3.9 |livro três | utilius tarde quam nunquam

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Jisoo treme em meus braços e perde a consciência.

— Ei, ei, Jisoo! — Dou batidinhas em seu rosto adormecido.

Ela não pode me dizer aquilo e simplesmente desmaiar. O inferno está vazio, os demônios estão aqui... que porra é essa? Está na bíblia? Balanço-a com força, exausta dessa merda, das charadas intermináveis, das referências bíblicas, de quem quer que esteja achando isso engraçado quando a piada sou eu. Em pânico, jogo os meus cabelos para trás, buscando ar para respirar. Eu vou enlouquecer, eu sinto isso, sinto que estou a um passo de perder a sanidade.

Deito-a no chão, com a cabeça em meu colo.

— Jisoo, qual é!

Recebo um murmurar fraco como resposta.

As viaturas ainda estão na entrada do condomínio e, com preocupação, vejo o policial que conversou com Chaeyoung procurando algo entre os carros. Ela pode ter percebido a minha ausência. Merda. Preciso agir rápido.

Volto a atenção a Jisoo.

— Abra os olhos, vamos lá, Jisoo! — sussurro irritada.

O policial olha em nossa direção.

Mergulho a cabeça no peito de Jisoo, tentando me misturar aos arbustos menores. O coração dela bate tão baixinho que quase não escuto, diferente do meu que está descontrolado. Não sei o que fazer se me encontrarem aqui. As desculpas acabaram e eu sumi da cena do crime, o que é suspeito o suficiente, e se antes Chaeyoung suspeitava que eu sabia alguma coisa sobre o assassino, agora ela tem certeza. Ele viajou conosco até a cidade.

Para piorar, Jisoo está chapada. Só isso a faria ser levada para a delegacia.

Como se lembrasse disso, ela abre os olhos.

— Que porra... — E me empurra para o lado.

Caio de cara na terra úmida, tossindo grama.

— Sua idiota! — Devolvo o empurrão. — Achei que tivesse morrido!

Ela se senta desengonçada, as pernas abertas e os saltos de acrílico espalhados ao redor.

— O que... — Os seus olhos caem em mim. — O que você tá fazendo aqui e... ah, merda, merda. Me lembrei. — Jisoo aperta a cabeça com as mãos, emitindo um chiado baixinho.

— Ótimo. — Sento-me na frente dela, empurrando os malditos tamancos de acrílico. É melhor ficarmos assim, encolhidas e longe do olhar dos policiais, rezando para os arbustos nos encobrirem tempo o suficiente. — O que você sabe sobre o assassinato daquelas garotas? — Aponto para o portão do condomínio.

Jisoo desvia o olhar, massageando as pálpebras com os dedos trêmulos e sujos de terra. Não sei se ela está pensando em uma mentira ou só tentando se lembrar do porque está ali. Talvez não percebeu que houve outro assassinato, parece acordar de um coma.

— Eram prostitutas também — ela balbucia. — Trabalhavam comigo.

Antes que eu possa responder, Jisoo acrescenta:

— Eu sei o que parece.

— Parece que você está chapada — respondo.

Ela ri, tosse e então coça o nariz, sujando-o de terra também.

— É, eu estou. Já faz uns anos.

Respiro fundo, olhando novamente para as viaturas policiais. Não vejo Chaeyoung, ela deve estar dentro do condomínio e não percebeu o meu sumiço, mas assim que retornar vai procurar na floresta. Volto a fitar Jisoo, com a certeza que saberei tudo o que ela esconde. Agarro o seu rosto, mas ela está tão magra que a parte ossuda do maxilar me incomoda.

O segredo do seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora