Dias atuais
Jorie Pinheiro
Seu olhar continuou fixo no meu até o final do corredor, quando a escada pronunciava sua presença e os levaria até os andares inferiores. Seus olhos mudaram do preto para o azul do céu californiano em segundos.
Intensos.
Decididos.
Perigosos.
De alguma forma ela mexera comigo. Saber que alguém me conhece além do meu tutor abria para mim uma visão diferente de vida que eu imaginava ter.
Por sua aparência de vinte anos, é provável que tenha sido uma colega ou conhecida que compartilhou momentos comigo e que poderia me falar sobre como nos conhecemos ou quais momentos foram esses. É confuso eu não ter nenhuma memória dela. Talvez fossemos muito pequenas na época ou talvez ela só me admirava de longe. Mas mão haveria como fazer todas essas perguntas a ela agora que estava presa num lugar que eu não sabia qual e nem teria como saber, visto que não sei seu nome.
Mas o paciente do 101 sabe. Respirei fundo e virei meu corpo em direção ao quarto no exato momento em que entrava uma equipe no mesmo.
-(nome do remédio que dão)
-O pulso está diminuindo.
-Acrescenta tanto (outro remédio)
-Nós ajudamos a salvar vidas, por que você ficou parada ao invés de chamar alguém? - Marco me perguntou gritando, enquanto tentava manter o paciente vivo.
-Eu não percebi que...
-Não interessa! - Me interrompeu. - Só faça o seu trabalho. - Disse rispidamente. Saí do quarto, deixando a equipe médica trabalhar e tombei com um garoto.
-Você não olha para onde anda? - Perguntou, o rosto visivelmente tencionado parecia não se importar com coisa alguma.
-Não quando alguém está decidido a tornar-se um com a parede.
Como ele não retrucou, segui meu caminho em direção ao banheiro pronta para dar fim ao meu plantão.
-O que foi aquilo lá dentro? - Indagou. Não o conheço, então não tem o porquê dar explicações.
-Você está no banheiro feminino?
-Eu não te perguntei isso. - Afirmou.
-Você está no banheiro feminino? - Perguntei mais uma vez.
-Eu perguntei primeiro então você deve responder. - Olhei para ele curiosa, antes de soltar:
-O que você é? Uma criança de seis anos?
-Sim, estou no banheiro feminino e não vejo muita diferença nisso. É só um banheiro, não é?
-Não, não é.
-Então na sua casa você separa os banheiros por sexo?
-Você por acaso é gay? - Ele riu antes de responder:
-Não, eu não sou gay. - Declarou. - Eu acho que preciso ser gay para defender a causa lgbt.
-Então é por isso que está no banheiro feminino.
Ele desceu da bancada, virou meu corpo em direção ao dele e pela sua pose soube que ele era considerado atraente por muita gente. Seu polegar foi de encontro ao meu rosto, retirando uma mecha de cabelo que tapava minha visão. Com uma mão entre meu pescoço e o maxilar e a outra na base do meu ombro, ele encarava meus olhos. E qualquer coisa que ele fosse falar, eu já previa que seria uma ordem e não um pedido
-Na verdade eu estou aqui porque quero que você me responda. Esse assunto que surgiu anteriormente nada tem a ver com o meu objetivo.
-Não devo nada a você. - Disse por fim e me desvencilhei dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Como As Estrelas Morrem: A Caixa De Pandora
Misterio / SuspensoExiste formas distintas que levam estrelas a morte. Entre círculos intermináveis e outros fadados ao fim, Smile compreende que todos estamos intrinsicamente ligados as estrelas: fundimos átomos e desconstruímos partículas. Acreditando que talvez fos...