Nos capítulos anteriores:
Meus olhos se arregalam e, pelo que parece um século, sinto o meu coração parar. Meus pés decidem por mim e rodo os calcanhares, ainda em choque, ainda sem saber o que falar ou pensar ao vê-la ali, há poucos metros de mim.
Chaeyoung abaixa a arma e sua respiração sai em uma risada incrédula.
— Que surpresa, Jennie! — Em seguida, ela olha para o lado, apontando a arma para algo escondido atrás de uma peça de carne. — Porque você também não vem se juntar a nós, professora Lalisa?
Meu corpo inteiro paralisa, como se eu estivesse congelada. Não, não, não, não, não é possível. Deve ser apenas sonho, um delírio, um engano. Estou esperando a pegadinha ser anunciada, alguém me acordar, dizer que é impossível, mas está ali. Engulo o bolo que dói a garganta, sem saber o que pensar e nem como agir, mas, devagar, alguém sai em meio às peças de carne.
Uma silhueta familiar demais.
Lisa está olhando para o chão, os cabelos tampam o seu rosto, mas vejo os seus olhos brilharem no escuro assim que ela levanta a cabeça e me encara. Viva, em carne e osso.
— Para a minha defesa... — Ela levanta as mãos em posição de refém. — Eu estou tão ou mais perdida que você, Jennie.
Isso não pode ser verdade.
É a única coisa que se passa na minha mente.
Lisa está viva, bem viva, na minha frente. É como se ela nunca tivesse ido embora, mas também como se eu a visse pela primeira vez. Meu coração palpita tanto que parece querer sair do peito, bombeando êxtase que arrepia o meu corpo. E é apenas isso que me mantém de pé, êxtase, esse misto de sentimentos que vai de alegria a temor, que englobam todas as sensações que não consigo descrever. As palavras perdem o sentido e se transformam em um redemoinho. Esqueço que Chaeyoung está com uma arma na minha cabeça, que provavelmente uma de nós sairá morta desse lugar, esqueço de tudo. É como se eu estivesse cara a cara com um anjo, é, um anjo, deve ter o mesmo efeito, morrer e renascer e todas as coisas ditas impossíveis no mundo.
O resto de sanidade que eu tinha se perde neste momento. Não consigo tirar os olhos de Lisa, do rosto machucado de Lisa, cheio de arranhões, do fato que posso tocar nela, que posso... sinto um puxão no meu braço.
Chaeyoung pega o meu revólver, eu também tinha me esquecido dele. Movo o meu corpo para trás, mas ela afunda o cano da arma na minha cabeça enquanto aponta a outra, que roubou de mim, na direção de Lisa.
— O que... o que está acontecendo aqui? — consigo balbuciar.
Ainda com as mãos levantadas, os lábios de Lisa se repuxam em um sorriso.
— Engraçado, era a mesma pergunta que eu iria fazer. Me atualizem... — ela olha alternadamente para mim e Chaeyoung. — Eu acabei de chegar.
Balanço a cabeça, confusa. Tudo parece um sonho que, por mais que eu me belisque, não consigo acordar.
— Como você... — me engasgo. — Você está viva?
Lisa balança os ombros, ou tenta. Ela está com uma roupa bastante inusitada, um vestido dourado rasgado. O topper está tão pequeno que consigo enxergar o contorno dos seus seios sob o pano.
— Achei que pudesse me explicar — ela diz.
Talvez em outro momento eu pudesse explicar, talvez uma outra versão de mim, a que tinha todas as respostas do mundo para dar, e, se não tivesse, sabia de uma teoria que se encaixava com os fatos.
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O segredo do seus olhos
FanfictionJennie Kim está fugindo do seu passado e encontra na faculdade de música uma forma de recomeçar. Entre o ódio que sente pelo mundo e uma amizade inesperada, ela acaba conhecendo Lalisa Manoban, uma mulher de olhos cativantes e misteriosos, e se apai...