Três dias e nenhuma mensagem. Sinceramente não entendi nada. Achava que nós tinhamos tido uma conexão mas pelo visto foi só eu que senti. E mesmo assim, de vez em quando Rafaella aparecia em minha mente, especialmente nos sonhos. Sonhava com a nossa noite e acordava precisando de um banho gelado.
Eu era uma mulher orgulhosa, então me sentir rejeitada estava fazendo meu ego ferver. Mas quer saber? Foda-se ela e seus olhos verdes maravilhosos. Tenho mais o que fazer.
Depois daquele almoço com meu pai, liguei para um conhecido da polícia e pedi que me enviasse a ficha de todos os moradores do condomínio de meu pai. As pessoas tendem a obedecer quando você está em uma posição de poder e qual policial não quer ter um desembargador lhe devendo uma?
Recebi os documentos e eram centenas. Resolvi focar apenas nos militares e não nas famílias e aqueles que tinham carro preto ou azul escuro. Depois de dias analisando tudo não consegui achar nada de suspeito. Ninguém tinha qualquer motivo pra perserguir meu pai.
Mandei mensagem pra ele avisando que estava indo para sua casa para jantarmos juntos. Ele não respondeu. Estranhei.
Minutos depois cheguei lá e como minha passagem já era liberada, não precisaram interfonar.
- Pai? – chamei por ele. Nenhuma resposta. Andei pela sala, cozinha, escritório, nenhum sinal dele. Finalmente fui até seu quarto e quando fui abrir a porta percebi que estava trancada. Bati na mesma, chamando pelo general e nada.
- Pai, abre a porta! – escutei um barulho lá dentro mas a porta continuou trancada
- Você quer que eu chame alguém aqui pra arrombar essa porta? Por que se você não abrir agora é isso que eu vou fazer! – gritei, já nervosa
Mais barulho e dessa vez a porta se abriu.
- O que qu...- Nem terminei de falar porque quando vi o estado do quarto perdi a fala. As janelas estavam fechadas com tábuas de madeira bloqueando por dentro. O quarto estava cheio de resto de comida pelo chão. Tudo fedia a sujeira. Olhei pra papai e ele estava com uma aparência péssima, de alguém que não tomava banho há dias. A barba, que era sempre muito bem feita, estava grande e bagunçada. Ele estava com um pijama branco mas todo manchado de resto de comida e fedia a suor.
- Que diabos é isso pai? – Meus olhos estavam arregalados e eu estava prestes a chorar.
- Gizelly, você tem que se proteger, minha filha. Os homens estão atrás de mim, aposto que estão atrás de você também. As forças estão a favor deles. É uma conspiração. Vão me matar e matar você também!
Eu só conseguia olhar pra meu pai em silêncio tamanho o choque que estava sentindo. Ele tinha pirado? Estava tendo um surto?
- Pai, do que você ta falando? Não tem ninguém querendo matar a gente, pelo amor de Deus. Você usou alguma coisa?
- Me respeite, Gizelly! Jamais usaria drogas! Estou falando sério. Eles estão todos contra nós! Querem acabar com a gente. Vem, eu vou te explicar tudo!
Ele me puxou para a cama e fiquei sentada lá escutando o que ele falava...
- Eu percebi há algumas semanas! Lhe falei do carro preto certo? Os soldados não viram nada então tenho certeza que eles tem um dispositivo para apagar a memória de quem os vê.
Nada fazia o menor sentido.
- Eles quem pai?
- Os homens! Os que querem nos matar! Eles querem tomar meu lugar como general e destruir o Brasil! Mas eu não vou permitir, filha! Não vou!
Comecei a chorar. Meu pai estava tendo um surto psicótico na minha frente. Era isso?
Meu coração batia tão forte que eu achei por um segundo que fosse desmaiar. Olhei para ele e ele tinha um olhar preocupado pra mim.
- Pai, não tem homem nenhum. Eu juro. Eu acho que você tá doente, a gente precisa ir pra o hospital agora.
Assim que falei de hospital, meu pai surtou de vez. Começou a gritar e falar que alguém tinha feito lavagem cerebral em mim mas que ele ia consertar isso, que ia me proteger. Eu só conseguia olhar pra ele e chorar. Até que enquanto ele gritava sobre "os homens" ele começou a ficar muito pálido e desmaiou.
- Pai? Pai? Acorda pelo amor Deus. Pai! – gritava mas nada o trazia de volta.
Liguei para uma ambulância. Resolvi não chamar o equipe médica militar com medo do que iriam fazer com ele caso soubessem que seu estado mental.
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Recomeço - Girafa
RomanceExiste um ditado que diz "O amor cura" e Rafaella estava prestes a descobrir se isso era verdade ou não ao ver seu mundo - até então impenetrável - ser atingido por um Furacão.