Deixar o campus é sempre uma aventura a parte. Normalmente não precisamos sair muitas vezes, enfrentar o mundo lá fora abarrotado de pessoas adultas. Ainda temos um tempinho até chegar àquela fase: a fase em que vamos precisar pagar contas, trabalhar, casar, ter filhos e não ter tempo para fazer nada. A pior coisa de ser adulto? Ter que arcar com as consequências do seus próprios atos. Eu sei, eu sei, legalmente devemos fazer isso a partir de 18 anos, mas essa ideia não serve para todo mundo.
Olhe para Jisoo, ela vai completar 22 anos em janeiro e nunca precisou arrumar a própria cama — e agora que não há empregada para arrumar ela simplesmente deixa desarrumada —. Jisoo consegue tudo de ilícito com a mesma facilidade que um garoto compra balas na padaria, e se algum dia for parada por um policial, pode ligar para o papai. Ele vai acreditar fielmente que ela foi desviada para o mal caminho por pessoas más e hostis, e vale lembrar que, segundo famílias direitas "pessoas de bem" não vão para a cadeia.
Eu tive sorte de ter uma mãe carismática e empenhada em me livrar de enrascadas, mas agora não posso contar com essa opção; é só eu, Jisoo e o mundo. E pela primeira vez, acredito que nem a lábia da minha falecida mãe misturado ao dinheiro do pai de Jisoo irá nos salvar do que o porta malas daquele carro esconde.
Estou com raiva do lago Jung, como se tivesse sido enganada por um perfil fake no Facebook prometendo amor, carinho e companhia para senhoras divorciadas de meia idade, e um detalhe: não sou uma senhora divorciada de meia idade, mas cai como um patinho em algo que deveria ter sido mais cuidadosa. Faço esforço para pensar na outra opção que nós tínhamos no momento que decidimos jogar o carro pela ribanceira, até entender que não tínhamos nenhuma opção.
E agora, bem, nos resta enfrentar o que quer que está nos esperando na delegacia. É por isso que estamos vestidas para um enterro. Jisoo abusou do batom vermelho e quase parece adulta usando um vestido preto que termina abaixo dos joelhos, cabelos trançados em volta da cabeça como uma condessa do século passado e braços cobertos por um suéter opaco. Também uso um vestido e espero ser levada a sério de óculos escuros, mesmo que o dito cujo tenha uma cordinha feita de correntes douradas e brilhosas — era isso ou um véu — além do meu perfume, uma versão do que mães passam em seus bebês.
Woozi é um péssimo motorista, se fosse pago provavelmente seria demitido, mas ele está sendo tão prestativo em nos levar a delegacia e Jisoo o toca tantas vezes no banco do carona que sinto um pouco de compaixão pelo garoto.
— Agora você entende, Woozi? — Ela fala com uma autopiedade gritante. — Ele dedurou a gente.
— Vocês jogaram o carro dele em um lago! A polícia deve ter perguntado o porquê e ele falou a real, que tinha emprestado o carro pra vocês duas. — O sinal fica amarelo e há um intervalo perfeito para Woozi atravessar a faixa, mas ele freia bruscamente e alguns carros buzinam.
— Não jogamos o carro no lago — defendo —, ele caiu.
— Tem diferença? — Woozi me olha pelo espelho retrovisor.
— Claro que tem! — Jisoo toca o ombro dele de novo e dessa vez deixa a mão lá. — Nós fomos vítimas, pegamos o carro emprestado e ele caiu no lago, quase sofremos um acidente terrível se não tivéssemos saído a tempo.
— Provavelmente estaríamos mortas — acrescento.
Jisoo mostra para Woozi o dedão esfolado de tanto acender cigarros.
— Ganhei esse machucado quando pulei para fora do carro antes dele cair na ribanceira. Não parece tão feio porque usei band aid, mas ardeu muito.
— E não esquece de dizer que você não abriu o porta malas e não sabe o que tem lá dentro. — Lembro a Jisoo, ela maneia a cabeça em entendimento.
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O segredo do seus olhos
FanfictionJennie Kim está fugindo do seu passado e encontra na faculdade de música uma forma de recomeçar. Entre o ódio que sente pelo mundo e uma amizade inesperada, ela acaba conhecendo Lalisa Manoban, uma mulher de olhos cativantes e misteriosos, e se apai...