Consequências

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De acordo com o dicionário, a palavra consequência significa conclusão que deriva de um raciocínio lógico; inferência, ilação, dedução.

Para Rafaella aquela definição não valia. Seu raciocínio não havia sido lógico, havia sido o oposto disso, inclusive. Quando se vê recuado o ser humano tende a tomar decisões precipitadas e errôneas. O nosso instindo de luta ou fuga é tão primitivo quanto os primeiros homo sapiens, mas mesmo assim nem sempre escolhemos o caminho certo. Naquela dia, Rafaella escolheu errado. E naquele dia Rafaella decidiu fugir.

O plantão que começaria às 11 horas foi ignorado. As ligações do hospital, ignoradas. As ligações de Manoela, ignoradas.
Não queria falar com ninguém. Não conseguia. Não quando seu coração doía tanto ao saber que decepcionou aquela que mais amava. Que mentiu, sabendo que era errado e que talvez tivesse perdido sua chance de felicidade.
A única coisa que fez o dia inteiro foi chorar na cama olhando para seu celular. Não tinha coragem de ligar para Gizelly mas tinha a esperança de que ela ligasse.
Dormiu do mesmo jeito que passou o dia inteiro: em lágrimas.

GIZELLY POV

Como descrever o que eu estava sentindo? Tristeza? Sim. Decepção? Também. Frustração? Com certeza. Mas tinha algo mais... Eu me sentia traída. Eu sei que muita gente conta como traíçao quando envolve outra pessoa, mas acho que a traíção da confiança consegue machucar mais. Não tem como tentar culpar terceiros para aliviar a dor. Não tem como tentar dividir a culpa.

Meu dia no trabalho foi infernal. Mal conseguia prestar atenção nas pessoas e fui embora assim que consegui.

O resto do dia, usei para ficar refletindo sobre meu relacionamento com Rafaella e o que ele significava pra mim. Sim, eu a amava e eu sabia que era recíproco. Mas o amor é apenas um dos sentimentos necessários para uma relação dar certo.

Ainda de manhã, Manoela havia me ligado, mas eu ignorei. Não queria envolvê-la nisso, afinal ela e Rafaella já tinham uma amizade agora e só complicaria mais as coisas.

Acordei cedo no outro dia pois as 8:00 havia audiência do homicício de Fernando Queiroz. Ainda não entendia o que havia acontecido no primeiro julgamento para o réu ser considerado inocente e estava curiosa para o desenrolar do caso hoje.

O promotor do Ministério Publico começou chamando o legista responsável pela autópsia da vítima.
Ao todo foram 3 tiros, todos nas costas da vítima. De acordo com o legista, pela altura dos tiros, o criminoso teria em torno de 1m80cm de altura, que era a altura do réu, disse o promotor.
Seguimos por mais algum tempo e o promotor resolveu chamar uma segunda testemunha. Dessa vez era um homem chamado Lucas Galina, de acordo com o que havia lido sobre o primeiro julgamento, essa era uma das testemunhas que viu Jõao atirar em Fernando.

- Sr. Galina, pode me contar o que viu naquela noite?

Assim que o homem começou a falar pude ver a cara do promotor ficar branca. O testemunho do homem mudou completamente. Agora, de acordo com ele, uma outra pessoa tinha disparado os tiros. Não sabia quem, mas era um homem gordo que nunca tinha visto antes.

- Sr. Galina, não foi isso que você contou a polícia originalmente.

- Eu estava confuso, traumatizado. Tive tempo para refletir melhor sobre esse dia trágico. Agora estou certo do que vi. Não foi esse homem – disse apontando para João – que atirou no Fernando.

Olhei para o acusado e ele apenas sorria de canto, junto com seu advogado. O promotor ficou em choque e sem saber o que fazer, dispensou a testemunha e pediu um recesso, que eu prontamente concedi. Esse caso se tornava cada vez mais estranho.

Recomeço - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora