XVII-Aaron

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Aaron já tinha visto de tudo em sua vida. Todos dos mais diversos monstros. Mas nada se comparava ao horror de presenciar o que estava acontecendo. A melhor parte era que Amélia estava bem junta de seu corpo, mas não era pelo motivo que ele desejava.

Acima da cabeça de Brett, estava um tridente, brilhando em uma cor verde-mar: o símbolo de Poseidon. Se Brett fosse um adolescente normal, Aaron saberia que se tratava de um filho de Poseidon, mas o cara era um lobisomem.

Um lobisomem. Filho de Poseidon. Aaron nunca imaginou que pronunciaria aquelas palavras na mesma frase. Que horror.

Os olhos dourados de Brett voltaram ao normal conforme ele percebeu que Aaron não iria lutar mais com ele. Estava confuso demais agora. Eles teriam outras vezes para lutar, embora Aaron soubesse que era muito melhor que Brett.

-O que foi? - perguntou Brett. -Qual é o problema?

Ele se levantou. Perto de Aaron, deveria ser uns dez centímetros mais alto. As vezes sua estatura média era algo que Aaron odiava, mas não era por isso que Brett o intimidava.

O lobisomem olhou para cima, na direção do tridente. Mesmo com a pouca luz, Aaron pôde ver que Brett perdera a cor. Estava pálido.

-O que isso quer dizer? -perguntou ele.

-Você foi reclamado. - respondeu Amélia. Ela disse baixo, quase para si, como se estivesse dizendo isso para ela mesma. - Por Netuno, ou Poseidon. Tanto faz.

Ela virou-se para Quíron, e os dois trocaram olhares significativos.

-Vamos conversar, Brett. -disse o centauro. - Mas amanhã. Hoje vocês tiveram um dia longo, e eu gostaria que estivessem descansados para amanhã. Recolham-se para seus aposentos.

Brett permaneceu onde estava. O tridente já tinha desaparecido, mas o lobisomem continuava olhando para cima, como se estivesse tentando acordar de um pesadelo terrível.

Aaron queria que o que ele estivesse vivendo agora não passasse de um pesadelo. Queria que não estivessem sob a ameaça de aniquilação mundial por um deus louco. Ele queria que estivesse vivendo sua vida normalmente, aproveitando seus dias com Amélia.

Era suposto que ela passasse o ano inteiro no Acampamento Meio-Sangue. Eles tinham planejado atividades para fazer juntos. Estavam tão felizes e animados com a nova perspectiva.

Mas então Rachel Dare, o Oráculo, recitou uma profecia, e tudo começou a desandar. James saiu em missão e ficou louco, depois se aliou com Érebo. Amélia, Aaron e Natasha saíram para derrotar a Rainha Aranha, mas depois a filha de Zeus desapareceu por dois meses.

Os meses mais longos e frustantes de sua vida.

Quando Aaron finalmente tinha Amélia de volta, ela tinha conhecido aquele cara idiota.

-Quanto à Scott e a alcateia. - continuou Quíron. - Levarei vocês para o chalé dos não-reclamados.

Todos os outros semideuses tinham ido embora, restando apenas Aaron, Amélia, Quíron e a alcatéia. Natasha e Mia trocaram algumas palavras, mas a filha de Afrodite logo foi embora.

-Aaron, você se importa de levar Selene até o chalé de Hades? -perguntou Amélia.

Ela lhe deu um olhar considerativo, algo do tipo "Chama ela pra Festa da Fogueira, seu idiota! Não pisa na bola!"

Aaron bufou de frustração, mas levou Selene até o chalé.

-O que pode acontecer com Brett agora? - perguntou Selene.

Eles estavam à uns dez metros de distância de Amélia e o resto do grupo. Aaron deu uma olhadinha para trás e a viu ao lado de Brett, com as mãos envolta da cintura dele. Ela dizia algo que fez o lobisomem dar uma risada.

Aaron se virou, sentindo uma dor no peito. De repente, pareceu lhe faltar ar, mas ele teve de se manter firme. Não podia ser tão sensível assim. Ainda não tinha acabado.

Mesmo assim, ver Amélia daquele jeito o machucava. Ele nem sabia expressar o quão difícil tinham sido os dois anos que ela e James namoraram. Havia momentos que Aaron implorava para rasgarem de vez seu peito, porque a dor seria muito melhor.

Aaron se forçou a encarar Selene. Ela o observava com atenção, o que o fez sorrir. Ela fez um movimento com a sobrancelha, que Aaron tinha reparado antes, típico de quando ela estava nervosa.

Será que ele a deixava nervosa?

-Eu não sei, Se. Nunca vi isso acontecer.

-Então isso é preocupante.

-Por quê?

-Porque se Brett for filho de Poseidon, significa que ele vai estar para sempre abandonado.

Aaron demorou para entender o que ela quis dizer. Amélia tinha lhe contado que Selene nunca conhecera seus pais, e vivia passando de lar em lar durante toda a sua vida.

Aaron não podia nem imaginar o quão difícil deve ter sido para ela. Ele mesmo não sabia o que faria se não tivesse sua linda mãe consigo. Provavelmente estaria morto agora.

Em um gesto delicado, Aaron puxou Selene pela cintura e afagou seu braço.

-Desculpe, não quis ser indelicado. - disse Aaron. - Os deuses nem sempre são presentes. Eu mesmo só vi Apolo umas quatro vezes. Ou menos.

-Hades nunca sequer quis saber de mim. - respondeu Selene. Aaron percebeu que seus olhos lacrimejaram um pouco, e ele se sentiu mal. Selene era tão delicada e gentil, não merecia ter passado por tudo isso. - Não é justo. Desculpe, estou sendo mole. Ignore o que eu disse.

Selene se afastou de Aaron, o que o fez protestar. Tinha se acostumado com o calor do corpo dela perto de si.

-Selene, está tudo bem. É normal termos momentos de fraqueza. Sua vida não foi fácil. - disse Aaron. - Você pode contar comigo sempre.

Selene deu um sorriso fraco. Ela passou a mão nos olhos e desviou o olhar. Os cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo. Ela ainda estava vestindo a armadura, fazendo-a parecer uma guerreira. Ficava linda usando ela.

-Obrigada.

Ela começou a subir os degraus do chalé, mas logo Aaron a impediu. Ele passou a mão no cabelo, nervoso. Era para ele fazer isso, senão Amélia o mataria. Mesmo que fosse contra a vontade dele.

-Selene, amanhã nós vamos ter a Festa da Fogueira e....

-O que é isso?

Aaron teve vontade de se estapear. Por que ele estava com tanta vergonha? E por que Selene sempre tinha que o interromper nos momentos mais importantes?

-É uma celebração que nós fazemos uma vez ao ano. Nós dançamos, cantamos e fazemos umas coisas legais. É mais para agradecer aos deuses, mas muita gente se diverte sem mesmo pensar neles.

Selene balançou a cabeça, induzindo-o a continuar.

-No final da festa, nós dançamos em pares... - disse Aaron. - Você quer ser o meu?

Selene piscou, surpresa. Aaron não sabia nem o que fazer em seguida. Ele apenas continuou encarando-a, esperando por uma resposta.

Um sorriso tímido surgiu nos lábios de Selene. Aaron sentiu seu rosto pegar fogo.

-Claro. Seria ótimo.

O filho de Apolo sorriu. Ele depositou um beijo na bochecha de Selene e saiu andando, com as mãos nos bolsos.

A Herdeira De ZeusOnde histórias criam vida. Descubra agora