Uma estante cheio de livros de Direito atrás de mim. Na parede à esquerda, todos os meus diplomas e certificados. À direita, apenas um quadro de uma paisagem de praia que coloquei ali pois me acalmava. Eu estava em minha sala no Tribunal e já estava quase na hora de ir embora quando Camila, minha secretária, entrou em minha sala com uma cara espantada e me fitou por um instante.- Que cara é essa, Camila? O que foi?
- A senhora tem uma visita.
- Visita? Que visi-Nem terminei de falar e fui interrompida pela pessoa que entrava em minha sala, sem nem ao menos ter permissão. Mas conhecendo o homem, tinha certeza que ele se achava no direito de fazer qualquer coisa ali. Fiquei tensa assim que ele se aproximou da minha mesa e parou olhando fixamente para mim.
Me levantei da minha cadeira, ficando mais ou menos na altura dele, já que usava salto alto. Ele era relativamente jovem para um político, devia ter seus 45 anos, um corpo atlético e um sorriso que revelava toda a sua arrogância.
- Senhor, Governador... À que devo a honra?
- Boa tarde, excelentíssima Desembargadora. Dia complicado no Tribunal?
O homem afastou um das cadeiras em frente a minha mesa e se sentou, desabotoando um dos botões do terno, ficando mais confortável. O fitei por algum tempo, sabia que aquilo era um jogo pra ele, mas estava disposta a jogar para ver qual era seu objetivo final.
- Todos os dias são complicados por aqui, Governador. Nossas decisões mudam o destino das pessoas.
- Claro, claro...
Ele olhava para as paredes e se levantou indo até meu diploma da faculdade.
- Formada pela USP... Ouvi dizer que as mentes mais brilhantes saem de lá.
- Não sei sobre isso, mas é uma ótima faculdade sim.
Ele continuou andando pela sala, dessa vez indo até minha estante e olhando alguns livros. Eu sabia que ele queria que eu ficasse nervosa e o pior é que ele estava conseguindo, fechei as mãos tentando me acalmar.
O homem caminhou de volta a cadeira, sentando-se de novo.- Sabe, Gizelly, - engoli seco ao ouvi-lo dizer meu nome – acho que começamos com o pé errado naquela história do Tenente. Quero desculpar-me. Falei algumas coisas que não devia. Mas enfim, águas passadas não é mesmo?
Olhei para o homem sem acreditar em nenhuma palavra que saia da sua boca.
- Claro, senhor. – falei dando um sorriso falso.
- Soube que seu pai esteve doente, é verdade?
Como ele sabia daquilo?
- Sim, mas já está 100% recuperado. Não foi nada grave.
- Ouvi dizer que tem vídeo dele no Grande Irmão tendo um surto, que bom que não caiu na internet. Imagine a vergonha que o General passaria. Seria dispensado, de certo. As pessoas ainda tem muito preconceito com doenças mentais, sabe, Gizelly? Uma pena...
Parei de respirar por um momento. Aquele jeito passivo-agressivo do homem estava me fazendo bufar por dentro.
- Vídeo? E ele não tem doença mental alguma. Estava apenas com uma inflamação no cérebro, o que resultou em alguns sintomas incomuns.
- Ah, sim sim. É que as pessoas nunca procuram saber a história por trás né... Nossa sociedade gosta das fake news, infelizmente, das notícias rápidas. Mas enfim, vamos fazer o possível para que esses vídeos não caiam em mãos erradas. – disse e se levantou
- Quem tem esses vídeos? – perguntei rapidamente antes que o homem fosse embora.
- Apenas eu. São imagens das câmeras de segurança. Não quis arriscar e deixar um ganancioso vender essas imagens para alguém. Não se preocupe. Minha intenção é apenas proteger o General.
- Pode me dar essas filmagens então. Eu mesmo cuido delas.
O homem abriu um leve sorriso
- Na hora certa...
E do mesmo jeito que entrou, saiu. Sem nem ao menos me deixar falar.
O que acabou de acontecer aqui?-----------------------------------------------------------------------
- Você vai contar para o seu pai?
- Não, não quero deixá-lo preocupado. Stress pode desencadear uma nova crise, certo? – ela confirmou com a cabeça – Só ia piorar as coisas.
Era terça-feira e como de costume, eu tinha ido para casa de Rafa ao sair do trabalho. Tínhamos pedido sushi e estávamos sentadas no chão, comendo na mesinha de centro.- O que você acha que ele quer?
- Não sei. Não tenho nenhum caso envolvendo PMs ou gente grande no momento. Acho que ele só quis me assustar, mostrar que ele tá no controle.
Mas se ele acha que vai me forçar à fazer alguma coisa, ele tá muito enganado...Terminamos de comer e fomos para o quarto deitar, pois estávamos exaustas.
Enquanto Rafa fazia seu skin care, aproveitei para conversar com ela sobre a terapia. Ela não havia falado mais nada desde domingo e eu queria garantir que ela realmente iria fazer.- Você já foi atrás de uma psicóloga, amor?
- Não tive tempo ainda...
- Rafa...
- Mas eu vou, juro. Vou pegar indicação com alguém do hospital. Sabe o que tá me incomodando?
Rafa veio em minha direção e sentou na cama, de frente pra mim.
- Acho que passei uma péssima impressão pras suas amigas. Por que não chamamos elas pra vir aqui em casa no fim de semana? A gente faz um churrasco, fica na piscina... O que me diz?
- Tem certeza? – ela afirmou com a cabeça. – Então acho uma ótima idéia. Vou combinar com elas.
- Ótimo... – disse se levantando – Vou so fazer xixi e já venho deitar.
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Roooi gente. Capítulo curtinho mas necessário. No próximo teremos fortes emoções então se preparem!
E se preparem para odiar alguém hahahahaNão esqueçam da estrelinha e de comentar. Bjooooo
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Recomeço - Girafa
RomanceExiste um ditado que diz "O amor cura" e Rafaella estava prestes a descobrir se isso era verdade ou não ao ver seu mundo - até então impenetrável - ser atingido por um Furacão.