Como As Estrelas Morrem: A Caixa De Pandora

CAPÍTULO XXVII

Dois anos antes
Marjorie Pinheiro

— Você até que é bem inteligente! — disse o carinha num tom sugestivamente sarcástico após ver o meu concerto astuto na balança de calibração que anteriormente havia quebrado um dos pés.
— Jura? — fingi surpresa e rimos depois.
Finjo não ver, mas todo o meu corpo já sabe o momento exato que ele vai olhar para mim. O ritual se repete e a minha vontade era perguntar o porquê aquela parece uma comunicação secreta entre nós.
Minha mão dava uma leve tremida.
Ele desviou o olhar, gentil.
— Acho que eu não sei o seu nome.
— Gustavo, é um prazer Marjorie.
Sinto minhas bochechas queimarem.
Ele sabe o meu nome.
Como ele sabe o meu nome?
— Como sabe o meu nome?
— Ouvi quando te apresentaram no primeiro dia ao Doutor Gael e depois só associei o nome a imagem da nova integrante. Inclusive, ouvi ele te chamando algumas vezes também.
Balancei a cabeça em afirmativo, me sentindo a maior idiota por ter perguntado. É óbvio que ele já ouviu o Doutor Gael me chamando.
— Da próxima vez deveria falar algo.
— Oi? — Questionei, buscando entender ao que ele se referia ou se por alguma causa ficara constrangido por eu não comentar mais nada.
— Da próxima vez deveria falar algo, digo, se o doutor afirmar. Você é muito inteligente para aceitar uma fala desdenhosa.
Eu passei a vida achando que eu era ruim em muitas coisas, principalmente relacionamentos, porém, ao ver ele fazendo um elogio tão sincero percebi que na verdade as pessoas que estão erradas sobre tudo. As pessoas que eu conhecia desde sempre, como por exemplo no colégio, me fizeram acreditar que eu não era capaz suficiente.
Percebi também que venho adiando procurar as respostas da sala no subsolo achando que era loucura minha.
Já faz um mês e meio que frequento a empresa do meu pai e mudei os meus horários para poder investigar o que eu vi na segunda semana, por causa das frases que sempre abaixaram a minha autoestima. As pessoas tem um efeito irreversível nas nossas vidas.
Se eu fechar os olhos me lembro da sala com a luz em uma faze e somente as bancadas eram bem iluminadas, tentando em vão esconder os quatro bebês incubados individualmente, ligados a aparelhos diferentes e em sua maioria com medulas expostas.
Os sonhos com o quarto escuro agora possuem uma imagem nítida e embora eu saiba que não é real e meu cérebro está associando uma coisa à outra, as sensações são as mesmas. Tenho certeza que não é nada demais, porém a empresa não realiza pesquisas é só a inseminação. Se o objetivo também era a pesquisa com células tronco porque não legalizar ou divulgar? Por que fazê-la numa sala à meia luz andares abaixo do setor de tratamentos?