16° Capítulo.

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Capítulo 16°

A chuva de verão sempre trazia um cheiro especifico, era como jogar água em uma panela quente, refrescava e tornava o ambiente úmido, outra coisa que deixava uma impressão diferente no verão era a necessidade de se refrescar, por isso uma menina muito feliz agitava a água de uma pequena piscina junto com um menino muito esperto, ambos cantavam uma musica que tinha uma letra irritante que nunca acabava.

Os dois adultos sorriam ao ver a pequena Abi tentar se manter sentada apesar de não conseguir ainda, Gabe incentivava a canção para que o sorriso do bebe contagiasse mais ainda a casa, outros adultos por toda a casa sorriam ao ouvir aquelas risadas, não era preciso olhar a bagunça para se sentir parte dela, não era preciso ser parente sanguíneo para fazer parte daquela família, não era preciso... gerar para se sentir mãe daquelas lindas crianças e, era assim que Milena se sentia.

-Gabriel, só mais cinco minutos ai viu?! Logo vamos cantar seus parabéns, Guto... -Milena se vira para Augusto e entrega a neném a ele, que começa a fazer cara de choro por ser tirada de sua farra na água. -Troca ela amor, eu vou comprar mais bebidas e uns frios para a lasanha de amanhã.

-Claro querida, aproveita e leva meu carro, acabei de trazer ele da revisão, o seu eu tenho que levar para calibrar os pneus amanhã. -Ele a beija de leve e, tira uns assovios dos amigos e irmãos, ela fica um tanto envergonhada, mas pega as chaves penduradas na porta e sai.

Milena não sabia como sua vida tinha mudado tanto, a uns meses se sentia a pior das mulheres, tinha sido traída, sem filhos para dar o amor que sempre sonhou em dar, mas agora... tinha um homem que a valorizava, dois lindos filhos, acordava todos os dias com medo de ser apenas um sonho e que ainda vivia com o ex-marido traidor.

Saindo do prédio e seguindo para o estacionamento para pegar o carro do namorado, mas se depara com alguém encostada em seu carro, ela chega perto cautelosamente para ver se não era um ladrão e, toma um susto ao perceber que a era Gustavo. Gustavo não estava vivendo os seus melhores meses, muito pelo contrário, sua vida era fingir estar bem, bem em casa com sua "nova mulher", bem em seu emprego, bem com sua família o falando do quanto ele tinha feito a maior burrada de sua vida de se envolver com uma pistoleira.

Ele tinha duas obsessões na vida, a primeira era stalkear sua ex-esposa nas redes sociais e a outra era procurar alguma coisa de errado no passado de Augusto, saber se ele tinha alguma mulher durante o período em que estava com Milena, ou se era uma pessoa ruim, não conseguia aceitar que ele merecia uma mulher tão boa como Milena, a cada dia seu desespero era maior a cada dia que olhava nas redes as fotos em família que tiravam, como nos storys sempre ela aparecia sorrindo e rindo de coisas bobas que faziam, como as crianças já a chamavam de mãe.

Era doloroso assistir algo que tinha e que deixou se perder por um prazer momentâneo, ele tinha tudo e perdeu.

No dia do aniversário do seu pai foi o pior, ela tão linda, tão bem, tão não sua... queria se aproximar e perguntar como estava, queria saber como a criança estava, não se conformava que negou por tanto tempo uma criança a ela por vaidade, esse era o motivo, não queria admitir que não queria adotar uma criança pelo simples fato de não ter o seu sangue, mas o que adiantava ter um filho do seu sangue e não ser da mulher que ele amava? Da mulher que ensinaria aquela criança valores, como amar sem preconceitos, ensina-lo que o mundo é bem mais que dinheiro e bens materiais.

Agora neste momento em que sua mulher está fazendo quase nove meses de gravidez ele está na casa da Ex-mulher, desejando apenas alguns minutos com ela, uma única e última vez antes de se prender de vez a uma mulher que nunca chegaria aos pés do amor de sua vida.

-Gustavo? -Era a voz dela, seu corpo estava duro do de ouvir aquela doce voz.

-Oi! -Ela estava bem de frente para ele tão linda, que nem conseguia descrever em palavras, tinha engordado um pouco, ou tornado o corpo mais definido? O vestido florido a deixa mais jovem, assim como os cabelos preços em um coque frouxo com alguns fios fugindo por estarem curtos. -Está ocupada?

-Na verdade eu estou, meu fil.. Gabriel está fazendo aniversário e, eu tenho que comprar algumas coisas. -Ele sabia que ela já chamava o filho do atual parceiro de filho também, mas sentir que a ligação deles estava tão forte assim o deixa ainda mais aflito.

-Por favor... é só alguns minutos. -Ela coçou a cabeça e respirou fundo.

-Ok, pode falar... -Ela se encostou no carro e ele se surpreendeu.

-Vamos a uma lanchonete aqui perto e, -Antes que ele terminasse foi cortado por ela de forma rápida.

-Não, eu só tenho alguns minutos, vai ser aqui mesmo! -Ele queria sentar e tentar uma ultima vez  ter ela de volta, mas se era para ser ali, tudo bem, sentia que se insistisse não haveria conversa.

-Eu pensei no que disse na ultima vez que nos falamos e, o quanto eu te anulei para seguir meus sonhos, como eu pensava somente em mim nessa relação e eu vim aqui para pedir perdão, eu estava errado, sinto muito por tudo o que passou comigo e que eu vou passar toda a minha vida tentando corrigir os meus erros. -O nó em sua garganta era tão grande que era difícil de respirar, mas mesmo assim disse tudo o que ele tinha passados os dias refletindo. -Sinto muito pelas traições, por não ter te dado os filhos que desejava ter, agora eu sei que não importa se são nossos filhos biológicos, o que importa é se amamos eles e se eles nos amam também.

A mulher a sua frente tinha olhos vermelhos e, respirava devagar, ela sorriu para e enxugou as lagrimas e puxou o ar olhando para o céu com as mãos na cintura. -Eu fico muito feliz que esses meses fizeram mudar seus pensamentos.

-Sim fizeram... -Ela então olhou para dentro de seus olhos e, assim passaram-se alguns minutos. -Então...

-Então?! -Ela o respondeu esperando-o continuar.

-Queria tentar novamente Milena, queria provar que eu mudei, sei que eu não te mereço, mas se me der uma chance... -Ele tentou se aproximar, mas ela levantou a mão para que ele parasse ali mesmo. -Esta é a ultima vez que eu vou pedir, é a ultima que eu vou pedir, sei que não mereço, mas sinto que vou morrer se eu não tentar.

-Gustavo, nos primeiros dias eu sonhei com essas palavras, eu te perdoaria e teríamos filhos, mas com o passar do tempo notei que nosso casamento não era saudável e, apesar de te perdoar não posso voltar com você, espero que use tudo o que deu errado na nossa relação como um exemplo do que não fazer no seu novo relacionamento.

-Por favor amor... -Ele se agachou sem mais forças para ficar de pé.

-Sinto muito, o que tínhamos acabou e apesar de que sempre vou sentir um grande carinho por você, o amor que eu sentia por você se foi. - O que ela disse o atingiu tão forte quanto um tiro, mas ele teve que entender. -Eu tenho que sair, você vai ficar bem?

Não houve resposta, ela olhou para aquele grande homem ali no chão parecendo uma criança chorando, sentiu pena, mas também não podia ficar mais tempo ali. -Quer que eu chame alguém?

-Não, eu só estou assimilando o que disse, pode ir... eu vou me recompor.

Ele esperava que ela insistisse, mas para a sua surpresa ela deu as costas para ele e entrou em outro carro, então riu e chorou ao mesmo tempo, tinha se dado conta que ele não era mais ninguém para aquela mulher, anteriormente ela o adularia, o levaria para casa, faria algo gostoso para eles comerem em frente a televisão.

Ele assistiu o carro sair e então entrou em seu próprio carro e, quando estava indo embora alguém bateu em seu vidro lateral. Era Augusto, com uma cara nada animada como costumava ficar. -Hey...

-Sabe, eu admiro sua insistência, a forma como manda pessoas saberem sobre nós, ou sobre mim... mas agora que ouviu o que ela disse, espero que pare, tu vai ter um filho cara, seja homem e pare de perseguir minha mulher ou eu vou pedir uma medida protetiva, ouviu?

-Ela não é sua mulher. -Sua surpresa de saber que sabiam de suas investigações o deixava assustado.

-Ainda... Em algumas semanas pretendo pedir a mão dela, mas a essa altura é pura formalidade. -Ele sorriu convencido, deu meia volta e foi em direção a saída do estacionamento.

Ali as esperanças de Gustavo foram sepultadas...

E como dizem em Gray's anatomy –"Hora do óbito... 22:56 P.M"

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