|livro dois| elegit iniuriamelegit

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Arrasto o galão de gasolina para os fundos da loja e vejo Lisa, com Leggo nos braços. Ela tomou banho, mas usa as mesmas roupas, os cabelos estão molhados e um leve cheiro de sabão caseiro emana. Já os olhos estão fixos na fachada decadente do lugar.

— Você demorou — diz, sem me olhar.

Dou de ombros, colocando o litro de gasolina aos seus pés.

— A bomba de combustível é uma porcaria. Demorei um tempão para encher dois litros. — Uma meia verdade, como Bambam mencionou. A bomba é realmente ruim, já que a ligação durou alguns minutos e, quando voltei, não estava na metade.

Ela assente, desinteressada.

— Vou enterrar Woozi aqui enquanto você joga gasolina na loja.

Pisco algumas vezes, processando a informação. Aparentemente vamos fingir que nada aconteceu. É melhor assim. O velho ainda está lá dentro, mas como a loja não tem janelas e a temperatura é comparável ao do inferno, o corpo está fedendo, cheio de mosquitos em volta.

Levanto o indicador.

— Se vamos queimar o velho e à loja, é só colocar Woozi lá dentro e queimá-lo junto. Dois coelhos com uma cajadada só.

— O fogo não vai carbonizar o corpo totalmente, Jennie — ela responde, como se eu fosse burra.

Talvez eu seja, porque continuo sem entender. Coço os cabelos, confusa.

— Então porque vamos queimar o velho se o fogo não vai carbonizar o corpo? É perda de tempo.

Sua expressão se tornou ainda mais fechada, como se estivesse cansada de explicar — o que realmente deve ser o caso. Eu não esperava menos de alguém que estourou a cabeça de um senhor com o cano de uma escopeta.

Lisa matou dois velhos em um curto período de tempo, pode iniciar um novo ramo de serial killers.

— Pense como um policial, Jennie — ela diz, lentamente. — Uma loja no meio do nada está pegando fogo... ao chegar, você vê os destroços, um galão de gasolina nos fundos do estabelecimento e o corpo do dono carbonizado. O que você supõe? — Ela acaricia Leggo enquanto isso, o gatinho ronrona. — Lembrando que você tem coisas mais importantes para fazer: comer rosquinhas, aceitar propina, abafar casos de políticos... coisas que todo policial faz.

Minha cabeça dá um nó. Logística nunca foi o meu forte, mamãe sempre lidava com os pormenores, não me deixava ver nada. E Jisoo me ajudou na última vez em que precisei cuidar de um corpo, jogamos o maldito carro no lago.

Troco o peso de um pé para o outro.

— Bom, eu encerraria o caso. Provavelmente o velho arrumou briga com quem não devia e acabou morto, como retaliação.

Os lábios de Lisa se repuxam em um sorriso satisfeito.

— Agora, imagine esse mesmo caso, mas com um adicional: ao lado do corpo carbonizado do velho, você encontra o de um universitário, que aparentemente não tem ligação nenhuma com a loja, nem com o dono e não deveria estar tão longe de casa.

— Eu vou querer investigar e... ah, agora entendi! — Maneio a cabeça rápido. — Por isso vamos enterrar Woozi nos fundos da loja, bem debaixo do nariz da polícia?

— Esconder um segredo na frente de todos é a melhor forma de mantê-lo seguro. Ninguém imagina que é um segredo. — Lisa retruca.

Nos encaramos, sem nada dizer. Apesar do cansaço, suas bochechas estão coradas e os lábios vermelhos.

O segredo do seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora