- Eu comecei com aciclovir mas não é viral. O resultado da punção só mostrou nível elevado de linfócitos. Nenhuma bactéria, nenhum vírus. Desculpe pelo incômodo, mas o nosso neurologista faltou por isso estou lhe ligando.
- Quero que você pare com o Aciclovir. Temos que começar a pensar em algo autoimune, não seria comum devido à idade dele e o fato de ele ser homem, mas é possível.
- Ok. O que devo procurar?
- Primeira coisa a resolver é o edema. Isso é o mais importante no momento. Já está dando Manitol certo?
- Sim.
- Ótimo. Cuidado pra não diminuir a pressão intracraniana rápido demais. Vá com cuidado. Existe vários tipos de encefalite autoimune, mas pelos sintomas dele, nossa opção mais óbvia é Encefalite Anti-NMDA.
- Eu achava que só dava em mulheres.
- É raro homens desenvolverem, mas sim, é possível. Você não pode esperar por resultado de exame de confirmação, leva dias. Tem que começar a imunoglobulina agora. Faça metilprednisolona 30 mg endevenoso por 3 dias, indo até 5 dias se necessário e Imunoglobulina 0.4 gramas por quilo por dia, por 5 dias. Ele deve reagir bem, mas me mantenha informado. Os pacientes geralmente se recuperam rápido e não tem sequelas. Acredito que ele ficará bem.
Suspirei aliviada.
- Obrigada, dr. Gilberto. Muito obrigada.
Corri até a sala e dei as instruções ao enfermeiro.Cerca de 1 hora depois, finalmente consegui levar Gizelly até o quarto onde o pai estava.
- Ele parece não frágil... – Percebi uma lágrima escorrendo em sua bochecha, enquanto ela se sentava na cadeira ao lado da maca. – Qual o nome da doença mesmo?
- Encefalite anti-NMDA. Basicamente o próprio sistema imune do seu pai está atacando o cérebro dele. Explicaria todos os sintomas. Odeio não ter pensado nisso antes. Mas a gente já começou o tratamento e o dr. Gilberto disse que quase sempre eles se recuperam bem e sem sequelas. Só precisamos esperar os remédios fazerem efeito agora.
Me aproximei e peguei uma cadeira, sentando ao seu lado, colocando minha mão em seu ombro.
- Nem sei como te agradecer. – falou sem tirar os olhos do pai
- Não precisa agradecer.
- Precisa sim – ela se virou para mim – não era nem pra você estar trabalhando hoje. Você veio aqui só por causa dele e fez tudo e mais um pouco para ajudá-lo. Eu nunca vou esquecer isso.
Apenas sorri para ela. E o pensamento que vinha na minha mente era: Faria tudo por você.- A Manu não tá por aqui hoje né? – Neguei com a cabeça.
- Quer que eu ligue pra ela?
- Não precisa, eu ligo daqui a pouco. Deus me livre da raiva da tampinha se eu não avisar...2 dias depois...
-Oi, pai. Tá me ouvindo?
O general começava a acordar. O tratamento parecia estar dando certo. O edema já havia diminuído consideravelmente e seus sinais vitais estavam normais.
- Filha? – o homem abria os olhos com dificuldade por causa da claridade.
- Sou eu pai. O senhor tá conseguindo me entender direitinho?
- Estou. Minha cabeça dói. O que aconteceu?
- O senhor está com uma inflamação no cérebro, sr. Mário. Mas já estamos lhe medicando e logo o senhor ficará melhor.
Fora a cabeça, como o senhor se sente?
- Como se tivesse sido atropelado por um ônibus. Me sinto um pouco fraco também.
- Ok, isso era esperado. Preciso lhe fazer algumas perguntas, ok?
- Qual seu nome completo?
- Mário Jorge Bicalho.
- Em que ano estamos?
- 2020
- Sabe onde o senhor está?
- No hospital.
Fiz mais algumas perguntas e logo depois pedi a Manoela que fizesse um exame físico para checar seus reflexos e mais algumas coisas.
Depois de terminar, confirmei que o homem estava se recuperando muito bem e que em alguns dias já poderia ir para casa.
Ouvi um suspiro alto de alívio vindo de Gizelly e ela segurou minha mão, beijando-a.
Fiquei sem graça e instantanemaente olhei para o General que nos olhava com uma cara que eu não sabia descrever. Manoela apenas sorria de canto. Voltei a olhar para Gizelly e só então ela pareceu se tocar da situação.
- Ah, pai. Eu e a dr. Rafaella estamos...é, saindo. Eu a conheci antes de tudo isso, na verdade. Mas depois te conto tudo. Prometo.
Queria meter minha cara em um buraco de tanta vergonha, senti meu rosto esquentar e tinha certeza que estava vermelha como um pimentão.
- Hum... depois conversamos sobre isso dr. Rafaella. A mulher que sai com minha filha tem que ser aprovada por mim primeiro.
Tremi.
- Eu, é, com cer, clar – gaguejava tanto que nada que saia da minha boca fazia o menor sentido.
Foi então que os três começaram a rir e eu fiquei sem entender nada.
- Ele tá brincando, Rafa. – Gizelly disse ainda se espocando – To vendo que o senhor realmente tá melhor.
- Não se preocupe, doutora. Confio na minha filha, sei que ela não sairía com você se você não fosse uma boa pessoa.
Apenas ri desconfiada, meu coração ainda batia acelerado.
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Recomeço - Girafa
Roman d'amourExiste um ditado que diz "O amor cura" e Rafaella estava prestes a descobrir se isso era verdade ou não ao ver seu mundo - até então impenetrável - ser atingido por um Furacão.