|livro um| quinque

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— Os  acidentes musicais básicos são dois. — Lalisa pega o giz e escreve no quadro negro. Sua letra é um garrancho completo, mas por sorte ela fala depois: — Sustenido e bemol e não, não são nomes de remédio.

Surge alguns risinhos e um garoto da primeira fila levanta a mão.

— Fessora, vai cair na prova?

— Woozi, se você perguntar isso de novo eu faço uma prova especial pra você e coloco até quantas vezes eu dei bom dia nessa sala.

— Tá estressada, fessora? — Outro garoto pergunta, dessa vez um tal de Taehyung. Ele senta na ultima fileira e usa roupas de tons terrosos, folgadas, além de andar para cima e para baixo com um vapoer que solta tanta fumaça que parece um início de incêndio. Lalisa ri.

Ela diz que não, mas tem o que todos chamam de "favoritos." É como uma mãe que diz que ama os filhos igualmente quando todos sabem que é mentira.

Os favoritos de Lalisa não precisam ser inteligentes, como Sana, a loirinha sorridente que tomou pau em Introdução à Teoria Musical duas vezes. Taehyung, que vive matando aula porque gosta de meditar descalço na grama ou Jimin, um garoto de cabelos rosa que bajula Lalisa mesmo que esteja no último período do curso. Ela está sempre mordendo uma maçã que ele a dá ou xingando a leus suas tentativas de assistir as aulas se misturando aos calouros.

Ser um favorito de Lalisa é ser popular no campus, porque Lalisa é popular. Sua fama chegou em outros cursos e há uma lista de estudantes que não fazem Música, mas que cursam separadamente Introdução à Teoria Musical, só para ter aulas com ela.

— Profe, os acidentes musicais são aqueles que Bach encontrou no Minueto n° 3? — Uma garota a algumas cadeiras de Jisoo, pergunta. Ela vive fazendo afirmações em formas de perguntas para se mostrar inteligente.

Lalisa sorri para ela e sem querer, aperto com mais força a caneta.

— Solar! É isso mesmo! Viu só, Taehyung? Solar me deixou de bom humor e sim, Woozi, vai cair na prova.

O garoto abaixa o dedo e anota apressadamente no caderno.

— Você viu que sua mão tá toda azul? — Jisoo se inclina e sussurra no meu ouvido. Quando olho para baixo vejo a caneta estourada, completamente amassada entre meus dedos. Meu caderno ganha manchas azuis quando solto o que sobrou dela.

O que eu não esperava era Lalisa à minha frente, com um paninho em haste. Ela me entrega e sem dizer nada, continua a aula.







Caminho pelo corredor vazio com um expressão emburrada, chutando o vento. Jisoo não diz nada, não pergunta ou conjectura, ela prefere ficar ao meu lado como uma sombra, comendo docinhos de leite que ganhou de presente do carinha dono do carro que jogamos no lago Jung. Ele realmente acha que saiu ganhando.

Hoje, eu e Jisoo escolhemos roupas que combinam: saia e blusa branca, enquanto a dela tem mangas compridas e botões prateados, a minha tem mangas suspensas e rendados. Parecemos garotas que saíram da missa de domingo, com presilhas de coração e gloss tutti-frutti, se não fosse o comprimento quase nulo das nossas saias.

— Kim's! — O chamado ressoa pelo corredor. Assim que me viro dou de cara com Woozi, e afobado, ele dá passos desajeitados para trás.

Woozi tem feições infantis e é do meu tamanho, o que o torna fofo sem fazer esforço. Suas bochechas ficam rubras quando nota que estamos encarando, esperando que diga o que quer, mas acho que até ele se esqueceu.

— Meu nome é Jihoon mas... mas todo mundo me chama de Woozi, prazer.

— Legal, Woozi, quer maconha? — Jisoo bate as mãos sujas de farelo de doce e abre a bolsa. — Você é fofinho então vou fazer mais barato, mas não se acostuma...

O segredo do seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora