|livro um| tredecim

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Subimos para o quarto em um êxtase momentâneo que me faz segui-la por entre os cômodos sem realmente saber para onde estamos indo. É como ser guiada por uma mão invisível que, além de me lembrar de colocar um pé na frente do outro, também esvazia todos os meus pensamentos. A tensão no ar é tão forte que nubla as minhas preocupações, anseios e pesares, além de aquecer o meu corpo. Está tão carregado que não consigo respirar corretamente. Lalisa fica na minha frente, andando pela penumbra da casa, sua mão na minha me leva e me impede de hora ou outra, cair ou tropeçar em algum móvel.

— Aqui é o primeiro degrau da escada — Lalisa fala baixinho e seus lábios brilham de saliva no escuro. Ela sorri timidamente e eu quase tropeço, porque passo tempo demais analisando todos os detalhes dela, a elegância desleixada que a faz ficar bonita vestindo calças largas e uma blusa comum, que mostra seus ombros graças às alças finas. Os cabelos na altura do queixo são escuros como aquela casa, quero apertá-los e arrancar alguns fios com os dedos.

Ela pergunta se estou bem e maneio a cabeça que sim. Mas ela sabe a verdade, sabe que, todas as vezes, nunca estou bem até tê-la. Lalisa é boa no que faz e sabe muito bem disso.

Diferente da sua sala na faculdade, com livros jogados e papéis em cima da mesa, o quarto é impessoal. Nesse cômodo, as paredes são brancas e os móveis de uma madeira escura, talvez mogno, que parecem se fundir com o escuro do quarto. Os lençóis também são da mesma cor, perfeitamente arrumados na cama de dossel. Cruzo os braços, a janela está aberta e o vento noturno deixa tudo frio, além de balançar a seda do dossel da cama.

A presença de Lalisa atrás de mim é sentida na mesma proporção que sinto minha respiração sair em jatos rápidos. Ela fecha a porta silenciosamente e tira os sapatos, seus passos soam pelo tapete enquanto ela caminha para fechar a janela. É então que percebo como minha respiração está alta, ela é a única coisa audível depois que a janela se fecha e Lalisa para a alguns centímetros de mim. Seu rosto é difícil de descrever, como sempre, mas há uma malícia em seus olhos que os fazem ficar menores, e um sorriso curto aparece como uma sugestão do algo a mais que nos ronda. É como se ela me deixasse nua com apenas aquele olhar.

— Por que não chega mais perto, Jennie? — Ela levanta uma sobrancelha.

Eu deveria respondê-la de forma petulante ou me recusar a pegar a sua mão estendida, mas quando vejo já estou dando passos necessitados até Lalisa, suspirando com o mínimo toque da mão dela na minha cintura. Seu corpo é quente e firme e ao mesmo tempo é frágil e delicado, consigo sentir seus seios prensados nos meus e sua respiração se mesclando com a minha, quando olho para cima, para os seus olhos, eles estão sorrindo, felizes por me ter as ordens. Lalisa se inclina e sussurra no meu ouvido.

— Obrigada por me fazer companhia hoje. Essa noite não seria a mesma sem você.

Repouso meus braços em volta dos seus ombros.

— Por que isso parece uma despedida? — sussurro de volta, mas Lalisa não responde a minha pergunta, ela toca os meus lábios com os seus.

Lalisa me domina com a mesma facilidade que tem para respirar, sua língua adentra a minha boca e a toma por completo, suas mãos apertam com força a minha cintura e me vejo suspirando entre os arfares, sentindo seu riso em cima da minha boca e sua ousadia em capturar meu lábio inferior, chupando antes de largar e voltar com a língua, antes de parar o selar apenas para me olhar e ter aquela certeza, a certeza que sou sua sem precisar pedir.

Meus olhos estão semicerrados, é difícil deixá-los abertos mesmo que eu deseje ver mais das expressões que Lalisa sugere. Estou tentando parecer um quadro em branco, pois quero que ela me pinte com a boca e me emoldure com os dedos. Quero sentir de novo seu corpo movendo junto com o meu e aquela sensação inédita de querer morrer, por pensar que nada nunca será tão bom quanto o que ela me dá.

O segredo do seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora