Orfanato

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O orfanato onde eu e muitas outras raparigas habitávamos, situava se na região de Lisboa, no terreiro do paço, em frente ao rio Tejo. Onde acabei passando a maior parte da minha vida. Até completar os meus dezoito anos de idade.

E apesar de grande e velho, aquele estabelecimento era um excelente lugar, não apenas para aprender durante as aulas da manhã, como ainda para fazer e criar novos laços de amizade, entre as minhas colegas. Raparigas como eu, sem família, sem carinho, sem amor, ou até mesmo sem rumo. Raparigas que adoravam passar a maior parte do tempo falando umas com as outras, ao contrário de mim. Existem muitas maneiras de amar alguém, eu nunca tive a sorte de ter amado ninguém antes, porque fora abandonada aqui neste orfanato, sem nada, nada com que possa me agarrar, e de ter esperança. Os meus próprios pais deixaram me sem nada.

Algumas das raparigas aqui do orfanato, costumavam chamar me de estranha, por não ter muitos amigos, e também por não falar com ninguém. Eu queria muito sair, queria muito estar ao lado do Ricardo, mas a Rosa tinha me proibido, apenas a mim, e eu não sabia o porquê? Estaria ela a proteger me de alguma coisa, de algum mal?

Em vez disso permanecia fechada no meu quarto, a ler livros de aventuras ou de romances, a escrever histórias ou até mesmo a desenhar. A única pessoa com quem às vezes estava era com o Ricardo, mas ele de manhã tinha sempre aulas. Eu gostava de ser igual às outras raparigas, mais faladora, mas em vez disso sou mais calma e calada, com toda a gente. Queria tanto ser como a Maria, ou como a Olivia, mais desinibida...

O que por um lado não era tarefa fácil, visto que eu era uma das raparigas mais caladas do orfanato, devido talvez ao trauma de ter ficado órfã tão cedo. Podia não ser um problema para a maior parte das raparigas que lá viviam, mas para mim era...

O nome dela era Olívia, e ela assim como a Rosa eram ambas as minhas duas melhores amigas, desde que me recordo, de habitar naquele orfanato. Ela tal como eu tinha sido abandonada pelos seus próprios pais, uma dor horrível de suportar tanto para mim, quanto mais para ela. Mas ela devida a esse abandono prematuro, nunca se foi de ir a baixo, e eu própria a admirava bastante por isso.

Eu e ela éramos capazes de falar sobre tudo uma com a outra, tal e qual como eu fazia com a Rosa, mas a Oliva de certa forma era diferente, porque ambas tínhamos praticamente a mesma idade, os mesmos gostos pela leitura, ou até mesmo pela escrita. Imaginação não lhe faltava, nem a ela devo confessar que nem a mim, ambas costumávamos contar histórias ou até mesmo excertos de poesia uma à outra. Por vezes cheguei mesmo a pensar que éramos como se fossemos irmãs.
Duas irmãs separadas à nascença, que se voltaram a reencontrar se neste orfanato. Com muitas outras raparigas da sua idade.
A Olivia era uma rapariga bastante inteligente, e que por vezes se vestia de forma diferente, talvez devido à sua forte personalidade, ou talvez para mostrar que gostava de certa forma liderar. E eu como pensava o contrário, apenas a seguia, fazia o que ela queria, e nada mais.

Até porque de vez em quando gostava de ter o meu próprio espaço, tanto para ler, como para escrever certas coisas, como histórias ou poemas, ou até para lêr qualquer livro, quem sabe.

Aquele orfanato por vezes sufocava me permanecer sempre lá dentro fechada, porque dia após dia, era sempre igual, as mesmas rotinas, e conviver sempre com as mesmas pessoas, sufocava me.
E sair daquele lugar, por vezes parecia que tinha a minha própria liberdade, que estava livre, livre das regras, livre de para ser finalmente feliz e para ter a minha própria liberdade.
Mas ainda faltava imenso tempo para isso acontecer. Para o meu verdadeiro sonho se tornar finalmente realidade.

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