Como se apaixonar por um marquês

CAPÍTULO 31

Dois dias depois Nicholas já estava organizando sua partida. Ele iria embora, e voltaria só depois, depois de tudo passar e as coisas voltarem a ser como antes. Depois dele colocar sua cabeça no lugar, e tentar superar tudo que aconteceu com eles.
Era muito difícil se afastar, era difícil tentar esquecer um beijo que foi o melhor da sua vida, tentar esquecer que a única mulher que ele já amou, a única que teve o coração dele não poderia ficar com ele pra sempre, e era por isso que ele se afastaria...
Mas Clarisse sabia, que ela não podia deixar ele ir embora, porque se ele fosse, ela o perderia. E ela não estava pronta para perdê-lo, ela nunca estaria pronta para isso.
Ela pensou em todas as coisas idiotas do mundo pra ela:
1- ovos
2- vestidos enormes
3- costumes outorgados
4- desigualdade social
5- preconceito
6- diferença entre homem e mulher
7- indiferença
8- julgamentos
9- todas as coisas que humilham, machucam, agridem, diminuem, outras pessoas
10- Nicholas ir embora
Era fato pra ela que ele sempre voltaria, e em questão de meses tantas coisas aconteceram que agora, ele estava fugindo da única pessoal pela qual ele voltava...
sol nasce no leste
O mar é azul
Nas noites da pra ver estrelas
Verdades universais... essas são as coisas das quais ela teria certeza sempre, e agora ela já não sabia, ela já não tinha certeza, era como se até isso estivesse sendo tirado dela ultimamente.
Então enquanto eles estavam em uma baile de comemoração ao aniversário de cinquenta anos de alguma mulher viúva, que Clarisse não lembrava o nome, ela viu a oportunidade de falar com Nicholas, quando ele saiu para o terraço. Sozinho. Eram bons os tempo em que eles podiam ficar sozinhos sem vergonha, sem arrependimentos, sem ser estranho...
Ela foi atrás dele, e durante o caminho ela pensou no que falar, mas nada fazia sentido, as palavras não se formavam direito, então ela resolveu improvisar. 
—Você foge - ela disse quando chegou na porta, e se escorou na mesma.
Ele virou pra ela, o semblante perfeito como sempre foi, os olhos ainda tão verdes, o cabelo ainda tão escuro, era uma beleza tão especial e única a dele, ela nunca se cansava de olhar, ele estava tão sereno naquele momento, olhando pra fora e simplesmente contemplando a vista, ela desejou ter um pouco daquela serenidade também, pelo menos por alguns momentos.
—O que isso quer dizer ? - e então ele parecia um menino confuso outra vez, o que fez com que Clarisse quisesse abraçá-lo, e fazer ele voltar a ter paz.
—Quer dizer o que quer dizer Nicholas, foi sempre assim você se assusta e foge - ela deu de ombros e se encaminhou para o lado dele parou lá  olhando para o jardim à noite; depois de alguns minutos em silêncio ele disse
—Eu não - ele tentou negar, mas no fundo ele sabia que era verdade
—Você faz isso sim, é seu jeito de evitar conflitos posteriores, fugir e esquecer e depois voltar como se nada tivesse acontecido, mas ouve só Nicholas ACONTECEU - ela gritou porque ela já não sabia o que fazer, ela já não sabia como se sentir era tudo demais pra ela - e agora é tarde demais pra fugir, é tarde demais pra voltar atrás e com certeza é tarde demais para evitar e fingir que nunca aconteceu, você não vai fazer isso Nicholas, você não vai fugir. Não dessa vez - ela não podia permitir isso, e ela não desistiria dele, não enquanto havia uma chance, mesmo que fosse pequena.
—Você não sabe do que está falando Clarisse. - ótimo agora ele seria condescendente com ela.
—Não sei ? Tem certeza ? Eu sei Nicholas, eu sempre soube, mas eu pensei que você nunca fosse fugir de mim - a voz dela tremeu, mas ela conseguiu se manter inteira.
—Você nunca me deu motivos para fugir..
E ela leu o que ele não disse
—Até hoje pelo visto - ela disse com um sorriso irônico
—Eu não vou fugir - ele respondeu por fim, era como se ele realmente acreditasse naquelas palavras
" você não vai fugir Nicholas você só vai se afastar, nos afastar"
—Você não entende não é mesmo ? - ela perguntou
—O que ? - ele parecia prestes a explodir, e Clarisse pensou em todas as brigas colossais que eles tiveram. E que elas não chegavam nem perto dessa.
—Você já fugiu — ela sussurrou
E então ela virou as costas e fugiu também, ela não viu o rosto dele quando falou, não olhou nos olhos dele e não soube se ele olhou pra ela quando ela saia, mas esperava que não fosse tarde demais para salvar sua amizade. Antes quando eles eram crianças eles vivam brigando, depois cresceram e passaram a valorizar os verões que eles tinham juntos, e pararam de brigar, eles sempre se alfinetaram mas nunca como antes. E agora parecia que eles não sabiam fazer outra coisa além de brigar e se ignorar.
Mas ela não podia ir, não ainda, ela não ia abandonar ele, e ela com certeza não podia deixar que ele fugisse. Se você quer amor, você deve persegui-lo, ela ficava lembrando isso a si mesma, esperando ser verdade. Então antes de perceber ela se virou pra ele novamente
—Eu aceito Nicholas, eu aceito receber a culpa, por estragar a nossa amizade, quando eu te beijei, então isso é em mim. Tudo que aconteceu com a nossa amizade depois daquele dia a culpa é minha, eu deixei a luxúria guiar meus passos, não você. Então tudo bem, eu concordo em esquecer, em enterrar o que nos fizemos e nunca, nunca mais em nossas vidas comentar sobre isso, então se é isso que é preciso para você ficar eu nunca mais me lembro Nick então por favor fica, eu até concordo em nunca me casar, ninguém precisa descobrir o que nos fizemos...
— Clarisse não tem nada a ver as coisas que você está falando - ele estava nervoso, e já estava passando a mão pelo rosto. Mas ele não percebia que ela estava muito nervosa também, que o coração dela corria desesperado e ela se culpava por ter feito o primeiro movimento que mudou pra sempre eles.
Era como se ela pudesse ver, exatamente o momento de ruptura, quando ela entrou naquela sala meses atrás.
— como não ! - ela gritou, depois de acalmou - como não ? Olha pra gente Nicholas, nos não somos mais quem éramos, o Nicholas e Clarisse, nos mal nos falamos, em semanas, estamos perdidos
Ela suspirou e deixou seus ombros caírem, não tinha mais nada a fazer agora ela percebeu.
— não estamos perdido Clarisse, eu só preciso de um tempo, pra entender, pra saber o que fazer - ele disse
— não Nicholas, você não pode fazer isso, você não pode ir embora, não vai embora- as lágrimas caíam agora, e ele sentiu uma dor tão intensa em seu coração por fazer isso com a sua melhor amiga, ou a pessoa que devia ser sua melhor amiga - não me deixa - a voz dela tremeu, e ele não sabia como dizer a ela o que estava em seu coração  - por favor, não faz isso comigo, não você, você não pode me abandonar Nicholas. Por favor não me abandona...
ele não pode encarar ela, e naquele momento ela soube, nada do que dissesse mudaria ele.
— eu não posso ficar - ele disse, mesmo sentindo que isso iria quebrá-la
— você não pode ir! - ela gritou, já sabendo que ele iria de qualquer jeito. Seus olhos queimavam conforme as lágrimas achavam seu caminho
— você vai me abandonar ?
" você me ama Nicholas ?"
Ela sabia a resposta antes mesmo de ter feito as perguntas, mas mesmo assim, tinha um quê de esperava dentro dela.
— sim
Ela assentiu como da outra vez
— depois de tudo ? Você vai mesmo me deixar ? - era uma pergunta retórica de qualquer forma então Ele não respondeu
— você vai voltar no verão ?
Ele podia ouvir a esperança tremer de novo na voz dela
— eu não sei
— então é isso ?
— temo que sim
— acho que você já tinha me abandonado, muito antes de ir embora de qualquer forma.
— rissye por favor
Ela não tinha mais nada, ali ela estava acabada e não falaria mais nada. Ela fez o que pode, agora era com ele.
— boa viagem Nicholas
Então ela saiu, e deixou lá, jogado no chão o resto do seu coração
E ele murmurou " nunca vai ser sem você "
Ele não conseguiu ir embora aquele dia, ela de alguma forma tinha prendido ele naquela maldita cidade, com aquelas malditas pessoas por mais algum tempo. Ele nunca a poderia deixar assim, precisava concertar as coisas antes. Mas como ? Sendo que a única coisa que ela queria, a única coisa que ele sabia que podia consertar as coisas, ele não seria capaz de entregar.
Ele devia isso a ela pelo menos.
E ele nunca se perdoaria por magoá-la.
A verdade mais profunda que ele a amava, mas se negava a ficar com ela.