Estava sentada em um dos balanços, movimentando meus pés nos chão em uma tentativa de pegar impulso e começar a balançar para frente e para trás. Jackson também se encontrava no mesmo brinquedo, seu corpo virado de frente para o meu enquanto a testa permanecia encostada na corrente do balanço. Ele parecia refletir sobre algo conforme encarava o chão de grama sintética.
A falta de diálogo deixava um clima tenso no ambiente.
— Eu sabia que você mudaria de ideia. - O garoto decidiu quebrar o silêncio.
Meus pés pousaram com força no chão, parando o brinquedo abruptamente, de modo que pude inclinar minha coluna na sua direção à medida que o encarava, o cenho franzido denunciando minha falta de compreensão em relação às palavras do outro.
— O quê?
— Pô, Audrey. Esse parquinho... - Jackson abaixou a cabeça, e eu fui capaz notar suas bochechas corarem levemente sob a luz do céu estrelado. - Nós demos o nosso primeiro beijo aqui.
Droga.
Como eu poderia ter esquecido?
Há mais ou menos quatro anos, eu e Jackson costumávamos brincar nesse parquinho. Corríamos de um lado para o outro, descíamos no escorrega e brincávamos no balanço por horas seguidas. Aos treze anos, eu já não estava mais tão interessada em correr por aí, embora continuasse fazendo tal atividade para chamar a atenção de Jake.
Em um desses dias, ao invés de brincar como de costume, resolvemos sentar nos balanços e conversar sobre algo que era relevante na época, virados um de frente para o outro do mesmo jeito que nos encontrávamos agora, e enquanto Jake me contava sobre o seu dia, eu me inclinei na sua direção e o beijei.
Foi um beijo desajeitado e esquisito, bem típico de primeiro beijo. Lembro de ter odiado, e fiz até uma cara de nojo quando me afastei.
Jackson também achou nojento, mas continuamos tentando até aquele ato se tornar prazeroso. Uma semana depois, ele me pediu em namoro nesse mesmo lugar, me entregando um daqueles anéis de plástico, da cor roxa, que eu usei durante um mês e eu devo ter guardado em algum lugar até hoje.
— Jake… - Fiz uma pausa, sem saber bem o que dizer. A esperança brilhava em seus olhos, me fazendo engolir em seco. - Você acha mesmo que existiria uma chance da gente voltar? Quer dizer, mesmo depois de tudo o que aconteceu? - Não quis soar rude, pois realmente não era a minha intenção ali, no entanto, a ideia de tentar reatar com ele naquela altura do campeonato me parecia muito ilusória, de modo que fui incapaz de esconder a irritação no tom das minhas palavras.
— E não é isso? - Arregalou os olhos, sem conseguir me olhar. Sua perna tremia, mexendo para cima e para baixo em um gesto claro de nervosismo. - Por que diabos você me chamaria aqui, então? - Agora foi sua vez de usar o tom rude.
— Com certeza não seria para voltar com você, Jackson! Você enlouqueceu? - Aumentei um pouco o tom de voz, porque me sentia estressada e incapaz de controlar minhas emoções naquele momento. Já tinha lidado com a falta de compreensão dos meus pais mais cedo, e ainda precisava encarar a mente sonhadora do meu ex-namorado. Aquele dia não era um dos mais graciosos.
Me levantei do balanço, parando em sua frente com os braços cruzados. O garoto se levantou também, imitando minha postura, tomando coragem para me olhar nos olhos dessa vez.
Se alguém nos avistasse de longe, claramente pensaria que a gente se odiava.
Tal pensamento me deixou triste por milésimos de segundos. Nunca quis que as coisas chegassem naquele ponto entre nós dois.
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Ruínas
RomanceAudrey Jensen tem tudo que uma adolescente quer: estuda em Carter Bay High, o colégio de elite da cidade, tem uma melhor amiga que a apoia e um namorado que faria tudo por ela. Mas conforme vai amadurecendo, Audrey percebe que não está mais feliz na...