Assim que cheguei em casa deitei no sofá e fiquei lá por horas. A felicidade que tinha sentindo outrora tinha me abandonado e a ansiedade chegou, levando toda a certeza que eu achava que tinha embora. Minha vontade era de chorar e sumir. Pensar em Gizelly me dava medo ao mesmo tempo que me trazia uma leve onda de euforia. E eu não sabia lidar com aquilo. Minha mente só gritava uma coisa: FUJA!
Eu precisava de um tempo. Sabia disso. Precisava pensar. Precisava rever coisas. Precisava me redescobrir, não de fugir.
Quem era exatamente a Rafaella sem todas essas amarras que eu coloquei em mim? Eu não sabia dizer.
Parece estranho, mas eu acho que não me conhecia de verdade. A armadura que coloquei em mim foi tão perfeita que eu me desconectei de mim mesma.
Procurava traços da personalidade da Rafaella de 15 anos na Rafaella de hoje e não encontrava.
Liguei para o Hospital e avisei que tive uma emergência e passaria alguns dias fora. Sabia onde precisava estar. Olhei pela internet e vi que tinha um vôo para Fortaleza saindo hoje ainda. Poucas horas depois já estava no aeroporto, embarcando.Cheguei de madrugada na cidade, aluguei um carro e fui direto para Taíba.
Taíba era onde eu e meus pais costumávamos passar nossas férias. É uma praia super gostosa, de águas calmas, cerca de 75 km de Fortaleza. O que eu mais gostava ali era a privacidade e calmaria. Os turistas eram quase nulos, apenas os locais ficavam naquela áerea e a nossa casa era quase dentro do mar de tão perto.Antes de sair de SP, liguei avisando Tião, o caseiro, de que estaria indo, então quando cheguei a casa estava limpa, apesar de que a maresia já se mostrava presente no piso. Sorri quando entrei pela porta com o turbilhão de lembranças que passaram por minha cabeça.
Fazia alguns anos que não vinha aqui, era sempre uma sensação agridoce de estar aqui sem meus pais mas era um lugar que me deixava estranhamente confortável.
Deixei minhas coisas no quarto e fui pra praia. Estava completamente deserta, via algumas luzes de longe apenas. Sentei perto o suficiente para o mar tocar apenas os meus pés. A sensação da água na minha pele me fazia sorrir, ali era onde me sentia mais conectada com meus pais pois havia jogado suas cinzas nesse mar, anos atrás. Não era uma pessoa religiosa, mas gostava de ás vezes "falar" com eles quando estava aflita ou com algum problema e assim o fiz:
Oi mãe, oi pai. Voltei. Eu sei, faz anos, mas não pensem que esqueci de vocês. Corrego-os em meu coração todos os dias, em todos os momentos.
Gostaria de ter vocês aqui, porque sei que minha vida seria completamente diferente. Eu seria completamente diferente. A verdade é que não me reconheço, não sei se vocês gostariam dessa Rafaella. Sinto medo. Medo de me machucar, medo de sofrer, medo de perder. Na verdade acho que já me perdi. Me perdi quando perdi vocês. Desculpa. Sei que esperavam mais de mim. Não sei como ser eu sem vocês. Eu to tentando mas acho que to falhando. Não consigo me abrir. Não consigo me conectar. Por que mesmo quando eu quero, o medo vem e eu sou fraca.
Eu conheci uma mulher, o nome dela é Gizelly e eu acho que vocês iriam gostar dela. Eu prometi pra ela que iria ligar mas não tenho nem coragem de olhar para o celular. É como se desse um passo pra frente e dois pra trás. Não quero magoá-la mas sinto que é inevitável. Não posso dar à ela o que ela quer. E eu queria poder, porque ela é incrível, não nos conhecemos muito bem mas eu sinto algo quando olho pra ela e eu sei que ela sente de volta. Pra falar a verdade, menti quando disse que não conseguia me conectar, porque me conectei com dela de uma forma que não esperava. Mas não consigo me permitir. Acho que se vocês estivessem vivos eu não teria esse problema. Ou teria, não sei. Não consigo lembrar se antes eu era fechada assim. Acredito que não.
Eu vim pra cá porque preciso pensar. Não quero mais viver assim, não quero mais ser tão solitária e nem tem nada a ver com Gizelly. Eu preciso ficar bem.
Meu deus, como eu queria vocês aqui! É difícil demais ficar sozinha. Não consigo mais fingir que está tudo bem. Mas eu vou tentar melhorar, juro. Eu amo vocês.
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Recomeço - Girafa
RomanceExiste um ditado que diz "O amor cura" e Rafaella estava prestes a descobrir se isso era verdade ou não ao ver seu mundo - até então impenetrável - ser atingido por um Furacão.