Notas do autor: Antes de mais nada, peço mil perdões por não conseguir atualizar ontem. Foi um dia muito corrido e só hoje de manhã me lembrei que ontem foi quarta. Enfim, boa leitura!
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Songkhla — Tailândia
Depois de dois minutos de espera, a mulher de cabelos grisalhos e vestido bege entra no consultório. Sua respiração está levemente desregulada, o que mostra que ela não esperou o elevador e resolveu subir pelas escadas. A chave do carro está na sua mão, mas ela só percebe isso quando senta na poltrona e precisa se levantar de novo, caminhar até a bolsa e guardar a chave. Ela checa se a porta está trancada, para então sentar novamente na poltrona, cruzar as pernas cobertas por uma meia calça lisa opaca, do tipo que serve apenas para estética, já que é fina demais para esquentar e grossa para parecer uma meia calça.
Odeio meias calças assim.
— Desculpe pelo atraso — ela diz, tentando recuperar o fôlego.
Ajeito-me no divã preto de frente a ela. Nunca deito, é amedrontador demais pensar que ela está sentada, olhando para mim, vendo o lado direito do meu rosto — que particularmente é o que eu menos gosto. Prefiro ficar frente a frente com a pessoa paga para tentar desvendar o meu cérebro. É desconcertante existirem profissões como essa, não? Pessoas das quais você, por livre e espontânea vontade, fala o que está pensando. Pensamentos é algo particular demais para compartilhar.
Balanço a cabeça, lembrando que preciso perguntar:
— Por que chegou atrasada? Teve que deixar os filhos na escola? — pergunto, mas ela não diz nada. — Marido? — tento outra vez. — Você tem cara que tem um homem... — Silêncio. — Mulher?
Ela esboça um sorriso suave, deve estar pensando muitas coisas sobre mim.
— Fico lisonjeada por supor tanto sobre minha vida — ela diz por fim, com o mesmo semblante de antes.
É impossível ela estampar sempre a mesma expressão. Será que já sentiu raiva? Será que pensa em como quer me matar? Porque eu penso a todo momento como poderia matá-la se quisesse.
— É mais forte que eu, doutora Suwan. — Cruzo as pernas para imitá-la. Quero ser irritante hoje. — Não consigo parar de supor coisas sobre as pessoas.
Ela pega um bloco de notas na mesinha ao lado e folheia por longos minutos. É o tempo o suficiente para eu me lembrar como odeio essa sala e sua neutralidade. Não há cor nenhuma aqui, as paredes são bejes, o divã e a poltrona pretos, os móveis também pretos. Já perguntei porque não decora o consultório e ela me disse que já está decorado. Bem, não parece.
Suwan lê os meus pensamentos e levanta os olhos do bloco de notas, analisando a minha roupa.
— Bonito o vestido.
Olho para baixo, brincando com a gola.
— É, eu sei.
Ele é vermelho de bolinhas brancas e tem tudo o que eu gostava quando era professora: a saia é rodada e a manga bufante, mas não muito, é recatado. Se ela não quer trazer vivacidade ao consultório, eu trago.
A doutora deixa o bloco de notas na mesa e volta sua atenção para mim.
— Ainda está tomando os remédios?
— O que acha? — retruco.
— O que te passei semana passada...
— Estou bem, doutora Suwan. — Sorrio forçado e, dessa vez, repouso a mão no joelho, como ela. — Fico feliz que a senhora perguntou, mostra que está engajada no tratamento.
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O segredo do seus olhos
FanficJennie Kim está fugindo do seu passado e encontra na faculdade de música uma forma de recomeçar. Entre o ódio que sente pelo mundo e uma amizade inesperada, ela acaba conhecendo Lalisa Manoban, uma mulher de olhos cativantes e misteriosos, e se apai...