V-Amélia

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Amélia fora levada para a alcatéia de Satomi, que ficava localizada em um local da floresta muito bem escondida. Ela duvidava da segurança daquele local, já que qualquer um que estivesse passeando pela floresta poderia simplesmente invadir e destruir tudo. Mas Satomi a assegurou de que estava tudo bem.

Amélia sentia-se um pouco fora do ar, como se algo estivesse faltando. Quando ela e Brett chegaram na alcateia, todos festejaram e abraçaram Brett, dizendo como eles sentiam falta dele. Ela ficou pensando se pertencia à algum lugar assim.

Sentiu um aperto no coração. Quando algum soldado perdia um membro em uma batalha, as vezes ele o sentia, a dor de um órgão fantasma. Agora ela entendia esse sentimento. Sentia a dor de um membro perdido, mas só não sabia qual. Queria poder e lembrar do lugar que viera.

Ela lembrava da mãe, pelo menos. Era uma mulher linda, de traços finos e delicados. Tinha os cabelos loiros como os de Amélia, mas seus olhos eram castanhos amendoados. Amélia queria ter os olhos da mãe. Eram gentis, doces e delicados.

Ela se lembrava vagamente de quando era pequena. A mãe costumava levá-la à uma sorveteria toda sexta-feira, e em seguida as duas iriam para o parque de diversões da cidade.

—Você me lembra seu pai, Amélia. Tem os olhos dele.

—Onde ele está agora, mamãe?

Sua mãe olhou para o horizonte. As duas estavam em uma roda gigante, bem no topo. A roda parou de girar e as duas ficaram paradas, no alto. Amélia balançou os pés, feliz. Adorava alturas. Amava ficar no alto. Se pudesse escolher um poder, com certeza seria voar.

—Ele teve que ir embora.

—Mas porquê?

A mulher loira a encarou e abriu um sorriso carinhoso. Pequenos pés de galinha surgiram no canto de seus olhos. Amélia pensou em como sua mãe era bonita. Suas covinhas combinavam harmonicamente com o seu rosto, como se tivesse sido milimetricamente planejado para isso.

Os cabelos louros e brilhantes voaram quando uma brisa gelada os beijou. Sua mãe olhou novamente para o horizonte, dessa vez com tristeza. Não costumava falar sobre o pai de Amélia. Era como se uma dor lacinante a incomodasse, como se toda vez que ela mencionasse o assunto, um peso descia sobre os ombros da mãe.

—Um dia você vai entender, princesa. Vai ser importante para o mundo. Está destinada à fazer uma tarefa que requer sacrifício.

—Que tarefa, mamãe? Vai ser difícil?

—Vai saber no tempo certo.—a mãe disse, sorrindo novamente.—Nada no mundo é fácil, Amélia. Você vai ter que lutar e vai perder gente que ama. Mas, no fim, vai valer a pena.

                               .  .  .

Amélia cruzou os braços quando um vento gelado soprou, arrepiando todos os pelos de seu corpo. Não sentia frio, apesar disso. A lua brilhava no alto. Ela ouvia risadas dos lobisomens membros da alcatéia à distância. Tinham feito uma festa para celebrar o retorno de Brett.

Ela tentou se encaixar. Tentou fazer amizades. Mas sentia que aquele lugar não lhe pertencia. Preferiu se retirar e encarar a cidade na beirada de um precipício, próximo à alcatéia.
Logo atrás de si estava a grande fogueira, que Satomi explicou ser uma homenagem aos seres superiores.

Ainda pensava na mãe. Ela estava morta agora, disso ela tinha certeza. Mas não se lembrava como ela morreu e onde ela passara os 10 próximos anos de sua vida. Tudo para ela era um mistério, e aquilo a incomodava. Gostava de se sentir no controle, de saber o que iria acontecer, de saber seus próximos passos.

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