CAPÍTULO XIX

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9 anos antes

Marjorie Pinheiro

Hoje é a sétima vez que nos vemos, e como todas as outras vezes, permanecemos quietas, apreciando o ambiente que era sempre caótico e perturbador, como se fossemos narradoras oniscientes da nossa própria desgraça ainda fora de forma, com a metade dos pés por fora da caixa.

Nossos pais ainda não entendiam que tipo de amizade tínhamos e sua mãe achava que eu era estranha por não me comunicar verbalmente e que a filha dela poderia ter a mesma falha futuramente. A implicância dela comigo começou aí e em partes todos nós achávamos muito engraçado, ela não era uma má pessoa e meus pais preferem as pessoas que demonstram ou falam na lata o que sentem.

Eu me preocupei tanto com o que eu deveria falar e sobre quais coisas de meninas da nossa idade deveríamos conversar quando na verdade isso não era necessário. Não precisamos de palavras para nos conectar uns com os outros.

Eu andei pensando em gharad. Minha mãe fala muito essa palavra e baba diz que foi assim que eles se conheceram, talvez seja assim comigo e ela também. Talvez esse silêncio de quinze dias seja a ponte do propósito. Até que um dia ela quebrou o silêncio que havia entre nós e daquele dia em diante, não parou mais de falar.

Eu só tive como falar das canetas que eu adorava, mas que não podia usar muito pois eram caras e embora baba tivesse dinheiro para comprar, ele não queria que eu crescesse tendo todas as minhas vontades atendidas ou sem saber que é preciso batalhar para conseguir o que queremos.

- Quer desenhar?

- Depende.

- Do quê? - Perguntou revirando os olhos.

- De com que cor e que tipo de caneta você pintará!

- Qual é a relevância das canetas ou das cores em comparação com o prazer de desenhar?

Fiquei refletindo por algum tempo, sem saber o que eu deveria dizer.

- Não parece, porque você não é sensível a tal coisa, mas se você observar só um pouquinho assim oh... cada cor revela o nosso estado de espírito, talvez por isso deva existir, cores frias, quentes e neutras!

- E as canetas?

- Você concorda que cada pessoa têm um propósito? - Ela aquiesceu. - Minha mãe sempre diz isso, não importa aonde você coloque essas pessoas, ou a hipótese de manipula-las, nunca dará realmente certo. Pois cada um é frutífero onde deve ser, e essa essência, nada pode apagar, de tão forte que é!

- E o que eu tenho haver com isso?

- Assim são as canetas. - Disse, ignorando sua pergunta. - Você pode pegar uma delas que tenha ponta fina para pintar, ou outra que tenha ponta grossa para desenhar, ou ainda uma que seja transparente para contornar, nunca dará certo, por mais que você tenha experiência! Você gosta mais de que cor?

- Verde eu acho. Muda constantemente. E você?

- Transparente. Me sinto assim na maioria das vezes.

- Eu nunca vi nenhuma cor transparente - disse eu indignada.

- Você nunca teve canetas brilhantes? Há sempre uma transparente!

- Não!

_Vou te dar um pacote, mas antes tenho que te contar um macete! - Me aproximei do seu ouvido e disse: - Canetas brilhantes sempre são para coisas de extrema importância. Então a melhor forma de se comunicar sendo sutil, é usando canetas brilhantes!

- Há os códigos também!

- Sim, mas canetas são bem mais charmosas. - Dei uma piscadela.

Ninguém espera nada de uma caneta com glitter, porque obviamente é tachada como coisa de mulher, mas nós ainda vamos dominar esse mundo com purpurina.

Como As Estrelas Morrem: A Caixa De PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora