Capítulo 4

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Julia me ignorou durante a semana toda, e por mais que não quisesse dar o braço  a torcer, eu sentia falta da presença dela. A abordei entre o intervalo das aulas. Ela estava sentada ao lado de Marina, e as duas pareciam bem entretidas enquanto conversavam. 

As convidei para dormir lá em casa quando anoitecesse. Marina concordou de imediato, já Julia fingiu pensar por um momento, mas sua atitude não me intimidou de maneira alguma. Eu sabia que ela aceitaria. 

 E como combinado, as duas apareceram na minha casa no horário certinho. Nós estávamos sentadas na bancada da cozinha enquanto a pipoca estourava no microondas e o cheiro salgado invadia nossas narinas, fazendo meu estômago roncar. 

Marina não parava de contar histórias engraçadas sobre o seu dia a dia. Eu ria tanto que minha barriga chegava a doer. 

E enquanto estávamos ali, me perguntei porque não a convidava para fazer mais coisas conosco. Focava tanto na minha amizade com Julia que acabava não dando chance à outras pessoas de fazerem parte da minha vida. 

Reparei em nossos pijamas. Eu vestia uma blusa azul bebê, bem maltratada pelo tempo, Julia vestia um pijama vermelho e a Marina vestia verde, tal qual a cor da roupa das Meninas Super-Poderosas. Achei engraçado, pois não tínhamos combinado de nos vestir assim, e acabei fazendo a observação. 

As duas riram. 

O microondas apitou, sinalizando que a pipoca já estava pronta. Afastei-me para pegar nosso lanche, o trazendo à banca em poucos segundos. 

-Michael com certeza seria o Macaco-Louco. - Marina brincou, e eu não pude evitar a gargalhada. A Julia também riu, mas percebi que sua risada não era lá muito sincera. 

Coloquei a pipoca no pote, derramando um pouco de manteiga sobre ela.  

Eu adorava pipoca amanteigada. Se estivesse sozinha, provavelmente teria derramado uma quantidade maior de manteiga, no entanto, as pessoas costumavam reclamar do meu exagero, o que me fazia dar uma controlada. 

- Você soube do escândalo que ele deu no restaurante? - Resolvi perguntar, pois Marina não se incomodava quando falávamos mal do irmão dela. Na verdade, ela se juntava pra falar junto com a gente todas as vezes, contando várias histórias absurdas sobre ele. 

- Soube sim. - Ela respirou fundo, enchendo a mão de pipoca e levando à boca. Mastigou um bocado antes de continuar. - Conversei com Casey sobre isso. Senti a necessidade de me aproximar dele e me desculpar. Não queria que pensasse que sou igual ao meu irmão. As pessoas costumam relacionar uma coisa a  outra. Se alguém da sua família tem a conduta questionável, já acham que você é assim também. 

Julia deu uma risada debochada. 

- Fala sério, Marina. Tá na cara que você não se aproximou dele por causa disso. - Comentou. - Você está doida pra ficar com ele.

Olhei na direção de Marina, sentindo meu coração disparar. Esperei que negasse a afirmação de Julia, mas ela apenas riu timidamente, pegando uma mecha de cabelo cacheado e a envolvendo no dedo indicador de maneira cuidadosa, como se quisesse ter uma distração a mais naquele ambiente e, ao mesmo tempo, desviar do olhar mordaz da outra.

Respirei fundo a medida que tentava organizar meus pensamentos e entender meus sentimentos. Parecia que um turbilhão de emoções havia me invadido naquele momento, fazendo com que eu me sentisse estranha e inadequada.

Não poderia sentir ciúmes de Casey.

Não era justo. Nem comigo. Nem com ele. Nem com ninguém. 

Embora não sentisse mais vontade de comer, eu ainda empurrava pipoca para dentro de minha boca, em uma tentativa de disfarçar minha frustração.

- Meu deus, Audrey. Vai com calma. - Julia fez uma careta, rindo logo depois. 

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