De todas as coisas que Amélia tinha feito na vida, se transportar pelo vento com seus membros parecendo gelatina não tinha sido planejado. Ela odiava seu pai. Odiava ser uma semideusa e tudo que vinha nesse pacote horroroso.
Durante anos ela rezou para que seu pai aparecesse. Mas não, até mesmo Afrodite havia feito aquilo, mas Zeus não. Aparentemente a vossa majestade real, o senhor bunda mole, tinha decidido que agora era o momento de aparecer.
Tudo bem que ele havia lhe livrado do momento mais constrangedor da vida dela. Ela não sabia como iria dizer para Aaron que infelizmente seus sentimentos não eram recíprocos. Ele era seu melhor amigo, a pessoa que a acolheu quando ninguém o fez. Mas ele era superprotetor. As vezes tanto que sufocava.
Aaron seria fácil de amar, no entanto...
Mas Amélia queria um amor que fizesse seu corpo se arrepiar. Queria alguém que lhe tirasse da zona de conforto e que a incentivasse a se proteger por si só. Um nome surgiu em sua mente, tão rápido que ela mal teve tempo de processar. Ela piscou, ignorando o que tinha acabado de acontecer.
Aaron fazia questão de enfrentar os perigos no lugar de Amélia. Não era isso que ela queria.
Mas agora ela tinha outras preocupações. Zeus tinha a levado para uma montanha, bem acima do mar. As estrelas faziam divisa com as águas, misturando-se quase por completo.
O deus encarou a paisagem com a mesma expressão que Jason tinha quando estava prestes a dizer algo que Amélia achava tedioso. O vento fez os cabelos de Amélia se remexerem, e ela odiou não ter trazido uma xuxinha.
—Fala sério. — disse ela. — Poderíamos ter conversado na Casa Grande ou no Coliseu. Por que raios você me trouxe aqui?
—Você se parece com sua mãe. — disse o deus.
Amélia reprimiu a vontade de socar seu pai. Depois de dez anos, ele resolveu aparecer justo agora? E com a cara de pau começar a falar sobre a mãe dela?
—Você não merecia o amor dela.
O deus se virou para Amélia. Os olhos dançando em inconstância, idênticos aos dela. Por um segundo, ela teve medo de seu pai a transformar em purpurina, mas ela ignorou esse sentimento. Estava furiosa com ele.
—Tem a audácia dela. — ele continuou, o que fez Amélia revirar os olhos. — Sabe, Amélia, você pode achar que eu sou um covarde desprovido de coração, mas eu realmente amei sua mãe. A escolhi porque era a única capaz de cuidar de uma criança como você.
—O que você quer dizer com isso?
O deus abriu um sorriso e voltou a encarar o horizonte. O vento frio e rebelde não tirou nenhum fio de cabelo dele do lugar.
—Você é diferente de Thalia, Jason ou qualquer outro semideus. Acho que já deve ter percebido isso. — disse o deus. — Tem mais força, mais habilidade e mais poder. Amélia, isso não é uma coincidência.
Amélia fez uma careta.
—Eu te criei como uma arma. Eu queria alguém que pudesse defender o Monte Olimpo. — Zeus voltou-se para a filha e a olhou nos olhos. — Alguém que pudesse proteger os olimpianos e os seus irmãos semideuses.
—Você fez o quê? — berrou Amélia.
Ela fuzilou o pai com o olhar. Não podia acreditar que seu pai tinha acabado de confessar que ela era apenas mais uma arma no jogo doentio dos deuses.
—Eu não acredito que você e esse seu complexo que te faz querer girar o mundo ao seu favor te forçaram a criar um inocente para cuidar dos seus problemas! Por que você simplesmente não cria coragem e cuida das suas próprias ações? — Amélia berrou. — Por sua causa, mamãe está morta! Você matou a minha mãe!
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A Herdeira De Zeus
AdventureUma filha de Júpiter, General dos Acampamentos grego e romano, é sequestrada e exposta aos perigos do mundo mortal e divino. Ela é obrigada à provar seu valor e liderança diante de sua repentina amnésia, enquanto tenta se lembrar de sua vida passada...