A universidade de Seul é uma cidade dentro de uma cidade.
O portão principal está abarrotado de alunos chegando, com sorrisos contidos e mochilas nas costas, apertando as alças com olhares sonhadores, all stars sujos e ansiedade. Todos dão sorrisos maiores que o rosto ao verem a placa que colocaram acima dos portões, despontando no céu cinza: "Bem vindo aos melhores anos da sua vida" dizia.
A faculdade é o que todos dizem que ela é, cheia de possibilidades. Só não falamos quais são essas possibilidades, esperamos que busquem sozinhos, mas então chegamos a outro problema: ninguém ali está preparado para isso. Os alojamos estão cheios de choro contido e olhares emocionados, pais e seus carros grandes se despedindo dos filhos, abraçados como aquela família branca dos filmes americanos, um golden retriever na janela do carona, a língua escorrendo baba enquanto fingem ser o que não são, uma família perfeita.
Eles irão voltar para a casa bonita na cidade vizinha e o pai vai continuar traindo a esposa com a secretária, ela vai fingir que não sabe e, mesmo que a filha esteja longe, vai arrumar outra desculpa para ficar mais alguns anos naquele casamento.
Solto um riso amargo. Nada mudou.
Atravesso os corredores que exalam ansiedade e suor. O primeiro dia de aula de um semestre é o melhor de todos, é quando as amizades se iniciam e é o primeiro contato com o mundo externo, fora da bolha dos pais. É quando a magia acontece.
Antes de entrar na sala de aula, respiro fundo e ouço o som das conversas do lado de dentro, do arrastar de cadeiras e gritos animados, e sinto a ansiedade deles.
Com um sorriso grande demais no rosto, entro na sala.
— Bem vindes! Sentem, sentem! Já vamos começar a aula! Ah, amo ver essas carinhas jovens, vocês não tem noção! Ok, Lucas, eu sei que também pareço uma aluna, você perdeu um ponto por me lembrar disso! Ah, Não acredito, Chaeryeong! Eu dei aula para a sua irmã no semestre passado! Como ela está? Oh, que maravilha! Mande um abraço para ela, tudo bem? Antes de tudo quero pedir mil perdões pelo atraso pessoal, a aula já deveria ter começado, é que peguei um engarrafamento terrível! Vocês viram na TV? Ah, não, não pode ser, Han! O que faz aqui? Tomou pau na minha matéria? De novo? Vocês não tem vergonha na cara!
Sorrio abertamente para a turma, o sorriso que faz aparecer as minhas gengivas, e logo ouço alguns suspiros aqui e ali.
É tão fácil cativá-los.
Em seus respectivos lugares, os alunos me olham como se eu fosse uma estrela, como se eu tivesse todas as respostas que estão procurando, como se eu fosse a cura para todos os seus males, inseguranças, receios. Eles se espelham em mim, eles me desejam de maneiras diferentes: como uma namorada, uma mãe, uma irmã mais velha... Eu só preciso escolher um personagem. Preciso escolher o aluno ou aluna mais suscetível, a ovelha desgarrada.
O silêncio da sala é quebrado com o som dos meus passos.
Paro em frente ao quadro e escrevo o meu nome.
Ao olhar novamente para os alunos, vejo alguns se ajustando na cadeira.
— Sou a professora de Introdução à Teoria Musical, Jennie Kim. — Meus olhos caem na garota, na primeira fileira, e aumento o meu sorriso. — E vai ser um prazer dar aula pra vocês nesse semestre.
Já tenho minha próxima vítima.
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Olá pessoas, como sempre vim com o meu textinho de despedida (ou um até logo, nunca se sabe)
Obrigada a todos que leram OSDSO, que fizeram edits (meu Deus, eu surtei demais vendo-os no tiktok) que indicaram aos amigos e enfim, que me apoiaram e apoiaram essa ideia maluca. Nunca poderia imaginar que uma história minha, ainda mais com essa temática, teria um alcance desses. Obrigada de novo, vocês foram demais.
Para reclamações, elogios e surtos me procurem por aqui ou no twitter. Beijinho, se cuidem.
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O segredo do seus olhos
Fiksi PenggemarJennie Kim está fugindo do seu passado e encontra na faculdade de música uma forma de recomeçar. Entre o ódio que sente pelo mundo e uma amizade inesperada, ela acaba conhecendo Lalisa Manoban, uma mulher de olhos cativantes e misteriosos, e se apai...