Hospital Universitário Grande IrmãoCheguei para mais um plantão e logo vi a interna sentada me esperando. Fui para sala, me troquei e fui ao seu encontro.
- Bom tarde, Manoela. Preparada?
- Sim, dr. Rafaella, estu-
- Desculpa interromper, Dr. Rafaella, mas está chegando uma emergência. – me disse Alice, uma das enfermeiras.
- Ok, Manoela, outra chance pra você.- Homem, 24 anos, acidente de moto. Está inconsiente, pressão 80/50, frequência cardíaca 130.
Os paramédicos foram entrando com pressa e pude ver que a interna estava nervosa mas parecia preparada. Era sempre difícil quando chegavam emergências porque nem todo mundo consegue lidar com a pressão e tomar decisões que podem matar ou salvar alguém em questões de segundos.
- É com você, Manoela.Meus olhos arregalaram ao vê-la trabalhando. Parecia que eu nem estava ali.
- Murmúrios vesiculares ausentes, turgência jugular grande. Precisamos fazer uma toracocentese de alívio agora! – os sinais vitais do paciente comeram a piorar...
- Qual o diagnóstico, Manoela? – perguntei rapidamente, já sabendo a resposta, mas precisava confirmar...
- Pneumotórax hipertensivo. – Ela disse, dessa vez sem talvez, sem dúvidas.
Apenas acenei com a cabeça e dei um sorriso de canto. Vi a menina fazer todos os procedimentos com maestria. Logo o paciente foi transferido para a cirurgia e saimos do leito.- Parece que você encontrou seu lugar, Manoela. Foi excelente na emergência. Você pensa em seguir essa area?
- Nossa, não sei. Nunca pensei em emergência e pra falar a verdade eu estava morrendo de medo. – ela disse soltando um riso.
- Eu acharia preocupante se você não tivesse. Estamos lidando com vidas, temos que morrer de medo de fazer algo de errado. Por isso vou sempre pegar no seu pé e sempre vou mandar você pra casa pra estudar se eu ver que você não sabe algo básico. Não podemos nunca achar que sabemos tudo ou pessoas morrem. Você foi bem. - Digo dando um tapinha em seu ombro. - Vamos pras fichas que hoje o PS está lotado.---
Já era sexta feira e eu não via a hora de dar 7 horas da manhã. Tinha feito um plantão de 12 horas, estava cansada e queria ir logo pra casa descansar. Resolvi que ia sair de noite, já que no sábado estava de folga.
Os dias no PS correram bem. Acho que depois do susto do primeiro dia, Manoela começou a estudar mais porque a garota estava se saindo muito bem em quase todas as situações. Claro que cometia erros ainda, mas era normal. Gostava de ver o esforço dela e a dedicação. Estava sempre lá cedo e só saia quando eu saia. Coisa que ela não precisava fazer. Me peguei admirada. Normalmente internos não vêem a hora de ir embora.- Amanhã você está de folga, Manoela. Ficou a semana comigo no PS, merece um sábado livre.
- Posso vir sem problema nenhum, Dr. Gosto de ficar por aqui.
- Bom, você pode vir, mas eu não estarei aqui. Todos merecemos um dia de descanso, garota. Aproveite.
- Ok então.As 7 saí do hospital e fui pra casa, tomei um longo banho, comi umas torradas e dormi.
(...)
As 23:00 resolvi sair de casa e fui para a mesma boate de sempre, claro. A boate Cabaré era sempre meu refúgio depois de uma semana de trabalho e eu amava aquele lugar. A música era sempre boa, as bebidas ótimas e o melhor de tudo, sem hetero top pra estragar minha noite.
Acabava que já conhecia de vista a maioria das pessoas que iam lá.Estava saindo do banheiro quando quase dei de cara com uma mulher. Ia xingar, mas assim que olhei direito para a morena quase engasguei.
Ela era simplesmente maravilhosa. Cabelos castanhos iluminados, com cachos que caiam perfeitamente em seus ombros, os olhos castanhos também mas que de alguma forma pareciam diferentes de todos os outros que já tinha visto. Parecia que tinha ficado ali por horas, mas voltei a realidade quando ela falou...
- Nossa, desculpa, fui entrando sem bater.
- Ah, tudo bem, eu também saí rápido demais.
"Saí rapido demais" – Sério, Rafaella?
Ela passou por mim rindo e entrou. Fiquei alguns segundos parada tentando entender meu nervosismo até que mais gente foi entrando e resolvi sair.Já estava na quarta bebida quando sinto uma mão tocando meu ombro.
- Oi, garota do banheiro. Fiquei te procurando na pista e não achei. Tá escondida nesse canto por que?
Era a morena maravilhosa. Desse vez pude prestar mais atenção nela. Estava ventindo um vestido prata, que parava na metade da coxa, tinha um decote em V, dando uma visão perfeita dos seus seios. E meu deus, que seios.
Concentra, Rafaella, não vai falar algo idiota de novo.
- Ah, oi.. Pois é, não gosto muito de ficar no meio da pista. Muito calor. Então você estava me procurando...
- Estava, acho que te devo uma desculpas melhores. – ela disse abrindo um sorriso. – Gizelly. – ela disse estendendo a mão pra mim.
- Rafaella. E você não me deve nada. – falei sorrindo também
- Você veio sozinha? – ela me perguntou
- Vim. – eu estava tão nervosa que não conseguia manter a conversa. Que porra está acontecendo?
- Eu vim com uma amiga mas ela já encontrou alguém e me largou...
- E você não se importa?
- Claro que não. Ela tem que aproveitar. E eu também. – Ela me olhou tão fixamente nos olhos que eu congelei por um momento, mas logo entendi a mensagem e puxei seu corpo pela cintura para colar no meu. Não perdi tempo e colei nossos lábios em um beijo lento, mas que deixou minha cabeça a mil por hora. A mão dela subiu pela minha nuca e puxou meu cabelo de leve. Puxei ainda mais sua cintura, podia sentir o calor do seu corpo. O beijo parou quando faltou fôlego. Mal deu tempo de respirar e comecei outro beijo, dessa vez mais rápido, mais forte. Ela mordia meus lábios e chupava de uma forma tão gostosa que eu só pensava que aquele era o melhor beijo da minha vida. Nossas bocas encaixavam de uma maneira que estava me levando ao limite. Precisava de mais. Minha mão foi descendo pra sua bunda e ela rapidamente se afastou.- Desculpa, eu.. desculpa, achei que...
Ela riu. – Não precisa pedir desculpa, eu quero, mas não gosto assim, muita gente em volta. Quer sair daqui? - ela perguntou
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Recomeço - Girafa
RomanceExiste um ditado que diz "O amor cura" e Rafaella estava prestes a descobrir se isso era verdade ou não ao ver seu mundo - até então impenetrável - ser atingido por um Furacão.