Sucumbindo a dor e a escuridão, Carol se entrega ao seu pior lado, fechando-se para o amor e o que sobrou das coisas boas que poderia ter no fim do mundo. Depois de se separar da sua família e sentir que era parte dos mortos, sua única motivação par...
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DIA 1.860, anoitecer
Quando eu era mais nova e estranhamente me sentia entediada, pintar quadros era o que me mantinha centrada. Eu amava aquilo loucamente. Nos tempos atuais, mal me lembro que fazia isso, mas hoje há um estranho vazio dentro de mim, uma sensação de que vou ser engolida e massacrada senão tocar em uma gota de tinta sequer. Estou louca para pintar qualquer coisa. Poderia usar cores escuras para expressar meus sentimentos ou pintar até mesmo um céu perfeitamente colorido. Ou poderia apenas sentar na janela e ver as últimas cores do dia indo embora no céu que já vai ficando escuro.
Mas não consigo.
Não consigo nada além de andar de um lado para o outro da casa, inspirada demais e sem lugar algum para descontar minhas inspirações. Queria, na verdade, colocar o que sinto para fora sem chorar ou gritar com as pessoas. Pintar era mais fácil. Sempre foi. Até mesmo isso foi tomado de mim.
Arrumo meus cabelos outra vez, prendendo-os em um rabo de cavalo, então os solto e faço um coque, desistindo disso e os deixando soltos. Eles estão limpos, com um cheiro bom e um pouco mais ondulados. Tinha me desacostumado com isso... e com todo o resto do mundo. Passo os dedos pelos cabelos mais uma vez e caminho até o sofá, sentando-me e recostando a cabeça. Sherry, Dwight e as crianças saíram, até Bubble se foi. Há uma pequena confraternização todos os domingos à noite pelo que descobri, com pessoas se reunindo em uma das praças da cidade para jogar conversa fora e outras cosias.
Certamente não me sentiria confortável no meio das pessoas, e certamente, ficar sozinha aqui também não está sendo confortável. Deixo um pequeno suspiro escapar e apoio meus braços, apoiando o queixo sobre eles para assim, encarar a porta. É nesse exato momento que vejo ela se abrir e Tara entrar, carregando nas mãos uma garrafa com alguma bebida. Uísque, ao que parece ser.
— O que faz aqui? — questiono, confusa.
— Eu vim te ver — fala, como se fosse óbvio, jogando-se ao meu lado no sofá. — Não te vi na praça e achei que estava aqui depois do climão e da surra que você deu em toda a sua família.
— Você também viu?
— O que? — ela ri e bebe um gole do que tem na garrafa, estendendo para mim — todos viram. É o assunto da cidade.
Ótimo! Mais coisas para dar as pessoas, para continuarem falando de mim. Reviro os olhos e pego a garrafa da sua mão, confirmando que é mesmo uísque ao dar um gole. O liquido é quente, forte e calmante. Um gole grande me deixa levemente zonza pela falta de costume, fazendo com que os pensamentos comecem a ficar para trás. Graças a isso, dou mais dois goles seguidos, fazendo Tara rir.
— Vá com calma — pede, tomando a garrafa da minha mão. — Então, vamos?