Capítulo 18

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Não me lembrava bem a hora que cheguei em casa, mas sabia que já passava de meia noite, e sendo assim, não imaginava ter a presença de ninguém no meu quarto, muito menos a de Julia. 

Quando entrei, só consegui enxergar a sua silhueta no escuro, de modo que quase gritei de susto, mas minha amiga foi rápida em se colocar próxima à mim e tapar minha boca antes que eu gritasse e acordasse meus pais. 

De todo modo, saber que não se tratava de um estranho não me acalmava em nada. Julia nunca tinha me visitado no meio da noite, tampouco sem me avisar. Quer dizer, eu tinha notado algumas chamadas perdidas no meu celular antes de chegar em casa, no entanto,  não pensei que pudesse se tratar de algo tão urgente ao ponto de fazê-la vir atrás de mim e me esperar no meu quarto. 

A garota fechou a porta  e me encarou, toda misteriosa, os braços cruzados e os músculos dos ombros endurecidos, me passando a sensação de que algo sério tinha acontecido. Sua postura trouxe um aperto no meu coração. O que diabos estava acontecendo? 

— Julia, fala logo! Por quê você está aqui? - Sussurrei, me segurando para não gritar. 

— Certo… eu tive uma discussão com o Michael mais cedo. - Falou pausadamente, tentando usar o seu tom de voz calmo. - Acho que nós cometemos um erro quando decidimos nos vingar dos dois. - Julia fez uma pausa, tamborilando a ponta dos dedos em seu queixo enquanto andava de um lado para o outro. - Não, nós não cometemos um erro em nos vingar, acho que só erramos em nos vingar daquela forma, entende? - Se aproximou de mim, olhando nos meus olhos de um jeito bem esquisito enquanto suas mãos apertavam meus ombros. 

Senti a ansiedade tomar conta do meu interior. Julia nunca admitia que estava errada, pelo menos não de um jeito tão claro. 

E, de certa forma, sua atitude também começava a me irritar. Ela não me dizia de maneira alguma o motivo de estar ali, só divagava, me deixando ainda mais confusa. 

— Qual foi o motivo da discussão, Julia? - Perguntei, sem conseguir esconder a impaciência em minha voz. 

Ela pegou o celular, erguendo-o na minha direção. 

Uma foto minha e de Casey poderia ser vista na tela. A fotografia havia sido tirada mais cedo, quando eu ainda estava com ele na praia. 

Pensava que estávamos sozinhos, ainda mais por ser de noite. Quase ninguém ficava próximo à praia naquele horário, então, era praticamente improvável que a gente fosse visto ou até mesmo reconhecido. 

Naquela foto em questão, pelo menos, não teria como eu ser reconhecida. Eu e Casey nos beijávamos, e a brisa da noite havia empurrado algumas mechas de cabelo na direção de nossos rostos, deixando-os escondidos. 

Mas depois a Julia passou para outra foto. E outra. E outra. 

Meu rosto poderia ser reconhecido na maioria delas, assim como o de Casey. 

— Quem tirou essas fotos? - Perguntei, engolindo em seco. Já sabia a resposta, mas precisava ouvir em voz alta. 

— Jackson. - Disse ela. - Michael disse que ele pretende mandar para seus pais. 

Fechei os olhos e respirei fundo, tentando assimilar o que estava acontecendo. 

Sentia como se fosse entrar em colapso a qualquer momento. Mas precisava manter a calma. Precisava manter a calma de algum modo. 

— Como eles podem ter tanta certeza que foi a gente? 

Julia hesitou. Abri os olhos e a encarei. Ela mordia os lábios, tentando transparecer um ar inocente, mas eu conseguia ver a culpa estampada em sua face. 

— Você contou… - Sussurrei. - Como pôde? 

— Não foi bem assim! Eu não contei! - Respondeu, colocando as mãos para o alto como se estivesse se rendendo. - Ele só me ligou muito furioso depois do colégio, e aí nós tivemos uma discussão feia. O Michael começou a me acusar, eu estava com raiva e acabei falando sem querer. - Dei um tapa na escrivaninha ao lado, irritada. O impacto da minha mão na madeira fez um pequeno globo de neve cair no chão. O objeto não quebrou, por sorte.   - Porra, Audrey! Você me conhece! Sabe que eu não faria isso, também tenho muito a perder! 

— Ah, é? Tipo o quê? - Aumentei o tom de voz, mas não ao ponto de gritar. 

Julia hesitou novamente, desviou o olhar e respirou fundo. 

— Ele sabe sobre o meu irmão… E sabe se lá o que ele pode fazer com essa informação. Me chantagear? Avisar a mídia?  - Falou em um tom de voz baixo, quase inaudível. Ergui os olhos na direção dela, e pude perceber a dor estampada em cada detalhe de seu rosto.  - Sei que você também sabe sobre a reabilitação e tudo mais, não precisa fingir surpresa. - Riu sem humor, sentando na beirada da cama. Me sentei ao seu lado e toquei seu ombro. Julia fez menção de se afastar no primeiro momento, mas acabou aceitando o gesto de carinho. - O Michael vivia fazendo piadinhas sobre isso, sabe? Zombava o Tyler por ser dependente químico, por estar se tratando na reabilitação, e pela minha família manter isso tudo em segredo.  - A risada sem humor se fez presente novamente, e Julia baixou o olhar, encarando as próprias mãos. - Foi por isso que terminei com ele. 

Ergui a sobrancelha em surpresa. Várias possibilidades haviam se passado pela minha cabeça, mas nunca imaginei que aquele tivesse sido o motivo. Michael nunca mencionava o irmão de Julia na nossa frente, talvez pelo fato de ser um assunto proibido entre a gente, quase um tabu.

Eu não fazia ideia de como eram as coisas entre os dois quando ninguém estava perto, e o fato do garoto usar a condição de Tyler para mexer com os sentimentos da minha amiga era simplesmente cruel, inadmissível. 

— A gente já não estava bem há muito tempo, na verdade. - Continuou. - E depois que eu e Alex matamos aula naquele dia, me dei conta de que fazia anos que não me divertia com o Michael. Com o Alex, tudo é mais leve e divertido, já o Michael… as coisas estão sempre tensas entre a gente,  até em situações mais tranquilas, sempre fico com a sensação de que uma bomba vai explodir a qualquer momento. - Ela engoliu em seco. - Percebi o quão desrespeitoso nós éramos um com o outro, e eu não queria repetir o mesmo erro dos meus pais: viver uma relação vazia só porque parece certo. - Seus olhos encontraram os meus. - Eu ainda gosto dele, mas me sinto mais livre agora. 

Assenti. Senti vontade de aplaudi-la, mas pensei que, talvez, aquele não fosse o momento. Além do mais, Julia poderia encarar minha atitude como deboche. 

— E você gosta do Alex?

Não me respondeu de imediato, apenas encarou algo à sua frente, parecendo pensar. 

— Não, eu o vejo mais como um amigo do que qualquer outra coisa. - Balançou a cabeça em positiva, como se estivesse confirmando as próprias palavras. Ergui uma de minhas sobrancelhas, sem conseguir acreditar. - Claro, a gente também se beija e tudo mais, só que sei lá… não o vejo dessa forma. O Alex me ajuda bastante, conversa comigo, me dá conselhos e sempre me faz rir. Ele é um bom amigo. 

— Ah, então quer dizer que ele está roubando meu lugar? - Coloquei a mão sobre o peito de maneira teatral, fingindo estar ofendida. - Quer dizer, ele é quase uma Audrey, mas sem a parte dos benefícios. 

Ela riu. 

— Cala a boca, você é insubstituível. - Desviou o olhar do meu apenas para checar o horário no celular.- Precisamos ir. 

— Espera aí. Pra onde? - Franzi o cenho, confusa. 

— Encontrar Marina. Ela disse que vai nos ajudar. 

— Quê? Marina? - Dei uma risada. Aquilo não fazia o menor sentido. 

Com um sorriso esperto, Julia se levantou da cama e caminhou em direção à porta, mas antes de deixar o quarto, virou-se para mim e piscou. 

— Te explico no caminho. - Disse ela, saindo do quarto sem ao menos esperar por mim. 

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