CAPÍTULO XXI

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Dias atuais
Kate Moraes

— Poderia ter procurado um lugar mais elegante.
A praça porto rocha estava lotada de pessoas andando de um lado para o outro, enquanto o sol se punha lentamente com seu manto laranja. A última vez que sentei nesse banco sabendo que minha vida mudaria para sempre, Kaíque apareceu ofegante na esquina da rua, zombando do meu intocável sorvete de maçã com chocolate.
É estranho pensar que eu sofri por algo desnecessário e que na verdade não existiu, era um teatro e Jor nesse momento está pelas ruas de uma cidade vizinha, vivendo a sua vida como Luma. Uma pessoa com outras vontades, outras memórias, sem o seu cabelo colorido e sem saber que um dia eu existi, e que éramos só nós duas na bolha de silêncio acalentador, que contraditoriamente, nos unia, de forma sutilmente intrigante.
Eu gostaria de sair correndo ao seu encontro e contar tudo, como andam esses anos sem suas correções constantes ao meu português. Entretanto, qualquer movimento meu pode estar sendo contabilizado e eu não darei Jorie para ele novamente. Sentir seu olhar me dizer tudo o que eu precisava ouvir, era a única coisa capaz de me dar esperança. É irônico ver que silêncio que antes nos unia é o que hoje nos separa.
— Pensava que passar despercebido era primordial nesses jogos de derrubar uma conspiração.
— Nós não vamos derrubar uma conspiração. Nós somos parte da conspiração.
Da primeira vez que nos vimos ele sabia exatamente o que meu pai iria fazer, certamente também sabia como agir, pois sempre estava um passo a frente.
— E por que não faz isso sozinho?
— Porque o seu pai precisa sofrer e só você pode fazer isso.
Eu não poderia negar isso, pois também acho que ele precisa pagar. Pelo Kaíque, pela Jor e por todo o tempo que nos tirou.
— Você parece ver todos os possíveis passos dele.
—É como um jogo de xadrez, você manipula o jogo para que o jogador faça o que você quer... — Ele pareceu refletir. — No final, só ganho porque o adversário tirou todo o seu batalhão de casa.
— Se vamos fazer isso, a primeira coisa que você deve saber é que não há volta.
Cassiopeia aparecia no céu, relembrando-me que há um castigo para os soberbos.
— Não há nada que me faça voltar.

Como As Estrelas Morrem: A Caixa De PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora