Kalimann's Anatomy

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Alguns dias depois...

Hospital Universitário Grande Irmão

Tinha acabado de chegar no hospital para mais um plantão, dessa vez de apenas 12 horas. Guardei minhas coisas no armário, coloquei meu jaleco, meu estetoscópio e fui logo atrás de Marlene.

As pessoas acham que quem comanda hospital é médico, mas a verdade é que as enfermeiras são mais importantes que nós. E Marlene, a chefe da enfermagem, foi quem me ensinou mais sobre medicina do que qualquer professor da faculdade.

- Bom dia, Marlene.
- Bom dia, dr. Rafaella. Tenho uma ótima notícia pra senhora.
- Ah não, Marlene. Quando você começa com isso é porque vem bomba pro meu lado. O que temos de nojento hoje que os outros médicos deixaram pra mim?
Todo médico que trabalha em Pronto Socorro sabe sobre isso, se algum paciente chega com algo nojento – e acredite, sempre tem algo nojento do Pronto Socorro – você deixa pro médico que vai começar o plantão em breve.
- Não é paciente – diz Marlene sorrindo.
Na mesma hora sabia do que ela estava falando. Éramos um hospital Universitário afinal.
- Ahhhh não Marlene, mas não tá nem na época de receber internos.
- É mas parece que essa interna foi transferida de outro estado. Vai começar hoje. E ela é tooooda sua. Ordens da dr. Marcela.
Dr. Marcela era a chefe do departamente e aparentemente não gostava muito de mim.

- Ok, ok. Que horas ela vai chegar?
- Uma da tarde.
Olhei no relógio: 12:00. Ótimo, ainda tenho 1 hora de paz.

Fui para a mesa da triagem e olhei algumas fichas, uma criança com tosse e febre, uma mulher com dor na barriga, uma senhora que caiu.
Resolvo pegar a ficha da senhora, prioridade sempre.

- Bom tarde, senhora Salete. Então a senhora caiu?

- Boa tarde, doutora. Ah eu cai, mas to bem, minha filha que é exagerada. Não está nem doendo. Só sangrou um pouco.
- Exagerada né? Quando viu esse sangue saindo da sua cabeça a senhora ficou mais assustada do que eu. – A filha não estava nem um pouco feliz de estar ali. Imaginei que fosse a preocupação.
- Deixa eu dar uma olhada nesse corte.
Com cuidado, examinei a cabeça da mulher, um corte pequeno mas com alguma profundidade estava la. Examinei o resto de seu corpo mas parece que ela realmente deu sorte.
- Bom, vai precisar de 1 pontinho nesse corte, mas fora isso a senhora está bem. Vou pedir pra enfermeira preparar o material e já volto, tudo bem?

Depois de alguns minutos, voltei à sala, fiz a sutura e dei alta para a senhora com a recomendação de que se sentisse qualquer coisa, voltasse ao hospital. Nunca dá pra descuidar de idosos, uma queda pode ser catastrófica.

Olho no relógio, 12:30. Pego outra ficha, mulher 45 anos, dor na barriga. Faço todo o atendimento, era uma pancreatite, alguém bebeu demais no final de semana. Passa algum tempo e escuto chamarem meu nome.

- Dr. Rafaella?
Vejo uma menina que tem cara de 12 anos e tamanho de 12 anos.
- Sim?
- Eu sou a Manoela Gavassi, sua nova interna.
Acho que fiquei com uma cara meio chocada porque a mesma ficou sem graça.
- Ah sim, me falaram que você viria. Vá à sala dos internos e se troque. Encontro você na triagem em 5 minutos.

- 5 minutos depois -

- Ok, Manoela. Em qual período você esta?
- 11° período.
- Ok. Primeira coisa: Você não é médica. Eu vou te chamar de médica na frentedos pacientes mas é só pra não ficarem com medo. Você é uma interna. Estudante.Estude. Não ache que só porque está no último ano já sabe tudo. Fui clara?
Eu sempre era mais rude com internos porque a maioria chegava aqui se achandoos melhores médicos do planeta. Acho que estavam assistindo série demais, chegam aqui achando que vai ser Grey's Anatomy.
A garota concordou.
Peguei uma ficha e dei pra ela.
- Ok, vamos ver do que você é capaz.

Seguimos para o leito...

- Boa tarde, sr. Alves -  Falo olhando a informação do pai do menino na ficha. – Bom dia, Guilherme. Sou a dr. Rafaella,essa é a Dr. Manoela.
- Como esta se sentindo, Guilherme?
- Ruim. – O menino era tímido, então seu pai começou a listar todos seus sintomas; Tosse e febre há 2 semanas, achou que era uma gripe mas não passou. A tosse foi ficando pior, o menino começou a ter crises mais altas de febre, resolveram vir ao PS.

- Ok, entendi. Dr. Manoela, por favor, examine o paciente.

Manoela fez toda a parte de clínica e pegou seu estetoscópio para auscutar os pulmões do garoto.

- O que você auscutou? – pergunto
- Ele está taquipneico*. – percebi que a garota não fazia idéia o que tinha auscutado. Ah, internos...

- Vou auscutar você, tudo bem Guilherme?! Comecei a auscutar o menino. – Venha aqui Manoela, coloquei o estetoscópio nela sem tirar o diafragma do peito do menino.– O que você escuta?
A cara da garota ficou vermelha e ela apenas permaneceu calada.
- Estertores crepitantes*, dr. Manoela. Juntando com os outros sintomas, qual odiagnóstico?
- Pneumonia talvez?
- Talvez não, você tem que ter certeza. Qual o próximo passo?
- Raio X.
- Errado, desnecessário. Pela auscuta não é uma pneumonia grave.
Olhei para o pai – Vamos passar alguns antibióticos e se em 3 dias, ele não melhorar ou piorar, quero que o senhor volte aqui, tudo bem?  - O homem acenou.

Saímos do leito e pude ver que a garota estava claramente envergonhada.
- Eu quero que você vá pra casa e estude.
- Mas, dr. Rafaella, eu acabei de chegar...
- Não tem como ser médica sem saber fazer uma auscutação. Amanhã, se você não souber de novo como uma pneumonia se

separece, pode procurar outro médico para tentar lhe ensinar. Entendeu?

- S-sim, dr. Rafaella.

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Manoela's POV

Meu deus, a enfermeira tinha me avisado que a Dr. Rafaella era exigente, mas não imaginei que ela me expulsaria do hospital. Tudo bem, eu deveria saber aquelas coisas, mas caramba, precisava de tudo isso?
Fui pra casa e logo comecei a estudar. Amanhã teria uma segunda chance.



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Vou explicar alguns termos:

Taquipneico - Quando a frequencia cardíaca está acima no normal.

Estridores Crepitantes - O som que se escuta em um pulmão com pneumonia, entre outras doenças.

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Hello people! Manu chegou na nossa fic. Sou cadelinha Ranu tbm, então não poderia deixar meu bebê de fora hahhhah

Gente, se vocês acharem essa parte do hospital longa ou descritiva demais, me avisem. Eu sou médica, então posso me empolgar kkkk Claro que não estou escrevendo tudo como acontece na realidade, isso é uma fanfic, mas vou sempre deixar o mais perto possível.

E tenham paciencia que daqui a pouquinho os caminhos de Girafa se cruzará!

Não esqueçam de comentar, é importante pra mim saber se vocês estão gostando!
Bjoooo!

Recomeço - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora