CAPÍTULO VII

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Dias Atuais

Kaíque García

Eu havia acabado de acordar quando vi Smile sendo arrancada do quarto de hospital que eu estava. Tentei gritar, soltar os fios que me conectavam as máquinas, correr para abraçá-la e dizer que tudo ia ficar bem, mas olhei em seus olhos e quase paralisei... não havia mais nada neles. Nenhuma raiva ou dor, apenas indiferença. Quando eles piscaram pela última vez antes de adentrar no elevador, vi um lampejo de algo que poderia ser identificado caso meu corpo não se rebelasse contra mim mesmo. Com muito desejo de que toda aquela reação fosse ao contrário, me entreguei a escuridão.

_Deveria fazer menos alarde quando pensar em nos dar um susto da próxima vez.

Abri o olho direito que ainda estava fechado e esperei a pontada de dor, mas ela não veio. O único desconforto que senti provinham da luz florescente acima de mim que logo fora substituída pela expressão de Taylor. Seu rosto estava calmo e sereno, como quem acorda no horário certo e seu único problema é a falta de ovos fritos no café da manhã. No entanto, sua postura era rígida, tensa e que me deixava desconfortável a cada segundo. Agora não consigo definir se ele estava sendo gentil ou era apenas o seu sarcasmo ácido voltando a assumir a verdadeira forma de Taylor Benson.

_Tem certeza? Acho que daquela vez em que Smile caiu da sua moto supera tudo isso.

Sua mandíbula cerrou-se. Então pelo visto era o velho sarcasmo, grande combatente das batalhas verbais.

_Taylor sem h, esperando-me acordar ao lado de uma cama de hospital. Não sei não, acho que eu estou muito bem. Imagina só o que as garotas não dariam para estar no meu lugar. Mas devo te informar que ao contrário do que os outros pensam eu não jogo nesse time. - Tentei mais uma vez.

Ele tirou os cabelos reluzentes que caiam na testa, ajustou a postura e com as duas mãos nos bolsos da calça de sarja preta disse:

_Não é hora para gracinhas Carlos Henrique. - Alertou.

_Jura? Porque ser rude agora não vai ajudar em muita coisa.

Ele pareceu refletir por algum instante.

_Desculpas, eu só estou tentando entender o porquê de você quase ter morrido e de Smile ter terminado comigo daquela forma.

_Agora sou eu quem tem que te pedir desculpas, porque esse assunto diz respeito a ela e se você quiser saber terá de perguntar a ela. Não quero ficar no meio de vocês dois.

_Acho que é tarde demais para você sair do meio de nós dois, visto que o nós dois nem existe mais.

_Você não sabe disso ainda.

Taylor veio em minha direção e sentou novamente na poltrona de couro.

_Ela não precisa falar Kaíque... vi a forma que ela me olhou. Eu a levaria se precisasse seja lá para onde ela queria ir, mas ela escolheu justamente você porque confia em você e não há como competir com isso.

_Eu gosto dela de verdade, mas não é justo arriscar estragar uma amizade por causa de um romance adolescente.

_Essa decisão não é só sua, aliás tenho quase certeza de que ela gosta de você e ainda não descobriu isso. Já que estamos sendo sinceros um com o outro, eu tentaria roubar ela de você de novo se tivesse a oportunidade.

_Você está mais machista do que nunca. - Eu disse e rimos um pouco. Uma risada curta e honesta.

_Então somos amigos agora?

_Só se você me deixar participar daquele grupo de apoio.

_Estou atrapalhando? - Alice perguntou entrando no quarto;

_De jeito nenhum. - Disse Taylor se levantando da poltrona enquanto a Ali beija a minha testa e se senta.

_Ka, você falou "jor" - Fez aspas com os dedos na palavra anterior. - quatro vezes em quanto dormia. Se lembra de alguma coisa sobre isso?

Respirei fundo e pensei por um tempo. Sabia que a Ali estava metida nisso tanto quanto eu e merecia saber de tudo, embora desconfie que Smile não tenha tido nada sobre a Marjorie a ela. Porém, não seria justo comentar com ela quando pedi para Benson perguntar diretamente a Moraes e também não seria legal pedir ele para sair do quarto depois da conversa amigável que tivemos há tão poucos minutos. Então contra a minha vontade, minto para ela, morrendo de medo que ela desconfie que eu esteja mentindo e faça um barraco na frente dele.

_Jor? - Perguntei e ela assentiu. - Eu não lembro, as coisas ainda estão bem embaralhadas.

Ela franziu a testa e esperei que ela estivesse entendido a minha posição, já que sou um péssimo mentiroso.  

Como As Estrelas Morrem: A Caixa De PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora