UTI

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Frustração. Essa era a sensação que se fazia presente em mim ao ver o resultado da ressonância. Não que eu quisesse que meu pai tivesse um tumor ou algo assim, eu só queria uma resposta. Algo concreto para saber o que fazer. Esse desconhecido era o pior pra mim. Papai permanecia calado. Ele mal falou 2 palavras desde que saímos de casa. Ele estava cada dia mais apático e minha preocupação só aumentava.
- Quer almoçar em algum lugar, pai? – falei enquando entrávamos no carro para ir embora da clínica.
- Podemos só ir para casa?
Apenas acentei.
Assim que chegamos, ele subiu para o quarto, se recusando a comer alguma coisa. Foi então que mandei mensagem para Rafaella contanto do exame. Ela não me respondeu, então imaginei que estivesse ocupada.
Tentei comer qualquer coisa, mas eu estava sem fome, assim como meu pai.
Resolvi tomar um banho para tentar relaxar e enquanto estava na banheira, ouvi meu celular tocar. Me estiquei inteira, pegando-o em cima da pia. Era Rafa.

- Oi, Gi. Desculpa não responder, tava em uma reunião na empresa. Eu tinha que assinar uns documentos, mas enfim... Como você tá?
- Frustrada. Impaciente. Cansada disso. Só queria respostas, sabe?
- Eu sei, mas pensa que um resultado normal também dá respostas. Podemos excluir várias coisas. A gente vai descobrir, prometo.
Apenas suspirei em frustração.
- Ah, o neuro me ligou ainda a pouco. A gente discutiu um pouco sobre seu pai e quando você voltar lá com ele, ele vai passar uns exames adicionais.
- Tubo bem...
- O que você ta fazendo agora?
- To na banheira, tentando relaxar um pouquinho...
- Ah, então vou desligar e parar de te atrap...
- Não! Fica falando comigo, sua voz me relaxa. Só vamos mudar de assunto, por favor.
Ficamos conversando amenidades por alguns minutos até que Rafaella precisou desligar. Amanhã era o último dia de folga dela e planejamos ficar em minha casa quando chegasse do Tribunal, já que só tinha audiência pela manhã.
O resto do dia passou lento e tedioso. Papai não saiu do quarto, tentei fazer ele comer algo, mas ele estava irredutível.
- Não quero nada, Gizelly. Já disse!
- O senhor não comeu nada, hoje. Come pelo menos uma fruta.
- SAIA DAQUI. AGORA! – Falou gritando. Olhei para ele com certo medo, ele parecia outra pessoa. Achei melhor deixá-lo em paz e tentar novamente no dia seguinte.

Acordei já meio atrasada para o trabalho, me arrumei correndo. Antes fui no quarto do general... Ainda dormindo. Resolvi deixá-lo descansando e saí.
Cheguei 10 minutos atrasada, me desculpei com todos e começamos a sessão.
Era um caso de homicídio qualificado. O acusado havia sido inocentado, mas o Ministério Público entrou com recurso.

- Meretíssima, no dia 17 de maio de 2017, por volta das 03h30min, nas imediações do "Forró do Alex", João Souza, livre e conscientemente, com vontade de matar, efetuou disparos de arma de fogo contra Fernando Queiroz da SIlva, causando-lhe as lesões descritas no Auto de Exame Cadavérico de fls. 34/36, sendo certo que tais lesões, por sua natureza, sede e gravidade foram a causa única e efetiva da morte da vitima. O crime foi praticado por motivo fútil, ou seja, tão somente pelo fato de que a vítima tentou dissuadir João de vingar-se da pessoa que o agrediu momentos antes. O crime ainda foi praticado mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, já que esta foi surpreendida, de inopino, pela ação do João, a quem já conhecia há muito tempo. A decisão dos jurados foi manifestamente contrária à prova dos autos, haja vista que a versão defensiva de negativa de autoria restou isolada nos autos.
O Ministério Público, assim, pede a anulação da decisão do Tribunal do Júri.

Algum tempo depois...

- Diante de tudo o que foi analisado, fica claro que o Conselho de Sentença teve diante de si prova da autoria do delito e decidiram, equivocadamente, absolver o ora apelado. Descabida, portanto, a afirmação de a decisão do Conselho de Sentença não ser contrária à prova dos autos, posto que não se encontra lastreada em todos os elementos de prova constantes dos autos. Por todo o exposto, voto no sentido da dar provimento ao recurso ministerial, para que seja o apelado submetido a novo julgamento.

Recomeço - GirafaOnde histórias criam vida. Descubra agora