Capítulo 13

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Mais tarde, ao chegar em casa e encontrar meus pais na sala, eu me senti decidida a acabar com aquela história de uma vez por todas. 

Meu pai estava no sofá, lendo o jornal, enquanto minha mãe mexia em seu celular de maneira concentrada, só percebendo minha presença quando os cumprimentei. 

— Oi. - Falei, engolindo em seco. Nenhum dos dois pareceu ter notado meu nervosismo, e se notaram, ignoraram. 

— Filha, temos uma notícia! - A mulher falou animada, largando o celular no sofá enquanto se aproximava com um sorriso no rosto. 

— Que notícia? - Perguntei sem animação alguma. 

— Estava conversando com os pais de Jake, nós marcamos uma viagem para o  próximo feriado. As passagens já estão pagas, reservamos o melhor hotel, você vai adorar!  - Ela abriu um sorriso de orelha a orelha, esperando que eu fizesse mais perguntas, mas como fui pega de surpresa, simplesmente fiquei calada.  - Florença! Você sempre quis conhecer a cidade, lembra? 

— Quê? Eu conheço Florença, mãe. - Revirei os olhos. - Não quero ir. 

Meu pai tirou os olhos do jornal, me encarando com atenção e desconfiança. Sempre gostei de viagens, e sempre ficava animada com elas, então, era normal que os dois ficassem surpresos com a reação negativa, bem diferente da minha forma costumeira de agir. 

— Como assim não quer ir? - Ele perguntou. Minha mãe me observava com a mesma desconfiança, porém, sua expressão parecia mais surpresa comparada a dele. 

— Não é um momento legal para fazer viagem com a família de Jake… - Fiz uma pausa, tentando pensar nas palavras corretas a serem ditas. - ou com Jake. Vocês podem ir, mas eu não vou. - Dei de ombros, cruzando os braços contra o peito. 

Por um momento, me senti nua com aqueles olhares analíticos. Odiava quando me olhavam daquela forma, como de quisessem descobrir meus segredos apenas pela forma que eu me portava no momento. 

— É uma viagem de família, Audrey. Nós vamos abrir uma nova filial lá, e vocês precisam ir. Queremos que os dois estejam mais integrados nos negócios da família. - Meu pai explicou, falando lentamente, do jeito que os adultos costumam falar ao explicar algo à uma criança. 

Ah, então era uma viagem de negócios. Não sei porque me sentia tão surpresa. Tudo girava em torno de trabalho quando se tratava dos meus pais. 

— Você ouviu quando eu disse que não é um bom momento para viajar com Jake? - Me mantive firme, as sobrancelhas arqueadas, incrédula por ter a minha vontade tão ignorada. 

Minha mãe riu. 

— Querida, seja lá o que tiver acontecendo entre vocês, vai ser resolvido. - Ela se aproximou, tocando meu braço em um gesto carinhoso, mas seus olhos sobre mim eram um tanto frios, o que me fez dar um passo para trás e tocar meu próprio ombro em um movimento involuntário, como se o seu toque fosse contagioso ou algo assim. - Quantas brigas eu já tive com seu pai, não é mesmo? - Continuou, ignorando meu desconforto. 

— Dessa vez  é diferente. - Fechei os olhos, passando a mão sobre a testa. Mal tinha começado a conversa, mas sabia que qualquer tentativa de chegar ao ponto que eu queria seria em vão. 

— Diferente como? - Mamãe perguntou. 

Passei meu olhar rapidamente entre os dois, que me encaravam igual a duas águias. Eles sabiam o que estava por vir, e pareciam bem irritados pela inconveniência da filha de terminar com o namorado, consequentemente arruinando a viagem e seja lá o que eles estivessem planejando  em relação aos negócios. Eu nunca concordei em fazer parte dos negócios do meu pai, mas os dois pareciam me empurrar naquela direção como se não houvesse escolha. 

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