18. Medo

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John caído no chão, sua perna ensanguentada assim como suas mãos.

Sua dor notável em seu rosto.

O Karma.

Eu não sentia mais raiva do mesmo por ter dito coisas sobre Isadora.

Eu sentia dor.
John é meu amigo.

Isadora era minha amiga.

Eu só sentia dor.

Todos estávamos encurralados.

Isso era tudo o que não teria encontrado trabalhando anos na Polícia como Investigadora.

A tempestade parecia mais forte lá fora.

Assim como aqui dentro.

Vi John puxar de seu bolso, mais uma vez, o triângulo. Agora, alaranjado. Poderoso em sua forma, cintilante, queimando. John o jogou na direção de Goech.

Goech desfez seu sorriso. Caiu por alguns minutos, fraco o suficiente para agirmos novamente.
Kelsier se moveu de ódio.

Seu olhar de desculpas para mim era visível. Ele não queria me machucar.

Kelsier parecia ter tirado toda sua força reprimida e acertado um golpe em Choy.

Choy caiu em cima de suas tecnologias, machucado, se arrastando para longe.

Ao meu lado, Mike foi solto de suas algemas.

Mike tinha ódio.

O olhar doce que admirei tanto em Mike, teria escurecido.

Mike parecia sedento por matar aquelas pessoas más.

Foi tudo um jogo.

Tudo.

Tudo milimetricamente pensado, articulado.

Pronto para nós.

Experimentos.

Fadados.

Mike se esgueirou até o lado de Jhon, caído.

Mike puxou a arma que deixei cair e a mirou.

Mike disparou em Choy e em Sofía.

Sem dó.

Assim como eles não tiveram por nós.

Assim como a chuva não tem dó de devastar o mundo em que vivemos.

Mike com seus olhos escuros de ódio e raiva, tirara a vida dos dois.

Assim como tiraram a vida de Isadora.

Kelsier é um homem inteligente. Ele trabalhou comigo em todos esses anos.

Meu parceiro de trabalho, de caso, de vida.

Eu reclamei demais de suas piadas bobas que sempre me faziam rir.

Olhando para o lado de fora da janela, pude ver.

Nos céus, uma fonte branca, no meio das nuvens cinzas descia mais um raio.

Um raio cujo mostrava a sua força, a sua majoridade, a sua coragem eram impressionantes. O que me fez temê-lo. Logo ao lado, um pássaro sobrevoava. Um pássaro que caía aos poucos, mas não parava. A sua força, a sua majoridade, a sua coragem, me fizeram querer ser como ele.
Eu não passei tempo suficiente com eles para amá-los tanto como eu já os amo.

Isadora, me perdoe.

Eu reclamei demais das piadas bobas de Kelsier.

Kelsier correu em minha direção. Puxou de meu bolso o isqueiro que Akoí me dera.

Não havia instruções escritas. Akoí não dissera isso.

Kelsier, ao pegar em meu isqueiro, alguma força forte, com majoridade e coragem, o levaram.

Assim como o raio que me fez temê-lo, eu temi a essa força.

Temi por que me tirara mais uma vida. Mais uma pessoa.

Kelsier foi fuminado.

Kelsier, um ser tão iluminado, acabou morrendo de tanta luz.

Kelsier, me perdoe.

Eu deveria rir mais de suas piadas.

Seu corpo sem vida caía no chão ao mesmo segundo que o vento balançara as janelas do local.

Kelsier, me perdoe.

Eu gritei mais uma vez. Mike e eu gritávamos.

John esgueirava-se com dor e sofrimento.

Mike sacudia o corpo de Kelsier assim como eu teria feito.

Akoí finalmente chegara.

Empurrou a porta com toda sua força e encarou a cena.

Seu olhar disse muito.

Nós não tivemos tempo.

Nós não conseguimos nos encarar e nos amar com verocidade.

Meus lábios não encostaram com força e fervor nos dele.

Meus lábios não proferiram as palavras certas.

Eu não o abracei forte.

Eu não agradeci direito.

Meu corpo não se deleitou e amou com o dele.

Meus olhos não disseram o que os dele estavam me dizendo.

Seus olhos ao me ver naquela situação, diziam muito.

Assim como o pássaro que mesmo na tormenta continuava subindo e sobrevoando, dizia muito.

Akoí me fez amá-lo. Amá-lo sem o conhecer totalmente.

Assim como o pássaro que voava nos dias de chuva.

Me fez querer ser que nem ele.

Eu queria dizer que o amava.

Eu precisava.

Seus olhos cor mel nunca foram tão alarmantes, nunca tão vivamente tristes. Sua dor se transformou em raiva, assim como em Mike.

Akoí correu em direção a Goech para o entreaçá-lo com um soco certeiro, mas falhou.

Goech com seu sorriso macabro puxara Akoí pelo colarinho de sua blusa abotoada azul escura.

Goech o posicionou na minha frente.

Minha dor era tanta.

Eu nunca senti tanta dor em toda a minha vida.

O amor da minha vida.

Akoí.

Eu tinha certeza de que ele era.

Me encarando, aos plantos, tentando se salvar para logo me salvar.

Goech puxou a adaga de meus olhos, me fazendo sentir mais dor.

Eu gritava o nome de Akoí. Esguelava bem na sua frente. As algemas apertavam mais meu corpo a cada ponto em que me mexia.

Goech sorriu mais uma vez.

Outro trovão. Outro relâmpago.

Goech com a adaga de Kelsier, a mesma que me tirara um dos olhos, agora, passava em linha pelo pescoço de Akoí.

Goech degolou o amor da minha vida na minha frente.

Seu sangue espirrou em meu rosto.

Eu não suportaria mais dor.

Meus olhos já inchados de tantas lágrimas e sangue descendo como crianças num tobogã.

Me perdoe, Isadora.

Eu não te abracei o suficiente. Eu não cuidei de você. Eu não te salvei quando você precisou. Eu não disse que te amava.

Me perdoe, Kelsier.

Eu não escutei você o suficiente. Eu não sorri o suficiente de suas piadas. Eu não disse que te amava.

Me perdoe, Akoí.

Eu não te salvei, eu não te trouxe o fervor da vida. Eu não disse que te amava.

O medo. O medo me fez sentir essa dor agora. Não o culpo. A culpa é minha por ter medo.
Tive medo de agir e ir atrás de Isadora.

O medo.

Tive medo de rir alto das piadas de Kelsier pelo o que iam achar.

O medo.

Tive medo de dizer que amava Akoi em poucos dias com medo do que poderia receber de volta.

O medo.

Eu sou a culpada de tudo porque tive medo.

Itaperuna: Contos ReaisOnde histórias criam vida. Descubra agora