Capítulo 20

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— O quê? - Eu quase gritei. Nenhuma das duas demonstraram qualquer reação. Talvez já estivessem esperando que dar aquela notícia não seria bem um mar de rosas. 

Apesar de não ter dito nada, o olhar surpreso de Julia falava mais do que qualquer coisa. 

— Eu não acredito que defendi esse idiota!  - Julia revirou os olhos, referindo-se ao dia que descobriu que algo rolava entre Casey e eu. 

Meu coração pulsava. Eu estava tão tensa que sentia meu corpo esquentar e o sangue subir para o meu rosto. 

Era muita coisa a ser digerida de uma vez só. 

Nada daquilo fazia sentido. 

Primeiro fiquei sabendo que Jackson foi cúmplice de um atropelamento e agiu normalmente durante meses, depois me contam que ele me traiu. Tudo de uma vez só. Parecia que Marina e America estavam querendo me torturar. 

Não tinha como Jackson ter me traído. Ele me amava muito para ser capaz de fazer tal coisa. 

— Você está mentindo. - Falei em um tom de voz trêmulo, os punhos fechados. - Ele não faria isso.

Mas como eu iria saber? A história contada por Marina só provava que eu não sabia do que ele era capaz de esconder, e embora tivéssemos passado quatro anos juntos, eu não o conhecia tão bem quanto pensava. 

E que direito ele tinha de me culpar por ter lhe traído? Me senti uma pessoa horrível durante todo esse tempo, sendo que Jackson tinha feito o mesmo e nunca me contou. 

Um emeranhado de sentimentos tomava conta de mim. Me corroía por dentro, me fazia querer gritar. 

Julia tocou meu ombro, querendo me acalmar.  Não funcionou. 

Aquele cômodo, que antes era enorme, começava a me dar a sensação de ser pequeno demais. 

Me senti sufocada. 

Olhei na direção da porta, controlando o impulso de sair correndo dali. 

— Lembra da viagem que fizemos no ano passado? Por causa do campeonato de futebol da escola? - Amy continuou, ignorando minha acusação. 

Assenti.

— Em nova Iorque. - Comentei. - Eu não fui… Tinha machucado o tornozelo, não pude participar. 

Fui líder de torcida até o final do ano passado. Aquele campeonato havia me animado excessivamente, de modo que dei tudo de mim nos treinos, mas acabei machucando meu tornozelo uns dias antes da viagem. Uma torção leve, nada grave. Tanto que em poucas semanas eu já tinha retornado ao time. Só que, depois de um tempo, fazer parte da torcida já não me trazia mais tanta animação como antes, o que me fez procurar outra atividade extracurricular. Teatro e vôlei se tornaram bem mais interessantes. 

— Sim, eu lembro. - Disse America. - Nós passamos um final de semana lá. Eu e Michael acabamos nos aproximando nesses dias, conversamos bastante e, em uma dessas conversas, é, bem...

— Bem o quê? - Perguntei, ríspida. - Fala logo, America! 

Ela encolheu os ombros. Marina afagou suas costas em uma tentativa de acalmá-la. Por algum motivo, aquele gesto me deixou ainda mais irritada. 

— A gente quase se beijou. - Ela engoliu em seco. - Quer dizer, não foi quase, mas… - Fez uma pausa, abaixando o olhar para o chão. 

— Quê? Beijou ou não beijou? - Minha impaciência se fez presente outra vez. 

— Foi um selinho. - Confessou. - Dois selinhos, na verdade. E nós andamos de mãos dadas. Não aconteceu nada mais do que isso. - Falou, como se o fato de não ter acontecido nada mais pudesse me tranquilizar. 

Passei a mão sobre a testa. 

O porão parecia ainda menor e começava a esquentar. Eu não sabia se  a temperatura do ambiente realmente havia aumentado ou aquilo só era mais um efeito colateral do meu nervosismo. 

Levantei e corri em disparada até a porta. Precisava sair dali. Precisava tomar um ar. 

Corri na direção do gramado, sentindo a brisa gélida acariciar meu rosto, mas a serenidade da noite não foi capaz de fazer com que eu me sentisse melhor. Então, me apressei em direção à saída. 

Ouvi alguém gritar meu nome, provavelmente tinha sido Julia. Não tinha certeza, também não parei para escutar quem quer que fosse. 

Eu só precisava ir embora. 

Precisa ir atrás de Jake. Precisava confrontá-lo. 

Pouco me importava se eram três da manhã. Ele iria acordar. 

E pouco me importava também se eu acordasse seus pais. Era bom que a família dele ficasse sabendo de seus podres de uma vez por todas. 

Se é que não sabiam. 

Nada mais me surpreendia. 

De qualquer forma, sabendo ou não, nada e ninguém seria capaz de impedir o escândalo que eu estava prestes a fazer. 

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