A Conversa

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Já fazia 2 dias desde a nossa conversa e apesar de trocarmos mensagens de bom dia, o clime entre nós ainda era estranho.
Rafa estava em um plantão de 24 horas e de acordo com as mensagens que eu trocava com Manu, ela, aparentemente estava bem.
Manu havia se tornado o link entre nós nesses dias. Eu sabia que Rafa conversava com ela então confiava no que minha amiga ia me falando.

Hoje, tinha combinado de ir jantar na casa de papai e às 19:00 horas cheguei por lá sendo recebida por um cheiro de comida maravilhoso...

- Tá cozinhando o que? – falei já indo para a cozinha

- Moqueca de camarão!

Como descrever meu pai? Eu sei que perfeição é impossível em alguém, mas esse homem chegava muito perto. Papai só fazia moqueca, meu prato preferido, em 2 ocasiões: meu aniversário e quando ele queria me animar.

- Como soube? – perguntei com um sorriso de canto no rosto e dando um abraço apertado naquele homem que era minha fortaleza

- Sua voz no telefone. Mas antes de conversármos sobre o que está te deixando assim, vamos comer.
Deu um beijo em minha cabeça e nos afastamos indo para a mesa sentar.

(...)

- Agora sim – disse me entregando uma verdinha e sentando-se na poltrona que ficava ao lado do sofá onde eu estava praticamente deitada – O que aconteceu?

- Nada demais, pai... Coisa de relacionamento

- Brigou com a doutora?

- Sim, mas... não sei, to confusa.

- Você gosta dela filha?

- Muito. Acho que nunca gostei tanto de alguém.

- E ela? Gosta de você?

Afirmei com a cabeça...

- Então o mais importante vocês já tem. Relacionamentos são difíceis, filha. Eu e sua mãe tínhamos brigas épicas, mas no final do dia, a gente se amava então sempre conseguíamos nos resolver. Tenho certeza que vocês vão conseguir também...

- É só que... Não é briga por causa de uma louça suja ou toalha molhada, sabe? – suspirei alto. Resolvi contar logo o motivo da briga para o homem, precisava dos conselhos dele.

- Ok, foi errado ela ter mentido pra você. Mas você não pode esperar que as pessoas sejam perfeitas - seu tom era doce

- Não espero isso dela, pai...

- Eu te conheço, Gizelly. Pra você a vida sempre foi preto e branco. Mas a gente vive no cinza, filha. Ela errou e vai errar de novo e você também. É a vida.
Ela ir ou não no psicólogo é uma decisão dela. Você não pode forçar isso. Respeita o tempo dela.

- Ela disse que já marcou consulta mas tenho minhas dúvidas se ela vai...

- Isso é algo que ela tem que decidir sozinha. Se ela quiser sua ajuda no processo, ótimo. De alguma forma o comportamento dela tá te fazendo mal?

- Não exatamente mal, mas me incomoda.

- Então isso você tem que falar com ela. Conversem e deixe bem claro suas preocupações. Se ela não quiser tentar mudar, aí o problema não é terapia ou não, aí é ela não se importar o suficiente com você. O que eu duvido muito, tendo em vista tudo o que ela fez por mim e o jeito que ela te olhava naquele hospital. A mulher até veio jantar com aqueles loucos aqui em casa – falou rindo

- É... talvez... mas chega de falar disso, né – eu já estava ficando emocionada e não queria chorar na frente do meu pai – como o senhor tá? Ta tomando os remédios direitinho?

Recomeço - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora