CAPÍTULO XVIII

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Nove anos antes

Marjorie Prinheiro

Tínhamos vizinhos novos e meus pais, ainda acostumados com a vida norte americana, fizeram acarajé diretamente da receita da minha avó paterna de boas-vindas. Eu havia visto a filha deles andando pelo parque do bairro e apesar de conseguir chegar perto dela, emudeci. Ela continuou me encarando, tentando descobrir o que eu realmente estava fazendo ali, já que não era para conversarmos.

Não sei o porquê não me apresentei e comecei a falar sobre coisas que as meninas da nossa idade gostam. Talvez porque as meninas da nossa idade não gostavam muito de conversar comigo, então eu tinha dúvidas se ela conversaria e principalmente sobre como eu me sentiria sendo dispensada mais uma vez. Então, provavelmente ficar muda ajuda a deixar por uns segundos de lado o peso que eu sinto por ser insuficiente. Entretanto, não sei como isso mudará a minha vontade de ser como eles... de também ter um amigo.

Levantei-me e caminhei até ela. Observei seu cabelo liso e como ela parecia adulta com ele longo. Ficamos uma em frente a outra. Ela compreendeu o meu silêncio e permaneceu muda, apesar de seu olhar questionador me analisar de cima embaixo, mas não da forma esnobe como as outras pessoas me olham. Apenas parecendo curiosa e um tanto intrigada. Ficamos em silêncio olhando para o nada. Para a imensidão que existe entre o nada e o nós, o sempre e o nunca.

Seu cabelo pinicando minha pele com o batimento dos ventos, meu Black tapando seu cabelo na sombra que a nossa imagem estampava no asfalto cinza claro, as pessoas nos olhando se questionando o que estávamos fazendo... tudo palpável e distante ao mesmo tempo.

Um fio invisível foi se moldando com a dobra que os minutos do tempo nos forneciam. Ela foi girando, girando, até que o que sobrou foi suspiros perplexos sobre o que poderíamos ser através da amizade.

Como As Estrelas Morrem: A Caixa De PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora