A Separação

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Os pais do Ricardo eram ambos duas pessoas muito diferentes, que nunca, em momento algum se deveriam ter apaixonado uma pela outra, cujo o rumo acabou sendo diferente. O que acabou por acontecer quando ambos decidiram se separar. E a separação dos dois acabou se sucedendo.

Quando ele tinha apenas dez anos na altura, confesso que foi um tremendo choque para ele, mas não só, pelos vistos também para a sua própria família, que acreditava seguramente que o casamento deles, ou seja dos pais do Ricardo, duraria para sempre, mas infelizmente estavam enganados...

O Ricardo ficou devastado com a notícia, mas sabia que tinha sempre o meu apoio. Depois da separação dos pais, ele fechou se por completo, tanto para os seus amigos mais próximos, como também para mim.

Mas eu não o culpava por ter decidido se afastar de mim. Porque deveria ser duro ver os próprios pais, e todo o amor que ambos sentiam um pelo outro, acabar assim daquela forma. Eu via bastantes mais vezes o pai dele fora de casa, do que propriamente dentro, o trabalho que ele.tinha, também era passado bastante mais tempo fora, nos camiões, onde passava a maior parte do seu tempo a viajar, tanto para norte, como para.sul, ou até mesmo fora do país.

Mas a meu ver penso que para os pais dele, o divórcio já estava decidido à bastante tempo.

Como sabia que o Ricardo naquela altura da sua vida andava mais em baixo, acabei por ir ter com ele, naquelas alturas em que me sentia mais sozinha, e em que precisava de companhia, e nos braços dele conseguia sentir me amada e protegida, como nunca antes me.tinha sentido. Eu apoiava o e ele apoiava me, sempre que necessário, e nunca o deixei ir a baixo.

A minha vida ao lado do Ricardo foi assim como uma bola de neve, que enquanto mais me envolvia nos braços dele, mais tempo queria continuar ao seu lado. Não conseguia separar me dele, por mais que quisesse, por mais duro e difícil era uma vida seu lado. Nunca fui capaz de lhe dizer adeus, nem eu própria seria capaz de lhe fazer algo assim parecido. Porque o Ricardo tinha sido uma pessoa bastante especial para mim. E quando lhe contei parte da minha história de vida, e de ter sido abandonada pelos meus próprios pais, tinha sido sem dúvida alguma uma delas. E ele sendo meu melhor amigo sempre me apoiou.

Independentemente de tudo o que ambos tínhamos passado ao lado um do outro, quer tenham sido momentos bons ou maus, eu nunca o abandonei.

Passámos momentos bons, outros ruins ao lado um do outro. Momentos esses que nunca mais irei esquecer, assim como a primeira vez em que o tinha visto.

Com apenas seis aninhos a jogar à bola, mesmo em frente à minha janela do quarto. E depois desse dia, penso que me apaixonei por ele, porque ao criarmos uma grande e forte amizade, esse sentimento tornou se em algo bastante mais forte. Mas seria que ele sentia o mesmo por mim nessa altura?

Com o passar dos dias fomos nos aproximando cada vez mais um do outro, começámos a sair mais um com o outro, a primeira vez que saímos foi ao cinema, fomos ver o filme Variações. Foi uma boa primeira saída, comemos pipocas, vimos o filme, demos as mãos e aconteceu, o nosso primeiro beijo. Confesso que estava nervosa inicialmente, porque nunca tinha beijado antes ninguém em toda a minha vida, e o Ricardo tinha sido a primeira pessoa que eu tinha beijado. O primeiro beijo aconteceu à saída do cinema, em que permanecíamos os dois em pé ao lado um do outro.

O Ricardo olhou me nos olhos e eu nos olhos dele e de repente aproximamos nos aos poucos. Ele pegou na minha mão e eu na dele, aproximamos os lábios um do outro lentamente, e aconteceu... Ele deu me um beijo quente e suave, o quinto beijo que tínhamos dado. O que me deixou com algumas borboletas na barriga, e de certa forma com alguma vontade de saborear novamente os seus lábios.

Até ao momento em que ele me fez uma pequena mas simples pergunta, mas que de certa forma me deixou sem palavras:

_Porque é que nós nunca nos encontrámos antes?

A resposta era bastante óbvia, mas na altura não lhe soube explicar, porque o verdadeiro motivo tinha sido desde o início o abandono dos meus pais, naquele orfanato feminino e o facto de desde cedo ter sido sempre a mais protegida de lá.

A Rosa nunca me tinha deixado sair antes, por medo. E ser tímida naquela altura também não ajudava muito e em vez de aproximar pessoas, apenas as afastava, o que de certa forma me deixava triste porque não tinha muitas amigas no orfanato, tal como ao longo da minha vida.

Mas ter encontrado o Ricardo naquela altura, trouxe me de certa forma paz e esperança de encontrar assim como de fazer amigos, no meu dia a dia. O que não era de todo fácil.

O Ricardo por outro lado pareceu me ser bastante diferente das outras pessoas com quem eu estava a conviver.
Porque ao lado dele aprendi que a amizade, e a cima de tudo a lealdade estava em primeiro lugar em qualquer tipo de relacionamento.
E para além de se ter tornado num grande amigo, foi também a primeira pessoa a mostrar me sítios incríveis que eu desconhecia por completo.
Nunca antes tinha saído do orfanato, e ter completado dezasseis anos a algumas semanas a trás, trouxe me bastantes surpresas, tal como a inesperada amizade que tinha criado com o Ricardo.

Eu e o Ricardo, adorávamos sair e passear um ao lado do outro, por sítios maravilhosos onde nunca antes tinha estado. Mas havia uma pessoa que não gostava muito da companhia que o Ricardo constantemente me fazia, e essa pessoa era a Maria. E para ela ele era apenas um rapaz rico em busca de diversão ou até mesmo com alguma falta de atenção.
Eu gostando imenso dele, não acreditava muito no que ela me dizia.
Porque nunca em toda a minha vida, me tinha sentido assim tão intensamente enamorada por uma outra pessoa, e sentia aquele sentimento apenas pelo Ricardo.

Mas infelizmente dadas as circunstâncias da vida, ele já não se encontra mais entre nós. Ele partiu devido à guerra. Para proteger o país em que vivia. Antes da sua inesperada partida, ele e eu vivemos algumas aventuras e desventuras juntos, algo que pertence neste preciso momento ao passado, mas é algo que nunca esquecerei. Nunca esquecerei a pessoa única e especial que o Ricardo tinha sido para mim...

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