Coragem

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Gizelly já estava domindo há algum tempo. Estava deitada em meu peito com o braço passando por cima de mim. Eu tentava relaxar mas não conseguia. Minha cabeça estava a mil. Refletia sobre a noite que tive, não só com Gizelly, mas também com Manu e me dei conta de que nem lembrava a última vez em que estive tão alegre. Quando decidi não me envolver demais com ninguém, eu fiz por proteção, mas agora me pergunto se realmente estava bem com essa escolha. Será que foi mesmo proteção ou covardia? Tentei lembrar da última vez que fui feliz, realmente feliz e só podia lembrar de mim antes dos 15 anos. Eu não gostava de viver sozinha. Eu gostei de estar com as duas. Ri ao lembrar das histórias delas e percebi uma onda de felicidade em mim. Me sentia feliz com a presença das duas. Olho para Gizelly dormindo profundamente em meus braços e sinto um aperto em meu peito. Uma lágrima escorre na minha bochecha e sei o que estou sentindo. Medo. Abraço Gizelly mais forte. Precisava parar de ser covarde. Só não sabia se seria capaz.

(...)

Acordo com um barulho de celular tocando, viropara o lado procurando o meu mas percebo que na verdade é o de Gizelly tocando.Tento acordá-la mas a mulher só resmunga, colocando o lençol sobre sua cara.
- Gi, seu celular. Deve ser importante, a pessoa não desiste.
Ela resmunga mais uma vez e finalmente atende. Percebo na mesma hora que algo aconteceu.
- Mas como ele está agora? Ok, estou à caminho.
Ela se levanta rápido, pegando suas coisas do chão, me avisando que seu pai havia sido levado ao hospital dos veteranos. Não deram muitos detalhes pelo telefone,mas aparentemente ele estava estável.
- Eu vou com você.
Não sei quem ficou mais surpresa com aquelas palavras, eu ou ela.
- Não precisa, Rafa. De verdade.
- Eu sei o histórico dele, posso ajudar de alguma forma. Me dá só um segundo que vou me vestir e a gente vai.

Chegamos no Hospital por volta as 11 da manhã e enquanto Gizelly foi para o quarto ver seu pai, pedi para falar com o médico responsável. De acordo com ele, o general estava no quartel e sofreu uma convulsão enquanto conversava com alguns militares. Ainda estavam esperando os resultados dos exames, mas o homem estava bem. A causa da convulsão ainda era um mistério.
Me perguntei se o general havia falado da medicação que ele estava tomando para sua possível esquizofrenia, mas resolvi não falar nada antes de conversar com ele e Gizelly. Errado, eu sei, mas tinha quase certeza que o remédio não poderia ter provocado uma convulsão.
Bati na porta do quarto e entrei quando Gizelly acenou com a cabeça.
- Bom dia, sr. Mário.
- Dr. Rafaella? O que faz aqui?
Eu estava vestindo um jeans escuro com uma blusa azul marinho de manga 3/4. Bem longe da minha "roupa de médica".
- Eu soube que o senhor passou mal e resolvi vir aqui para tentar ajudar em alguma coisa.
- Como soube que eu estava aqui?
Olhei para Gizelly com um olhar do tipo Oque eu falo? E ela captou a mensagem.
- Eu liguei pra ela, pai. Achei melhor alguém que sabe da sua situação estar aqui. Ele não contou pro médico do remédio – ela diz olhando pra mim.
Expliquei que achava improvável o remédio ser a causa e decidimos apenas esperar o resultado do exame de sangue.
Alguns minutos depois o médico voltou. O hemograma mostrava sinais de inflamação mas nada expecífico.
- O senhor teve alguma doença nesses últimos dias? Uma dor de garganta, gripe,febre, qualquer coisa? – o médico perguntou
- Tive uma gripe e febre algumas semanas atrás, mas nada sério.
Quis falar da crise, mas ao olhar pra Gizelly percebi que ela queria manter aquilo entre nós. O médico assentiu e explicou que não tinha como dizer omotivo da convulsão mas que ia fazer o encaminhamento para o neurologista, assim poderia investigar melhor, porém o neurologista só ia chegar as 5 da tarde.
- Não quero ficar aqui o dia inteiro. Me sinto bem, quero ir para casa.
- Mas pai...
- Não, Gizelly. – o homem a interrompeu – Depois marcamos uma consulta. Mas não aguento mais ficar aqui.

Ela ainda tentou convencê-lo mas foi em vão. O general foi ao banheiro eGizelly aproveitou para conversar comigo.
- Olha, já atrapalhei demais seu dia de folga, pode ir que nós vamos de táxi.
- Claro que não. Eu levo vocês.
- Não, eu preciso passar em casa e pegar umas roupas, meu computador e alguns documentos do trabalho antes de ir pra casa dele. Vou passar uns dias lá garantindo que ele não vá ter mais nada e nem que vá trabalhar escondido.
- Bobagem, nós passamos na sua casa e depois eu levo vocês até a casa dele.
- Rafa.. – a interrompi
- Está decidido, Gizelly.

Passamos rapidamente na casa de Gizelly e seguimos para a casa do general.
Peguei a bolsa com roupas que Gizelly havia levado, enquanto ela entrava nacasa com o resto de suas coisas. O general agradeceu pela minha presença e se despediu de nós falando que ia tomar um banho.
Depois de deixarmos suas coisas no quarto, Gizelly e eu voltamos para a sala para conversar.
- Obrigada. Você não precisava ter feito isso. – Estávamos as suas sentadas no sofá, lado a lado.
- Não precisa agradecer, seu pai foi meu paciente, quero ajudá-lo.
- O que você acha que ele tem? Estou preocupada, tudo isso acontecendo agora,não sei o que pensar. Acha que está conectado?
- Não sei, mas também acho estranho tudo acontecer junto. Acho que de alguma forma tudo está conectado sim. Marque a consulta com o neurologista. Ele pode pedir uma tomografia e eletroencefalograma. Vamos ter mais respostas depois disso. E você vai me mantendo informada, ok?
Ela apenas acenou com a cabeça e ficamos em silêncio por alguns seguntos antes de eu me levantar e avisar que era melhor eu ir embora.
- Espera! – ela disse segurando minha mão.
Ela se levantou, colocou suas mãos em meu rosto e me deu um selinho longo.
- Obrigada também pela noite. – falou encostando a testa na minha. Suas mãos faziam um carinho tão gostoso em minha bochecha que eu me recusava a abrir os olhos. Ela foi se afastando, mas a puxei para outro selinho, dessa vez um pouco mais rápido.
- Obrigada você. Foi incrível.  – falei olhando em seus olhos. – Ela abriu um sorriso lindo e eu retribuí.
- Isso quer dizer que vou te ver de novo e não só como médica do meu pai?
Sentia minha barriga revirar por dentro... nervosismo?
- Eu te ligo. Prometo. – falei ainda sorrindo. Dei mais um selinho em sua boca e fui embora.

Enquanto entrava no carro, me peguei pensando em como era estranho estar em um condomínio de casas militar. Para onde olhava via homens de farda e por um momento tive medo de sair de lá ao som de Bolsonaro 2022! Imagina crescer em um lugar assim... Será que o general sabia que Gizelly gostava de mulher? Deixei meus pensamentos de lado e fui para casa, sem nunca parar de sorrir.

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Faaaaala, girafinhas! Um epi um pouco curtinho mas boiolinha pra vocês!
Espero que gostem! Não esqueçam da estrelinha, de comentar e divulgar a fic *.*
Bjooooooooooo, volto logo!

Recomeço - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora