Os pés do centro de mesa são feitos de uma madeira escura, brilhante embaixo das luzes das velas cercando toda sala. Mesmo o ambiente sendo inquietantemente grande, ideal para um baile em tempos distantes, as luzes iluminam cada canto remoto. Após todos esses dia nunca tinha parado para observar a sala por completo e percebo tardiamente o excelente exercício de acompanhar o tremular das velas refletindo na madeira polida. Meu peito sobe e desce de forma cadenciada, acompanhando o controle necessário para normalizar a minha respiração, meus pulmões tenta expulsar o cheiro forte de madeira e terra molhada da colônia usada por Aurélio.Suas palavras do início desta noite assombram minha mente. Ainda consigo ver o olhar assustado de mamãe em escutar parte da história de Carolina e Aurélio, sobretudo em relação a gravidez. Seu rosto não conseguia disfarçar o temor em perder o casamento tão bem construído para mim, papai também ficou mais duvidoso em confiar no noivo com passado conturbado, Lúcia apenas agiu como se não soubesse de nada, sempre olhando para Aurélio. No entanto, ao passo das palavras tranquilas dele e a confirmação do noivado, meus pais ficaram menos preocupados com a intervenção do passado no enlace. Assim como o jantar na fazenda, passei toda a noite em silêncio e arredia.
— Francisca, adoraria escutar a sua voz. — fecho os olhos ao escutar suas palavras, estamos sentados nas extremidades do sofá, distante dos ouvidos de papai e mamãe, mas próximos ao seus olhos, Lúcia tão pouco está longe. — sabemos do desconforto com toda essa situação, percebi enquanto conversava com seus pais a pouco, você parece ser o tipo de pessoa que teve temer quando calada. — abro finalmente os olhos e viro meu rosto em sua direção. O rosto de Aurélio continua sério e cauteloso, seus gestos desde o momento em que chegou para o jantar foram iguais a de um gato, leves e atentos, usando palavras cuidadosas em explicar o surgimento de Carolina e nossa relação a parti de hoje.
— Estou pensando em como ser os próximos anos, na verdade, estou incomodada com sua presença e tenho total ciência que tais palavras podem machucar, mas não posso mentir. — sussurro, minha voz soa baixa não por medo dos outros ouvirem, estamos na primeira sala e meus pais e Lúcia na outra, sussurro pelo cansaço dos nervos e a constatação do casamento. — no momento que entrar naquela igreja estarei pensando nessa mulher, em mim e estarei sentindo repulsa. — faço uma segunda pausa, pois as palavras rasgam minha garganta como vidro cortado. — Você queria bons argumentos para desmanchar o noivado e apresentei os meus melhores, nenhum deles foram bons para você, depois apareceu ela e a criança. Não consigo pensar em mais nada para acabar com tudo isso, nenhum argumento é bom suficiente. — paro de olhar para ele e volto a encarar a mesa de centro.
— Carolina irá morar em São Paulo, ela preferiu. — informa, ainda muito cuidadoso, para minha surpresa Aurélio inclina seu corpo em minha direção o suficiente para pegar minha mão esquerda pousada no colo, rapidamente olho para o gesto, arfando ao sentir seus dedos gelados tocando a pedra do anel de noivado, — sou o mesmo homem a quem conheceu naquela sanga, nós jantaremos ou nas cartas e sabe disso. Carolina terá uma bela casa aqui na capital, excelente para uma criança crescer e desenvolver de forma saudável, assim como ele terá acesso a melhor educação possível e meu apoio, também estou planejando dar uma boa pensão para ambos, principalmente agora que ela está sem as apresentações. — Aurélio faz uma pausa, seus dedos começam a mexer na pedra o suficiente para sentir o metal na minha pele — ela está informada de nosso noivado, inclusive enviou felicitações para nós dois. Amanhã estarei conversando pessoalmente com Carolina sobre tudo que precisa para os próximos meses. — após sair do meu pequeno estado de inércia, puxo minha mão do seu toque.
— Essas palavras e ações ainda não são suficientes para mudar o que sinto, — minha voz soa cansada, Aurélio tenta sorrir mas seus lábios ficam apenas em uma linha reta, sua mão continua no mesmo lugar, inconvenientemente pousada na saia do vestido — esse casamento é muito maior que eu, acredito que seja difícil está casando com alguém que demonstra não querer o mesmo, interpretando ser egoísta...
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Amor entre Conveniência
Ficção HistóricaBrasil, 1892. Francisca Lopes de Castro, filha de um grande produtor de café paulista, acredita fielmente que morrerá solteira. Tendo em vista que, todas as moças da região são casadas, a reclusão na fazenda também reafirma seu argumento, no entanto...