Capítulo 21

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Fiquei tão transtornada que tentei entrar no carro de Julia naquela noite. Por sorte, estava trancado, porque sabe se lá o que eu faria com tanta fúria em meu coração. 

Minha amiga conseguiu me impedir e me acalmar um pouco. Uma parte de mim agia de maneira teatral, fingindo que estava tudo bem, só que na verdade eu queimava por dentro. 

Queria falar com Jackson e tirar toda aquela história a limpo. Não só a traição, mas também o fato de ele ter sido cúmplice de um atropelamento. 

Era uma mistura de sentimentos e sensações intensas, eu simplesmente não sabia o que fazer. 

Como ele pôde? Me senti tão culpada por ter traído Jake, por ter mentido pra ele, quando na verdade o garoto fez o mesmo bem antes de mim. 

E em momento algum lhe foi pertinente trazer o fato à tona. 

Dormi na casa de Julia e deixei uma mensagem para meus pais dizendo que ficaria por lá. 

Resolvi visitar Jake ao amanhecer. 

Não fazia ideia de como conduziria aquela conversa, mas sabia bem que não seria mil maravilhas. Eu estava muito irritada. 

Parei na frente de seu portão e toquei a campainha. 

Ouvi sua voz sonolenta e confusa  saindo do interfone: — Audrey? 

— Abre a porta. - Eu praticamente ordenei. - Nós precisamos conversar. 

O garoto destravou o portão e eu entrei. 

Marchei pelo gramado com sangue nos olhos. A postura de Jake tampouco era convidativa. Estava parado na porta, as sobrancelhas franzidas, o olhar sério e os braços cruzados. 

Ele estava irritado, mas não tanto quanto eu. 

Jackson abriu a boca para dizer algo, porém, eu fui mais rápida em estender meus braços e empurrá-lo contra a parede mais próxima. Tal atitude impediu que o garoto falasse o que quer que estivesse pensando, por que meu gesto grosseiro acabou lhe deixando assustado. Agora, ele me encarava com os olhos arregalados, as sobrancelhas arqueadas em surpresa. 

Era bem provável que estivesse esperando uma reação negativa da minha parte por conta da ameaça, mas eu duvidava que ele imaginava que me veria agir de maneira tão agressiva. 

Meu descontentamento possuía o nível tão elevado que eu mal conseguia medir a força ao apertar seus ombros, mas o seu bem-estar tampouco entrava na minha lista de prioridades naquele momento. 

— Seu filho da puta! - Eu gritei. Ele tinha sorte de seus pais não estarem em casa. De todo modo, na noite anterior, após ter me acalmado um pouco e pensado com mais clareza, me dei conta de que nada adiantaria envolver os pais do garoto naquela situação. E a ausência deles no ambiente me deixava mais à vontade para gritar e xingar o quanto quisesse. - Eu te odeio! Te odeio! Te odeio! 

— Audrey, eu… - Jackson riu de nervoso, tocando minhas mãos em uma tentativa de tirá-las de seu ombro. Reforcei o aperto. Sabia que Jackson tinha força suficiente para afastá-las de si, mas ele apenas deixou a mão por cima da minha, apertando-a como se estivesse querendo me acalmar. - Eu não iria mandar aquelas fotos, ok? Eu só quis te assustar, quis que você se sentisse da mesma forma que eu me senti. - O garoto engoliu em seco. - Eu não sou como você. - Seus olhos encontraram os meus. Irritada, o empurrei ainda mais contra a parede. 

— Não, você é bem pior. - Falei em um sussurro. Os músculos da minha face se encontravam tão tensionados que doíam. Principalmente minha mandíbula. - Você não só me traiu como também estava na noite em que Michael atropelou uma pessoa e fugiu! 

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