Capítulo 23

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A noite não foi fácil para Alfonso, primeiro precisou desviar de todas as indagações da mãe sobre a moça dos olhos azuis – como passou chamá-la -, depois controlar Marley dentro do pequeno apartamento, e por último, dar atenção devida a noiva. Natalie iniciou com carícias despretensiosas, tocando os lábios na pele do pescoço dele enquanto massageava a tensão dos ombros. Alfonso respirou fundo, por mais que quisesse retribuir não estava no clima, a conversa com Anahí martelava em sua cabeça sem parar.


Natalie: Aconteceu alguma coisa? Você parece preocupado. – Iniciou, mordiscando-o na orelha.


Alfonso: Não, nada. – Negou. – Só estou cansado.


Natalie: Sei um jeito de relaxá-lo. – Instigou.


Alfonso nunca negara Natalie, os dois dividiram bons momentos na cama, podia-se dizer que combinavam. Depois de satisfazê-la e a si próprio, a noiva dormiu ao lado dele quase que de imediato, deixando-o outra vez livre para pensar no impacto que fora ouvir aquelas palavras de Anahí.


Nada parecia justo na visão dele, por mais que Anahí agisse de forma pedante durante o tempo que conviveram, nada justificava o fato de ter sido maltratada tão covardemente. Relembrou situações em que ela fugia de qualquer conversa sobre relacionamentos e só então entendeu os motivos daquilo, afinal nunca experimentara ser alvo de sentimentos bons e verdadeiros, escondia por trás do corpo e da luxúria medos absurdos, medos esses que agora Alfonso se condenava por não ter descoberto. Ele se ofereceu para ajudá-la, mas como poderia? Sentiu-se pequeno diante da dimensão dos problemas dela, e constatou que seria prepotência demais acreditar que conseguiria sozinho.


Diante de tantos pensamentos confusos e amargos ele arrastou-se durante a semana, olhava para Natalie e sentia-se reconfortado por protegê-la de situações em que Anahí infelizmente não tivera a mesma sorte. Entre eles não havia espaço para acusações, discussões e ofensas, acima de tudo existia respeito, e por mais que tentasse bloquear as lembranças do seu passado, era praticamente impossível não comparar os sentimentos explosivos que nutriu por Anahí com a calmaria que exalava frente a Natalie.


O dia da inauguração chegou, e com ele o quase ataque de nervos de Anahí. Charles a girou pela mão - conferindo o vestido que havia presenteado -, o tecido de seda moldara as curvas perfeitas, deixando-a mais deslumbrante ainda. Dessa vez os cabelos escorregavam sobre os ombros sem nenhuma onda, e a maquiagem com os olhos marcados compusera o remate final.


Charles: Quase uma obra-prima. – Elogiou, vendo a amiga tremer de ansiedade.


Anahí: Não está exagerado? – Perguntou, insegura.


Charles: O único exagero que vejo é o da sua beleza, Deus realmente tem seus preferidos. – Brincou. – Vamos? – Ofereceu o braço.


Anahí: Vamos. – Respirou fundo.


A confeitaria nada parecia com o canteiro de obras de uma semana atrás, Anahí finalmente conseguira encontrar as cortinas perfeitas, as mesas estavam postas em lugares estratégicos para que os clientes pudessem conversar com privacidade, a paredes contavam com vários quadros decorativos que remetiam aos sabores da infância, e uma especial era o retrato desenhado da avó que foi sua principal inspiração para pôr em prática as receitas que adoçaram seu ambiente familiar.

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