Em silêncio, chegamos ao trailer de Jisoo.
Está vazio, mas mal noto isso em um primeiro momento. Minha mente ainda está presa ao que eu vi na praia: o caminhão, o homem morto, a garota misteriosa que Lisa não quer me contar onde a encontrou. Estou segurando a raiva, mas as minhas mãos em punho estão prontas para acertá-la. Lisa chuta a porta da frente do trailer e entra sem rodeios, eu vou atrás, mas já sei que não vamos encontrar Jisoo aqui.
Não há nada que indique que alguém esteve no trailer ou ao menos morou nesse lugar. É tudo tão empoeirado e inabitável, desde a comida mofada na cozinha ao colchão vazando espuma no quarto, que me sinto desconfortável em imaginar Jisoo vivendo em um lugar como esse. O nosso quarto de alojamento não era tão diferente em questão de bagunça, mas agora me incomoda o fato de não me reconhecer no meio da sujeira, de não ser algo compartilhado, de tudo só me dizer sobre a decadência de Jisoo e que eu não conheço mais essa versão dela.
Lisa pode estar certa, Jisoo deve estar ligada a Bambam de um jeito que eu não quero acreditar, algo dentro de mim não quer ceder a essa teoria.
Entro na cozinha, franzindo o nariz graças ao cheiro de mofo que sobe nas panelas enquanto Lisa está na sala, cheirando a borda dos copos sujos de uísque como se pudesse sentir o faro do irmão, até que deixa um dos copos cair e o som do vidro se espatifando no chão me faz pular de susto. Viro os calcanhares, com a mão no peito para controlar as batidas descompassadas do meu coração.
— Dá pra fazer menos barulho? — sussurro irritada.
Ela ri, jogando outro copo no chão. Lisa parece uma criança desobediente.
— O que foi? Acha mesmo que tem alguém aqui?
Solto uma risada também, mas de incredulidade.
— Você não está mesmo levando isso a sério, não é?
É como se apenas eu entendesse a gravidade da situação.
Lisa dá de ombros.
— Depois que você morre a primeira vez, as outras parecem fichinha... — Ela se aproxima, relaxada. — Achei que soubesse disso.
Tombo a cabeça para o lado, fitando dentro dos seus olhos amendoados. Nunca pensei que os anos me fariam ler Lisa tão facilmente. Talvez ela tenha perdido a capacidade de esconder seus sentimentos como antes ou eu aprendi a reconhecê-los.
— Você está com medo, não está?
Não tenho mais vergonha de dizer que eu estou com medo. Há algo no ar que me traz calafrios, estou sentindo na pele a sensação de estar sendo observada. É madrugada e tudo está tão silencioso, mas ao mesmo tempo, quieto demais. É como se estivéssemos em uma cidade abandonada, como se algo horrível fizesse com que todos os moradores fugissem e só sobrou nós duas, rondando pelas casas, procurando um mínimo de civilização enquanto câmeras nos observam igual ratos em um experimento.
Lisa desvia o olhar dos meus, mas não se afasta.
— Onde a sua irmãzinha deixou Leggo?
Franzo o cenho, nem um pouco surpresa pela mudança repentina de assunto.
— Jisoo está sumida e você está perguntando sobre Leggo? — retruco.
Lisa tenta sorrir, mas acaba virando uma careta.
— Não me leve a mal, ele é o único que merece ser salvo.
Observo-a sair do trailer pela porta dos fundos, procurando o felino nas latas transbordando lixo. A lembrança da primeira vez que visitei Jisoo, quando vi um fio de cabelo suspeito em Leggo, se acende em minha mente.
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O segredo do seus olhos
Fiksi PenggemarJennie Kim está fugindo do seu passado e encontra na faculdade de música uma forma de recomeçar. Entre o ódio que sente pelo mundo e uma amizade inesperada, ela acaba conhecendo Lalisa Manoban, uma mulher de olhos cativantes e misteriosos, e se apai...