A vida é realmente uma cadela inusitada, cheia de artimanhas, em um momento você está planejando a realização de um sonho com sua melhor amiga e no outro, está dentro de um avião assumindo a identidade de outra pessoa e se tornando cúmplice de uma possível fuga.
Bufo, enfurecida, sabendo que parte disso tudo é culpa de Pâmela e agora ela está lá, possivelmente cavalgando em alguém que não a merece.
Me remexo no assento e novo meus olhos na direção da mulher que ajudei, a criança que antes dormia em seu colo está acordada e me olha curiosa. Sorrio pra ela, fazendo as típicas caretas que as crianças costumam achar engraçadas.
Funciona, pois a pequena solta uma baixa gargalhada.
A mulher me flagra e eu travo, envergonhada.
- Obrigada. - Sussurra, apertando a filha em seus braços.
Assinto com a cabeça, pensando em mil perguntas para lhe fazer, mas controlo minha língua para não assustá-la.
- Qual o nome dela? - Pergunto, apontando para a pequena em seus braços. A menininha me olha com olhos graúdos, espertos e de um verde escuro como lodo.
- Bella. Minha pequena princesinha. - A voz da mulher soa extremamente carinhosa, as íris de cor marrom fitam a garotinha de forma afetuosa e sinto que ela é uma pessoa boa.
- E o seu? - Pergunto, levando minha atenção total pra ela.
Ela parece ponderar por um momento, olhando-me com receio e provavelmente decidindo se sou ou não de confiança.
- Luma. Meu nome é Luma.
Sorrio, feliz por ela parecer confiar em mim. Retiro meu cinto e avanço em sua direção, apenas alguns passos de onde eu estava e estico minha mão para um aperto.
- Maria Luiza, prazer. - Digo sorrindo, tentando soar amigável.
Ela aperta minha mão e libera um curto sorriso, movendo apenas o canto esquerdo dos lábios em resposta.
Estou para tentar iniciar uma conversa e descobrir algo quando um rapaz, usando um traje parecido com o do piloto arrogante adentra parecendo desesperado. Sua testa está suada e a pele levemente pálida.
- Fiquem calmas. - É a primeira coisa que diz e Luma e eu nos encaramos já assustadas.
- O que aconteceu? - Pergunto em sobressalto, sentindo um pressentimento ruim no peito.
- Nada. - Diz, demonstrando o oposto em suas expressões.
- Você não estaria aqui parecendo que vai desmaiar a qualquer momento e pedindo para que fiquemos calmas se não fosse nada. Pode ir falando. - Bato o pé no chão, levando as mãos ao quadril.
- O Duque falou para não fazer alarde. - O rapaz que no crachá vejo se chamar Júlio fala.
Duque? Esse é o nome do piloto metido a galã.
Quero rir pela sua prepotência, mas a situação não permite e por isso controlo meu deboche. Agora, se intitular Duque é ser muito narcisista.
- E por qual motivo o tal Duque falaria isso? - Pergunto, no entanto a resposta vem direto dele. A voz rouca sai arrastada pelos fones da aeronave e meu corpo corresponde de forma involuntário ao som dela.
Ele pede para que continuemos sentadas, falando em um tom firme e sério. Parecendo realmente preocupado com algo e isso liga um alerta em minha cabeça, obedecendo suas indicações volta para minha cadeira.
- Apertem os cintos. - Júlio fala antes de sair apressado de volta para a cabine.
Olho para Luma para tentar tranquilizá-la, mas seus olhos já estão lacrimejando enquanto encara a filha.
- Tudo bem, será apenas uma turbulência simples.
Ela assente, tirando a menina dos seus braços e lindo ao seu lado em um assento, apertando o quanto pode o cinto da pequena.
Algum tempo se passa e quando acho que mais nava vai acontecer, somos acometidos por uma turbulência. Nós gritamos pelo susto, ouço o chorinho de Bella e meu coração dói quando olho para a pequena, o rosto vermelho e a carinha virada na direção da mãe.
O avião vai voltando aos poucos a se normalizar, acalmando meu coração. No entanto, minha respiração ainda está alterada e quero vomitar. Corro para o banheiro assim que paramos completamente de chacoalhar.
Coloco todo o café da manhã pra fora, sentindo meu estômago queimar pela ação. Esfrego minha barriga em movimentos repetitivos, pra cima e pra baixo até me sentir melhor. Sento sobre o vaso sanitário para uma recuperação, puxando grandes lufadas de ar até me sentir apta para levantar.
Seguro na pequena pia para me apoiar, abro a torneira e lavo o rosto. A água fria traz uma sensação reconfortante e me sinto melhor.
Deixo o banheiro, fechando a porta e caminho de volta para minha poltrona. Amarro meus cabelos em um coque e vejo Luma dando-me olhares preocupados de seu lugar, sorrio para mostrar que estou bem e não há motivos para alardes.
O avião volta a balançar antes que eu chegue na minha poltrona, dessa vez mais forte e me joga no primeiro assento próximo, apertando o cinto em minha volta. O barulho de objetos caindo ao chão e nossos gritos comprometem minha audição e não tenho certeza se o tal Duque está falando alguma coisa pelo microfone ou se é só fruto da minha imaginação. Fecho os olhos, tentando amenizar a sensação ruim que me está me invadindo.
- Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem... Vai ficar tudo bem... - Começo a repetir, rogando à Deus para que fique tudo bem.
No fundo posso Ouvir com clareza o choro de Bella, muito mais audível e estridente do que da última vez. Ela está assustada e com razão.
Aperto meus dedos contra a minha calça tão forte que posso sentir minhas unhas querendo rasgar o tecido.
Estou com medo. Começo a pensar na última conversa que tive com meu pai e as coisas terríveis que disse para ele, no meu egoísmo de achar que sempre tenho razão e teria chance de pedir desculpas saí de casa brigada com ele, sem nem ao menos ter a chance de dizer o quanto o amo e admiro.
Sinto que estamos perdendo altitude pelo frio na minha barriga, é a mesma sensação de se estar em um montanha russa. Aperto com mais força meus olhos, me negando a abrir e encarar o rosto da mulher e sua filhinha, imaginando já o fim que dei à elas quando as embarquei nesse vôo.
Elas eram minhas responsabilidades. Minhas.
Ouço o barulho de explosão e tenho a certeza que o avião está caindo pela pressão que meu corpo passou a sofrer.
Meu corpo é jogado de forma brusca pra frente, mas o cinto impede que eu saia do lugar.
O avião parece pegar mais velocidade e tudo que eu escuto pelos próximos segundos são os meus gritos, de Luma e Bella. Uma forte explosão e um estrondo alto de algo se partindo, mas de repente os sons passam a se dissipar e tudo que fica é o silêncio.
VOTE. VOTE. VOTE. VOTE. VOTE
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Declínio - Série Irresistível. ( CONCLUÍDO- HINOVEL) ✓
Romance[SEM REVISÃO] Obs: Para maiores de 18+. Ele estava fazendo um favor para o melhor amigo, afinal, ele amava estar entre as nuvens e voar sob as águas do mediterrâneo era como andar de bicicleta para o duque da aviação, já havia feito aquele trajeto t...