O Orfanato I

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Desde o dia em que nasci, encontrava me a viver neste orfanato, porque os meus verdadeiros pais, pessoas que eu nunca antes tinha visto, ou até mesmo tido a oportunidade de conhecer, me tinham abandonado, ou até mesmo deixado a li, à porta desde vamos lhe chamar de lar. Sem absolutamente nada, sem uma única carta, nem dinheiro, digamos que simplesmente nada... Esses dias, logo após descobrir que tinha sido realmente abandonada naquele lugar, foram sem dúvida alguma momentos de grande magoa, e perda durante os dias que se seguiram dentro daquele orfanato. Eu teria apenas quatro anos, quando descobri essa verdadeira realidade, cometida por parte dos meus próprios pais, que desde esse abandono, nunca me tinham deixado absolutamente nada, nem um postal de natal, nem de aniversário e muito menos na altura da Páscoa, nada eles simplesmente se tinham esquecido por completo de mim... E para além de toda esta magoa, desta enorme tristeza, assim como também da imensa revolta que sentia dentro de mim, eu própria tenho conseguido aguentar e ao mesmo tempo afugentar todos esses meus fantasmas que faziam parte do meu passado, graças a todas as minhas colegas assim como amigas, que me têm apoiado, desde o dia em que eu entrei aqui. E essas meninas, faziam de tudo, todos os possíveis e até mesmo os impossíveis, para eu não me ir à baixo, em circunstância alguma. Esse orfanato ficava localizado no terreiro do paço, em frente ao rio Tejo, e foi nesse mesmo local onde eu própria passeia a maior parte da minha vida, assim como também a maior parte do meu tempo, e apesar de aquele estabelecimento, não parecer realmente um lar, ou até mesmo uma casa, eu conseguia vê lo dessa forma. Apesar de aquele orfanato parecer um pouco velho, era um excelente lugar, não apenas para aprender, algumas matérias escolares, como ainda também para fazer de certo modo amizades. A minha melhor amiga na altura chamava de Maria e ela tal é qual como eu, tinha sido abandonada naquele mesmo orfanato. Desde logo consegui ver, que tanto eu como a Maria tínhamos histórias de vida completamente parecidas... Era duro e ao mesmo tempo difícil para duas pequenas meninas, pensarem, que os seus próprios pais as tinham abandonado naquele lugar, sem absolutamente nada, nem uma boa ou má memória, que podessemos ambas recordar... Assim sendo também se tratava de uma órfã, visto que nunca tinha tido oportunidade para ter conhecido os seus verdadeiros pais, e segundo as palavras da própria, que chegou até mesmo à confessar me, que nem sequer pensava em conhece los. Porque ambos os pais apenas tinham lhe trazido dor e sofrimento para a sua vida. E eu era a única pessoa que ao mesmo tempo conseguia de todo compreendê-la, compreender o que ela própria realmente estava a passar, fechada naquele orfanato, longe de tudo e de todos e completamente fechada para a vida. Mas eu sendo sua amiga, dizia lhe sempre que fosse possível, para ela não pensar muito no passado, porque tinha sido sem dúvida alguma uma das mais tristes páginas da nossa vida. E para antes pensar num futuro brilhante e ao mesmo tempo radioso, numa grande família, onde ela acabaria por ser feliz, como tanto esperava. Eu ao olhar para a Maria, conseguia ver realmente a tamanha dor pela qual a própria tinha passado, porque os seus olhos eram de um castanho bastante profundo, e por vezes triste de se ver, mas ao mesmo tempo sentia me feliz por te la ao meu lado, porque ela via me exatamente como eu era, com todos os meus defeitos e qualidades, e mesmo assim, nunca tinha saído realmente do meu lado, mesmo com todas aquela feridas, que com o passar do tempo se teriam tornado em cicatrizes, ainda por fechar, ela permaneceu a li, limpando todas as minhas próprias lágrimas enquanto que eu limpava as suas também. A Maria a meu ver tinha se tornado sem dúvida alguma, numa grande amiga, porque ela já conhecia por completo a minha verdadeira história de vida, tal e qual como eu conhecia a sua própria história de vida. Assim sendo, como qualquer belíssima história de amizade, também existiam muitas vezes sonhos, sonhos que nós mesmos gostaríamos ou até mesmo que teríamos realizar, e foi precisamente o que aconteceu em seguida, o meu grande sonho, desde cedo, tinha sido sem sombra de dúvidas o bailado, e vir a tornar me numa bailarina famosa, numa grande companhia de bailado clássico, estava de todo nos meus planos, tanto agora no presente, como ainda futuramente. Uma das atividades que existia lá dentro do orfanato, também era ballet. Durante todos os dias da semana, depois das aulas, tanto eu como a Maria costumavamos ir até uma enorme sala, onde costumavamos esperar impacientemente pela professora Bela, de bailado clássico. Essa professora era uma senhora alta e magra, já com os seus trinta e tal anos, e ela adorava ensinar nos a dançar, explicando nos inicialmente todas as primeiras posições. Graças a todas essas atividades curriculares que existia no orfanato, como o balett, a esgrima, o futebol, a natação, o basquetebol, a ginástica, o atletismo tanto eu como a minha amiga Maria, nos conseguíamos distrair, assim como nos abstrair de todo aquele habiente em que éramos todas nós obrigadas a estar assim como a permenecer. Ser órfã não era nada fácil, e sofrer em silêncio, muito menos... E assim sendo graças ao balett, ou a qualquer uma das outras atividades curriculares, eu própria conseguia me abstrair de todos aqueles problemas que me rodeavam, incluindo o ter sido deixada para trás, sem absolutamente nada pelos meus pais biológicos. Quem me ajudou muito para além da Maria, com toda esses problemas pessoais, foi também a Rosa que era a principal responsável por todo aquele estabelecimento, ou seja do orfanato, ela cuidava e tomava muito bem conta de todas nós, sem ela aquele orfanato, em vez de ser um lar de acolhimento, passaria a ser uma completa prisão. A Rosa para mim também era considerada como sendo uma amiga, porque eu costumava contar lhe tudo, desde os meus problemas pessoais, aos meus sonhos futuros e até aos do agora do presente, como o de me vir a tornar numa bailarina eu não estava à procura de fama, apenas de conhecimento e de reconhecimento por parte das pessoas e quem sabe talvez, só talvez dê vir a conhecer os meus verdadeiros pais. Talvez eles me reconhecessem depois, nas revistas ou até mesmo nos jornais da época... Mas vir a tornar me numa bailarina de nível profissional, era um grande sonho para mim, um sonho que eu com o passar do tempo, pretendia mais vir a realizar. Dias foram se tornando em semanas dentro daquele mesmo orfanato, semanas em meses e assim sendo... Uns dias a meu ver, vinham mais depressa do que outros, e com o decorrer de todo esse tempo, eu estava a notar algo de bastante estranho na Maria, porque ela com as aulas de balett estava a tornar se bastante competitiva, até que o balett acabou tornando se numa gigante obsessão para a própria, porque nos encontrávamos ambas a lutar pelo mesmo sonho, o sonho de nos virmos a tornar bailarinas profissionais, mas eu pelo contrário estava a levar mais pelo lado amigável. Até à sua própria obessesão me começar a assustar, porque quase não a reconhecia, ela mal dormia, mal descansava, ela só pensava no balett e em como queria se tornar numa bailarina famosa, o que desde o início tinha sido o meu sonho... Até que certa tarde, lá no orfanato, enquanto eu descia as escadas até à sala de estar, reparei que a própria Maria, tinha aparecido de repente atrás de mim e quando ainda me faltavam uma dúzia de degraus para descer, ela simplesmente me empurrou deles a baixo, sem qualquer aviso, sem qualquer tipo de explicação, deixando me completamente imóvel, sem me conseguir mexer, ao chegar até ao chão, ou seja até ao fim das escadas... A Maria obeservando me a li, sem conseguir mexer um músculo, ela correu o mais rapidamente possível, pedindo ajuda a alguém, gritando apenas:
_ A Bia caiu nas escadas e não se está a mexer, ajudem me!!!!!!! Ajudem me!

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