A luz atravessa as cortinas com intensidade, banhando todos os cantos do quarto e mostrando com exatidão os lugares onde as peças de roupas foram parar. Não encaro Aurélio, apenas concentro minha atenção nos movimentos do seu corpo próximo ao meu. O peito subindo e descendo, seus dedos deslizando em meus ombros, seus pés enroscados aos meus, a respiração leve tocando o meu couro cabeludo. Seu calor é gentil, suave e contém boas lembranças. Meus dedos continuam contornando seu peito com letargia, levo as pontas dos dedos por linhas imaginárias, apreciando seus suspiros de reação quando toco na região do diafragma e costelas. Sorrio para mim mesma, em seguida mudo a posição do rosto para observá-lo.Aurélio também me observa, com seus cabelos desgrenhados e a sombra fina de barba destacada pela luminosidade. Sua respiração ainda está próxima ao meu rosto, trazendo uma doce lembrança, dos toques precisos e suaves, dos beijos cálidos e os olhares. Agora, o tom do verde está suave e límpido, mas eles estavam escuros. Aurélio deixou vê-lo em toda intensidade. Não foi apenas sua pele a ficar nua, suas emoções também estavam e ele permitiu ver todas. A paixão e luxúria, carinho e devoção. Ele sorri, levando sua mão do ombro para a nuca, fazendo uma leve massagem no lugar. Mesmo tendo passado alguns minutos, meu corpo ainda reage a quentura das carícias, nossos ruídos contidos ecoam no ambiente e cada pedaço de pele suada reflete as ondas de prazer misturado ao desconforto pertinente.
— Rosa Mística. — Aurélio sussurra, sua voz continua arrastada e preguiçosa. Rio baixinho voltando a encostar minha cabeça na curva do seu pescoço, aproveito a posição para observar meus dedos deslizar da região das costelas e parar no umbigo. A palma da mão toca na barra do lençol, fazendo Aurélio se remexer.
— A Rosa Mística está muito distante. — falo segundos depois. Testando meus próprios limites, passo a fazer pequenos movimentos de vai e vem no pedaço de pele próximo ao limite do lençol branco. A respiração de Aurélio fica mais pesada, mexo seu corpo e encosto toda a extensão de pele na dele. É perturbador ver suas reações aos meus toques e movimentos, trás a sensação de troca mútua. Aurélio move o corpo outra vez, levando sua mão até a minha, a afastando. No mesmo segundo, ergo meu olhar travesso para observá-lo.
— Não, está quente em lugares estratégicos. — Aurélio anuncia, levando minha mão até seu peito, deixando-a quieta no lugar. Aperto os olhos e mudo minha posição, pairando sobre ele de forma parcial, meus cabelos caem em cascata em volta de ambos. Suas mãos não me tocam, mas seu olhar é suficiente nesse momento, — Rosa Mística. — ele repete, afastando meus cabelos da melhor forma, — mais cedo, quando estava em pé no sofá, parecia a Beatriz quando chegou na Rosa Mística. Luz em volta o suficiente para cegar qualquer mortal, para minha felicidade, não fiquei cego e ainda pude lhe tocar. — sorrio igual uma tola, e ele repete o gesto. Permaneço lhe encarando quando beijo seu peito e sigo para o ombro, subindo para a área abaixo da orelha esquerda.
— É um elogio divino. — afirmo ao pé do ouvido, Aurélio ri baixinho em resposta ao trocadilho. Continuo dando pequenos beijinhos em sua face enquanto a ponta dos seus dedos deslizam na lateral do meu corpo, ultrapassando com destreza os lugares com lençol. Apoio o corpo com uma mão e a outra uso para segurar o cobertor na frente do peito. Aurélio baixa o olhar para observar minha movimentação, ao mesmo tempo move meu corpo na direção das suas pernas, causando um atrito prazeroso nas cobertas. Sem falar nada, ele ergue todo o corpo até ficar sentado. Meu gritinho é contido pelos seus lábios, deixo meu corpo ser conduzido pelos seus toques até ficar sentada em seu colo. Suas mãos fazem pequenas massagens nos quadris e coxas, mas nenhum toque ameniza a dorzinha no centro.
— Desconfortável? — Aurélio questiona rente aos meus lábios. Abro os olhos com lentidão, cadenciando a respiração numa tentativa de controlar o desconforto entre as pernas. Não o encaro, apenas olho para baixo afastando os quadris alguns centímetros do lençol, vendo uma pequena mancha de sangue. Gemo frustrada, a úmida estava guardada na outra posição. Volto a encostar o corpo no mesmo lugar, apertando o lençol na frente do busto, — Francisca? — Aurélio chama baixinho, em seguida aproxima seu rosto do meu ombro e o beija.
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Amor entre Conveniência
Historical FictionBrasil, 1892. Francisca Lopes de Castro, filha de um grande produtor de café paulista, acredita fielmente que morrerá solteira. Tendo em vista que, todas as moças da região são casadas, a reclusão na fazenda também reafirma seu argumento, no entanto...