir essa área, mas o ouvir perguntando o nome de todos os instrumentos de bancada estavam me irritando.

_Sabe o que é esse aparelho?

_Uma centrífuga. Serve para separar as fases de diferentes densidades de determinado líquido. Conforme a mistura ocorre a parte líquida e sólida se separam. Essa é especificamente uma centrífuga para micro hematócrito, um exame que identifica a quantidade de glóbulos vermelhos em uma amostra.

_Você até que é muito esperta Marjorie.

E porque eu não deveria ser? Eu tive vontade de perguntar. 

Porque ele usou o até? O que o fazia acreditar que eu não fosse esperta? 

Apenas fiz uma linha fina nos lábios como quem finge timidez, com o intuito de controlar a minha imensa vontade de abrir a boca.

Assim que Gael se retirou para uma reunião dirigi a palavra ao estranho.

_Perdeu alguma coisa aqui? - Perguntei rudemente.

Ele continuou me encarando, porém os seus lábios continuaram fechados, ignorando a pergunta que anteriormente eu havia lhe feito.

_Então além de encarar as pessoas você finge que elas não estão falando com você? - Perguntei, sem ligar se ele me ignoraria novamente.

Sei que ele fala a minha língua porque o ouvi cumprimentar o doutor Gael na saída. Será que ele está incomodado comigo aqui e por isso não fala nada apenas fica observando até que eu me toque?

_Patético... - Eu disse em voz alta. Mais como conclusão do que eu estava pensando do que para ele de fato.

Ele voltou sua atenção para o que estava fazendo e de hora em hora me observava por um curto espaço de tempo. Eu sentia quando o seu olhar iria pousar em mim e imediatamente ficava tensa. Minha mão dava uma leve tremida e nessa hora ele desviava o olhar, quase como se quisesse demonstrar que não viu ela tremer. Faz uma semana que ele age da mesma forma e eu já estava me acostumando com o ritual.

_Me desculpe! Eu estava irritada com o você até que é esperta do doutor e descontei em você. Esperta! - Explodi. -Você acredita que ele disse isso? Eu não acredito. - Afirmei balançando a cabeça em negação. - Eu sou genial, o cérebro do meu colégio, mas esperta do que vocês dois juntos.

Ele pareceu assustado e ligeiramente confuso.

_Desculpas de novo! Eu só não consigo aceitar menos do que sou.

_Você pede muitas desculpas. - Ele disse, finalmente. Fazendo um arrepio ainda mais forte percorrer a minha nuca conforme avançava para o final da frase. - E não deveria. - Disse virando mais uma vez. - Até eu já percebi o quanto você é inteligente. - Revelou, dando um enfoque no até com o tom de deboche, o que me fez dar um risinho. 

Como As Estrelas Morrem: A Caixa De PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora