Capítulo 42

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O chão pareceu ruir...

Alfonso: O que você disse? – Perguntou, as mãos pareciam pesar nos próprios braços, como se não fizessem parte dali.

Anahí: Estou esperando um filho seu Alfonso. – Emendou, a voz soava tão falha que ele precisou de certo esforço para ouvir.

Alfonso: Você está grávida. – Afirmou para si mesmo, ouvir da própria boca foi a tentativa que usou para processar a informação mais rápido.

Anahí sentiu o peito comprimido, era angustiante tocar naquele assunto e se tornara mil vezes pior quando viu Alfonso se afastar alguns passos para cair sentado na cama. Ela viu as mãos dele procurarem apoio no rosto, entre os cabelos, até mesmo na nuca que avermelhou de imediato tamanha pressão que Alfonso fizera ali.

O silêncio dele era ensurdecedor e ela precisava ouvir alguma coisa, algo que tirasse ou abrandasse o sentimento de culpa que transbordava naquele momento. Diante do nervosismo aparente dele Anahí se desmanchou em lágrimas, tantas que não era capaz de enxugá-las sozinha. Ela tinha consciência de quão frágil estava, de como não conseguiria lidar com a maternidade com muito otimismo, e no seu íntimo esperava que Alfonso a tranquilizasse como sempre fez, que tomasse suas mãos afirmando que ficaria tudo bem.

Anahí só não contava que Alfonso também teria medo, afinal fora pego totalmente de surpresa, os dois nunca haviam conversado sobre o assunto, ele não era bom com crianças, e a nomeação que acontecera horas antes contribuiu para que ele entrasse em crise.

Anahí: Eu esqueci das pílulas Alfonso, você sabe que minha cabeça não anda muito boa. – Tentou se justificar, o dorso da mão circulava na bochecha, mas era incapaz de conter o choro.

Alfonso: Céus. – Pausou outra vez, afundando o rosto nas mãos. – Eu, eu...- Tentou dizer algo, mas o entalo em sua garganta o impediu.

Alfonso não conseguia pensar, aquela notícia era de longe a última coisa que esperava receber aquela noite. Ele havia planejado tudo com muito afinco, escolhera o cardápio do jantar, o melhor vinho, a melhor suíte, se atentou aos detalhes para que os dois aproveitassem aquele quarto da forma mais prazerosa possível, queria transar com ela em cada espaço daquele quarto imenso, fazê-la tremer de prazer dentro da banheira, na piscina da cobertura, depois sobre o imenso tapete felpudo que ficava no centro do cômodo, por último na cama, onde eles relembrariam as noites insanas que viveram quando não se preocupavam com o depois. Mas não foi o que aconteceu e nem o que aconteceria pelo visto.

Anahí: Eu também fiquei desnorteada quando descobri, acho melhor deixar você sozinho. – Tentou tirar alguma palavra dele.

Alfonso: Eu realmente preciso ficar sozinho. – Disse, antes de deixar o quarto praticamente sufocado.

Alfonso a deixou sozinha e não olhou para trás, não por raiva, mágoa, nem nada do tipo, Alfonso teve medo. Medo do novo, do que nunca vivera antes. Ele já estava acostumado com Anahí, conseguia lidar bem com o jeito imprevisível e intenso, mas agora a situação era totalmente diferente, ela estava grávida em meio ao turbilhão de responsabilidades que assumira com Arthur, com a terapia, a confeitaria, o estresse, a possibilidade mesmo que remota de ter herdado a doença do pai, uma sucessão de acontecimentos que poderiam fazê-la surtar a qualquer momento. A ocasião parecia tão inapropriada para uma gestação que ele não soube diferenciar o que o assustava mais, o fato que seria pai daqui poucos meses ou como isso influenciaria a saúde mental dela.

Ele desceu o elevador e voou até o bar do hotel, pediu que o servissem com uma dose dupla de whisky, buscou no álcool uma forma de adormecer a própria mente. Alguns andares à cima as coisas também não estavam nada boas, Anahí procurou aconchego entre os lençóis quando seu corpo pareceu pesado demais para permanecer de pé, pensou em ir embora, em ligar para o melhor amigo, mas nenhuma das possibilidades parecia suficiente uma vez que fugir não resolveria.

Refém do DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora